29.9.05

O Despertar

abraçoEm menina nunca brincara aos “médicos e enfermeiros”.
Do seu corpo pouco conhecia, na sua inocência, apenas que era diferente do irmão, em pequena coisa…
Nas suas brincadeiras costumava vesti-lo de menina, a que ele obedecia, docemente.
Estranhava que com um seu primo sentisse de forma diferente, chegava ás vezes a ficar envergonhada, só de o olhar. Eram estes os rapazes com quem se relacionava, já que nas escolas desse tempo as aulas e recreios eram separados por sexos.
Teve os seus admiradores, bilhetinhos trocados ás escondidas, risinhos abafados.
Tudo no interior era ainda muito comedido, com rituais precisos, os tempos demorados.
O primeiro namoro foi pois uma coisa séria, embora sem beijos ou carícias, havia ali uma qualquer intimidade indescritível. O gesto mais ousado era um tocar de mãos.
Ele frequentava um curso de piano e compôs uma peça, que lhe dedicou e ela guardou como se fosse um anel de noivado.
As novenas no mês de Nossa Senhora eram pretexto para uns furtivos encontros, namoro ao Domingo nem pensar, que esse era o dia das sopeiras e magalas, menina que se prezasse só saia ao Domingo para a missa e visitas com os pais.
Pelas festas do Padroeiro da vila já o namoro tinha o tempo suficiente para a acompanhar aos festejos, família atrás.
Na noite de fogo de artificio, porque os lugares eram poucos e espaçados, ficaram longe dos demais e a propósito da aragem fresca que soprava enlaçou-a pelos ombros e passou-lhe outro braço pela cintura. Ela sentia-lhe a respiração e a proximidade começava a ruboriza-la.
Num dado momento em que vários foguetes fizeram estremecer o ar, ele a apertou a si e lhe beijou o pescoço, a orelha, os cabelos…e foi nesse preciso instante que ela sentiu o seu ventre, a sua pélvis em fogo, o despertar da sua sexualidade.
Foi já quando a todo aquele deslumbramento de girândolas de cor e luz que se sucedeu a paz e o conhecimento, que ambos se deram as mãos numa aceitação dos seus corpos.
Ainda hoje o caminho para os seus orgasmos começa com um simples beijo, simples mas envolvente, como um amor que é sussurrado no calor da entrega.

26.9.05

Do Menino de Olhos Doces


Tinha os olhos meigos, sofredores,
de quem, em pequeno, tinha passado fome e chorado muito.
Olhava-nos como aquele que pede pão e não tem a certeza se vai poder come-lo, antes que um bofetão lhe rebente a cara e o ponha a sangrar pelo nariz.
O sorriso era lindo, igual ao daqueles que mesmo no meio de toda a desgraça ainda conseguem apreciar um passarinho no seu chilreio, uma borboleta esvoaçando à volta de um tufo de flores.
Nunca se habituou a ter mais do que precisava e andava teimosamente de mãos nos bolsos com medo de as estender, a pedir esmola.
Era dolorosamente humilde, sofredoramente amigável e vivia só!
Fora casado na condição de subalterno de uma mulher que por baixo de alguns pelos de bigode se apertavam uns lábios finos que o azedume moldara.
A sua honestidade, dedicação e sacrifício nunca foram reconhecidos na firma onde trabalhava desde miúdo, emprego arranjado pelos pais para ajudar às despesas da casa, logo que a custo fez a 4ª classe.
O menino triste cresceu nos braços dum tempo marcado pela urgência de sair duma infância pobre e sem esperança.
A timidez era a roupagem que escondia o seu medo da vergonha; ninguém lhe conhecia a alma e no amar era poupado, com medo de perder o pouco que lhe restava da sua parca dignidade.
Com o avançar da idade chegou o sossego, os dias tranquilos, os passeios pelos jardins.
Dava de comer aos pombos, pequenas migalhas que levava de casa e conversava com aqueles que dele se aproximavam, talvez numa tentativa de quebrar a sua própria solidão.
Gozava assim do tempo da sua escassa reforma.
Os olhos, esses, continuavam tristes, meigos e denotando um certo sofrimento, sofrimento ainda pela vida não vivida, pelo amargo do que tinha sido a sua.
…………………………………………………..

