
A minha riqueza vem-me
das pessoas que gostam de mim
as estórias que ofereço à vossa imaginação
Tinha caracois e um laço no cabelo, que era escuro e comprido.
Em pequenina até lhe chamavam a menina dos caracois.
Procurava debaixo da cama, numa caixa onde guardava montes de fotografias, aquela onde, bem pequenina, ao colo do tio Abel, se passeavam ao longo da pérgola da Foz, junto à praia do Molhe.
E à medida que ia separando umas e outras ia recordando lugares e pessoas.
Ali estavam tios e tias e ela, bébé, ao colo de sua mãe, no terraço da quinta dos tios em Oliveira do Douro. As fotos sua e seu irmão quando fizeram a 1ª comunhão na Igreja do Bonfim e vestidos com fatos de marujo numa ida ao Monte da Virgem. Eram fotos a preto e branco, mas que ainda tinham côr na sua memória.
Agora na rua do Sol, a caminho da Escola Comercial, com colegas de que perderia o rasto mais tarde. Ali estavam a Olga, a Candida e a Natália, fixara os nomes, dos rostos já se não lembrava.
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Como tudo estava agora tão distante!
De vez enquando dava consigo a pensar perguntar à mãe sobre isto ou aquilo, quando se dava conta que a mãe já lá não estava para lhe responder...nem o pai nem o irmão...e então era como se um cordão umbilical se tivesse rompido.
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Suspirou fundo, arrumou as fotos e foi para o computador mandar uns mails para os amigos a desejar um Bom 2005.
Aqui, como podem ver, eu não era “filha da mãe”, era só filha de pai.
É o meu diploma da 4ª classe, o selo é de 5$00, o que para a época, 1943, me parece uma exorbitância.
Afinal fiz mal as contas, uma vez mais, devo ter entrado para a escola ainda com 6 anos.
Andava já na Escola Comercial quando acabou a 2ª Grande Guerra.
Era a Escola Comercial Oliveira Martins, na Rua do Sol, rapazes dum lado, raparigas do outro. Do fundo do recreio via-se o Rio Douro e a margem de V. N: de Gaia.
Já quase a terminar o 3º ano, depois das aulas, ia para o Portuense Rádio Clube dar o meu passo de dança, que sempre gostei de bailar, afinal de contas era só uma passadinha a caminho de casa.
Era chefe de castelo na mocidade portuguesa, 20 a voz de comando, chamada mais tarde de contralto da turma pelo professor, ao enunciar os artigos do código civil e comercial.
No Instituto Comercial ainda comecei a aprender alemão, mas finda a guerra, com a derrota da Alemanha, a cadeira findou e hoje apenas sei contar até cinco e pouco mais.
Mas foi antes de ter o meu primeiro namorado que me fizeram uma serenata…sim uma serenata das autenticas; já vivíamos em S.to Ildefonso e eu só assomei à janela por breves instantes a agradecer, mas o namoro foi mais tarde com um colega do Instituto, que tocava piano e que compôs uma melodia para mim, por sinal muito bonita.
Com os meus pais separados e divorciados mais tarde, era com a minha mãe que a gente aprendia a vida, as normas, as boas maneiras e o que “parecia mal” pois não se esqueçam que estamos no Porto, em meados dos anos 40.
Em 1953 deixei o Instituto para vir para casa fazer o enxoval. O que me ensinaram até aí foi o princípio do que tenho aprendido até hoje e a vontade de continuar a aprender.
( versão 2004 de um escrito antigo )