16.12.04

O Metro


O Metro
Originally uploaded by kuskas.
Aconteceu que tendo ido à procura de umas fotos deparei com o "metro" em madeira com que na nossa loja se mediam panos e fitas, e para completar a" fotografia" fui procurar uma peça de pano daquele tempo e completo o conjunto, fotografia feita, aqui inserida como deve ser, apenas me resta falar um pouco sobre o mesmo.
Era obrigatório naquela altura o "metro" ter que ser aferido todos os anos por uma entidade, não sei qual e onde era gravada uma letra por cada ano. Ora eu conto nada menos que 38 letras, 38 anos, a que se juntarmos os anos de inacção, a partir mais ou menos de 1948, ano em que minha mãe terá fechado a loja, podemos deduzir que este utensílio terá à volta de 95 anos.
Ele também fez a guerra, trabalhando. Muitos metros de riscado, chita, pano-cru, tafetás, flanelas, cambraias e passa manarias terão sido medidos por este pedaço de madeira que é quase peça de museu.
A loja, por que à porta estávamos sentados muitas vezes, foi o meio que nos permitiu ser não miúdos de rua mas termos uma visão dela diferente dos outros miúdos. Conhecí­amos os vizinhos, até porque íamos a casa deles receber as quotas de cartões que a minha mãe emitia e de que fazia sorteio todas as semanas e foi por esse motivo que uma vez vimos na loja dos curtumes nada mais nada menos que o nosso gato, o "chaninho", desaparecido há já um tempo para nosso desgosto. Ora o que havia a fazer foi feito, e o "chaninho" foi "roubado" e trazido ao colo de um de nós, escondido debaixo da camisola, quero crer.
Mais tarde alguém o envenenou, que maldade!, mas o bichinho esperou pelo meu pai, que tinha feito piquete nos bombeiros, e só regressou de manhã. Morreu em cima do balcão da loja pouco depois do meu pai chegar.
Visto à distancia de 60 anos o nosso mundo era pequeno, era aquele pedaço de rua que ia da escola, ao fundo, até à Igreja do Bonfim lá no alto, mas que não nos era permitido percorrer sem acompanhamento devido de um adulto, grande era a distancia para uma criança que só gostaria que fosse maior para poder andar de eléctrico!

2 comentários:

Anónimo disse...

Que giro, Theo, lembro-me bem do metro de madeira!!_beijo, IO.

Anónimo disse...

Lembrei-me do filme que não me canso de ver, Aniki-Bobo, e estou a ver-te com o vestidinho muito curto e o cabelo aos cachos em frente á loja dos teus pais. Muito Lindo TH. Beijinhos. Elsa.