Chegada aqui gostaria de falar deste menino-homem com uma recompensa para lhe dar nas minhas mãos, que escrevem a sua estória, mas não posso.
Amigo meu ainda sugeriu que talvez ele se revoltasse e se transformasse num bombista, ou algo parecido.
Não é assim que eu o vejo, não é assim que eu o sinto.
Ele será para sempre o menino de olhar meigo e triste, que envelheceu no corpo dum homem bom e sem maldade.
Porque estou triste, muito triste hoje, só posso terminar esta história duma única maneira, do modo como a sinto…
Fecharam-se os olhos doces e tristes deste homem, suavemente morreu esta madrugada, numa cama de hospital, envergonhado.
Ninguém o chorará, apenas EU…

23.9.05

A Campainha!

flohy-telekommunikation-gelb-schwarzTinha o táxi à espera, as malas prontas, tudo à mão para a viagem.
Descia as escadas quando o telefone tocou. Parou por um instante para se certificar se era o telefone do seu apartamento. Nunca chegou a saber pois portas houve que bateram com força tal que todo o prédio tremeu, gritos vindos de um dos andares de cima abafaram o som da campainha do telefone que entretanto emudeceu.
Já perto da porta da entrada o mesmo toque, lá em cima, dum telefone que chamava por alguém, desesperadamente…
Tinha o táxi à espera, as malas eram pesadas e tinha pressa. Colocada a mala grande no porta-bagagens e a mais pequena a seu lado e ainda antes de entrar no carro foi ao átrio…o telefone continuava a lançar chamamentos lancinantes de quem me acode! Hesitou por um instante, pediu ao motorista que esperasse e começou a subir as escadas apressadamente, quando chegou à porta é que deu conta que deixara as chaves na mala pequena. O telefone, entretanto amuado, desistira…era o seu, tinha quase a certeza.
Bem, nada a fazer, entrou no táxi que arrancou apressado para o terminal dos autocarros. O motorista era seu conhecido e ajudou-a a colocar as malas nos sítios, a mais pequena iria consigo pois tinha lá documentos que convinha trabalhar durante a viagem. Foi quando tentou ligar para o hotel onde ficaria, a confirmar, que não encontrou o telemóvel nem a bolsa pequena onde estavam todos os documentos, passagens, etc.
Correu para a saída e por sorte o motorista ainda lá estava a meter uns emigrantes que acabavam de chegar.
Graças ao seu poder persuasivo lá conseguiu convencer todos da sua urgência, que o era de verdade, faltavam 45 minutos para o embarque.
Como fora possível, ela que era tão cuidadosa com estas coisas…tinha sido o telefone, o raio da campainha que não cessava de tocar na sua cabeça!
As chaves! Não esquecer as chaves, as malas ficavam à guarda da companhia de viagens para o caso de se atrasar e ficar em terra.
O trânsito começava a estar compacto e pareceu que jamais chegariam a tempo, mas não, apenas tinham passado uns dez minutos quando transpões a porta da rua. Tinha que subir as escadas novamente, o elevador estava avariado há já dois dias.
O telefone tocava, desta vez não tinha dúvidas… as chaves caíram com a atrapalhação e quando finalmente entrou em casa, as luzes desligadas, tropeçou e caiu, batendo com a cabeça na esquina da mesinha de entrada onde o telefone continuava a tocar…
Quando, estranhando a demora, o motorista subiu as escadas e foi ver o que se passava, encontrou-a desmaiada e depois de várias tentativas para a despertar resolveu chamar uma ambulância, pois lhe pareceu que o caso era sério.
Quando acordou, no hospital, não se lembrava de nada. Foi só mais tarde, dois dias depois, que ao chegar a casa e ao ouvir o telefone tocar se apercebeu de tudo o que tinha acontecido.
Sentou-se no sofá à espera, já era noite quando a campainha a acordou, esticou o braço e pegou no telefone. Estranhamente a campainha continuava a tocar…ah! Era a campainha da porta, uma vizinha que vinha saber da sua saúde. Mal acordada tinha feito aquela tremenda confusão.
Foi só no dia seguinte que o telefone tocou, perto das 8,30h da noite, estava a ouvir o noticiário, mas quando lá chegou tinham desligado.
Recuperada da queda, precisava de organizar a sua viagem, aquela que tinha sido interrompida pelo toque da campainha; eram negócios que não podiam esperar mais.
Desta vez desceu de elevador, entretanto consertado, mas mal…ficou presa entre o 3º e o 2º andares, donde podia, distintamente, ouvir a campainha do telefone…

(lol…pode acontecer a qualquer um)

22.9.05

cleo no kanito!

upps!!! virei os "bonecos" no monitor...

A vida já não me espanta!
mas ainda me fascinam imagens como esta...


-para melhor entenderem a imagem, devo dizer que a minha gata cleo tem ciúmes do portátil kanito, daí que se "alapou" em cima dele, e enquanto fui buscar a máq. fotográfica não sei o que "tc..." que fez com que o que estava a ser visto no monitor virasse 90º, e quando a quiz tirar de lá ainda me "gritou". Claro que tive de fazer restauro do sistema para a imagem voltar ao sítio...

Como as cerejas

Os blogs são como as cerejas, daí que depois da minha volta diária pelo agualisa3, passei, pela mão do JT, para
coisas de África, donde tirei este excelente Poema:

MÃE NEGRA







A mãe negra embala o filho.
Canta a remota canção
Que seus avós já cantavam
Em noites sem madrugada.
Canta, canta para o céu
Tão estrelado e festivo.
É para o céu que ela canta,
Que o céu
Às vezes também é negro.
No céu
Tão estrelado e festivo
Não há branco, não há preto,
Não há vermelho e amarelo.
- Todos são anjos e santos
Guardados por mãos divinas.
A mãe negra não tem casa
Nem carinhos de ninguém...
A mãe negra é triste, triste,
E tem um filho nos braços...
Mas olha o céu estrelado
E de repente sorri.
Parece-lhe que cada estrela
É uma mão acenando
Com simpatia e saudade...

Aguinaldo Fonseca in Primeiro Livro de Poesia
(selecção de Sophia de Mello Breyner Andresen)

19.9.05

Desabafo!










Foram-se os aneis, ficaram os dedos!
Foi-se também a confiança...
Não se fica mais pobre, fica-se mais triste!

15.9.05

Uma história de Moçambique


Acabo de ler no Correio da Manhã esta história que me comoveu muito e que gostaria que vcs lessem:

2005-09-11 - 00:00:00

Mascote ilegal Fora da lei

João Sabadino Portugal nasceu em 1962. O dia e o mês ninguém sabe. Nem o nome original. Aos cinco anos roubaram-lhe o colo materno. Dois anos depois veio para Portugal com um grupo de Fuzileiros de quem era mascote. Anos mais tarde descobriu que estava ilegal.

MOÇAMBIQUE, JUNHO DE 1967

Um Destacamento de Fuzileiros Especiais portugueses veste o camuflado e arranca para a primeira operação na zona de Mocimboa da Praia, Cabo Delgado. Devidamente artilhados, os soldados entranham-se mato adentro à procura de presença inimiga. Alguns passos adiante deparam-se com um grupo de mulheres indígenas. Seguem-lhes o rasto, discretamente, até à aldeia mais próxima. Logo que se apercebem da chegada de militares, os locais começam a fugir, apavorados. Procuram por um abrigo, arranjam uma forma de escapar à chacina. Enquanto isso, um dos fuzileiros tenta impedir a sua fuga com disparos contínuos e ensurdecedores de metralhadora. Findo o carregador faz-se silêncio, e um manto de capim ruma ao céu, deixando a descoberto uma aldeia sem vivalma. Deserta. Por instantes, pensou-se que todos estivessem mortos. Puro engano. Um buraco estrategicamente cavado na terra serviu-lhes de escudo. Escapam à morte, mas não de serem capturados e, posteriormente, entregues ao cuidado dos serviços competentes, em Porto Amélia (Pemba). Durante o regresso, os militares aproveitam uma curta paragem para se refrescarem no mar. Os indígenas, que nunca tinham vislumbrado tamanha imensidão de água ficam perplexos. Eufóricos. Durante breves momentos a aflição cede lugar à descompressão. A uma felicidade que parece não ter fim. O brilho espelhado no olhar de uma das crianças, que corre despreocupadamente pelo areal, desperta a atenção do grupo de fuzileiros. E como naquela época era comum os Destacamentos terem uma mascote, um dos militares , por impulso, coloca a hipótese de o adoptar. Assim foi.

( ler a continuação no Jornal Correio da Manhã)

No final, o pedido de ajuda:

E-MAIL PARA A TV DE NAMPULA
Data: Quinta-feira, 30 de Junho de 2005
Para: tvmnampula@teledata.mz
Assunto: PROCURA-SE FAMILIARES
Ex.mos Senhores,Peço a vossa ajuda com o objectivo de João Sabadino Portugal, hoje com 43 anos, saber se tem família em Moçambique. Em 1968, foi adoptado por uma unidade militar portuguesa, que o trouxe para Portugal em Junho de 1969. Até ao momento, desconhecia a possibilidade de existência de familiares, devido a informações deturpadas que lhe foram transmitidas. Agora, foi confrontado com fotografias que lhe foram mostradas por um antigo militar da unidade. A sua família vivia na zona de Mocimboa da Praia e pensa-se que mais tarde se deslocaram para Porto Amélia.Agradecendo a atenção dispensada para esta acção humanitária, apresento os meus melhores cumprimentos, João Serra.

MOÇAMBIQUE - DATAS COM HISTÓRIA
- 25 de Setembro de 64 Início, em Mueda, da luta de libertação nacional.
- 25 de Abril de 74 golpe militar em Portugal abre caminho para a independência do território.
- 25 de Junho de 75 é proclamada a independência. Samora Machel torna-se no primeiro presidente do país.

Se tiver informações que possam ajudar este cidadão contacte:
João Serra, antigo fuzileiro Telemóvel: 93 51 00 952
E-mail: joaoserra@iol.pt

12.9.05

Desabafos...





Hoje vi um senhor a falar na televisão, e enquanto falava uma mosca aproximou-se, pelo lado esquerdo, dos seus lábios, acabando por entrar na boca. Decerto o Sr., que falava sobre a abertura das aulas, não estava a dizer asneiras senão a mosca não tinha entrado...visto que "ou entra mosca ou sai asneira, e a mosca entrou, que eu vi...".

Positivamente o Homem gosta de destruir, destrói Torres, Muros, Mesquitas, Estátuas, Homens...implode, explode, explode-se...já sem falar em florestas, prédios e transportes...E eu estou aqui a explodir de raiva!


Os meninos agora vão desde tenra idade aprender inglês, eu acho muito boa ideia, mas enquanto isso alguns professores deveriam ir aprender português...


11.9.05

Quando fui à Bruxa...





Jaime saiu daquele 2º andar apressadamente e vinha a sorrir!
Eu esperava-o cá em baixo, na praça, na expectativa de saber o resultado da consulta e da opinião que fazia daquela que convencionamos chamar de Bruxa.
Abraçou-se a mim e só dizia: tens que lá ir, tens que lá ir.
Eu ri também, sem saber de quê ou porquê e, convencida, depois duma curta troca de impressões lá atravessei a praça, empurrei a velha porta, que rangeu, e entrei, habituando os olhos à semi obscuridade e comecei a subir as escadas.
O prédio era velho, as escadas íngremes, mesmo com apenas cinquenta anos cheguei lá a cima esbaforida, com os bofes de fora…
Quem me abriu a porta foi uma rapariguinha de tranças, de vestidinho azul com bordado inglês na gola e punhos. Devia ter os seus 11 anos bem-educados. Disse Boa Tarde e mandou-me entrar para uma sala onde dois sofás velhos apoiavam a espera dos mais cansados.
Nas paredes reproduções de quadros, diria, esotéricos a lembrar o Purgatório!
Dei o nome e “sim senhora (?) era a primeira vez que lá ia”…
Quando por fim fui chamada à presença de Sua Sapiência, a Sr.ª Bruxa, constatei, com espanto, que se tratava de um Bruxo! E pasmem…gay!
E tão efeminado que me fez logo lembrar “A gaiola das loucas”. Com voz nervosa e mãos esvoaçantes mandou-me entrar para o que deveríamos chamar de gabinete de trabalho, mas mais não era do que um conjunto de papéis em cima duma secretária, a que, por certo, uma lufada de vento ou uma consulta apressada tinha posto em desordem.
Depois das trivialidades do costume, foi dizendo outras tantas trivialidades sobre os meus amores, as dificuldades financeiras, com brilhante futuro na carreira, etc. etc….
Quando quis saber coisas sobre os meus filhos, eu de olhos arregalados e por certo pasmada, a cada pergunta, cada trivialidade, sempre acompanhada pela frase: “mas isto a Sr.ª já sabe, mas isto a Sr.ª já sabe…”.
Uma coisa eu sabia, tinha que sair dali rapidamente antes de não poder reprimir por mais tempo a gargalhada e ela explodir fazendo abanar o prédio e a vizinhança e desarrumando mais ainda os papeis de dados.
Jaime contou-me depois que tinha sido aliciado a servir de informador das vidas dos colegas da empresa, assíduos clientes de tão sábia bruxa.
Ainda me perguntou se conhecia sicrano e beltrano, por certo para colher saberes que posteriormente desabrochariam nos ouvidos dos incautos “consultores”. E como a minha área de trabalho era bem diferente e sem interesse, fez-me a seguinte e espantosa proposta:
“Quer tomar conta deste negócio? eu estou cansada e você tem jeito?”
Ainda hoje fico na dúvida se não terei desperdiçado a grande oportunidade da minha vida!

A minha carreira de bruxa ficou limitada a uma certa kuskas, que todos conhecem…

10.9.05

De Mim

3 Junho 007aaaCheguei à conclusão que estou satisfeita por ter aceite em mim as várias fases e aspectos da minha vida.
Tendo interiorizado uma educação pequeno-burguesa do norte do País, da terra de que se dizia ser a do “parece mal”, refiro-me à cidade do Porto, foi muito difícil ultrapassar certos tabus e regras. A acrescentar a esta situação e para dificultar mais a minha adolescência estava o facto de os meus pais serem divorciados, que era um rótulo muito pouco recomendável. O sentimento de vergonha estava colado a quem era filho de pais divorciados, de tal maneira que demorou a contar ao namorado, não fosse ele fugir quando soubesse. Felizmente ele tinha uns tios que o eram de maneira que a nódoa era dos dois lados…
Na verdade, disse-me um psicólogo que consultei mais tarde, os casais tendem a repetir os divórcios de seus antepassados. Facto interessante é que eu me divorciei mais tarde tanto como filha e filho, coincidência? Vá-se lá saber…
E assim, mais tarde, foi contra toda a educação que recebi (olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço), que eu mesma tomei a iniciativa de me separar daquele que tinha sido o meu marido durante 19 anos e com quem tinha namorado uns compridos quatro. As razões são muito pessoais e muito difíceis de explicar, visto que não houve aqui infidelidades ou coisa parecida.
Eu sufocava e precisava de respirar, SÓ!
Sempre defendi o Pai em relação aos meus filhos e pugnei pela boa convivência entre eles, e o facto é que consegui evitar cisões na família e uma harmonia entre todos, pouco comum.
Em miúda era uma criança muito calada, para o que contribuiu por certo o rompimento dos meus pais, muito conflituoso, e o período da II Grande Guerra, com as dificuldades inerentes. Vejo-me nessa altura como uma menina triste, sensível e necessitada de bens e carinho.
Ainda não era senhora de mim quando casei, virgem e pudica.
Boa dona de casa e a melhor mãe que soube ser, só muito mais tarde me descobri. Mas continuava triste, sensível, necessitada de carinho e pudica.
Após o 25 de Abril, como para muita gente, aliás, os ares da liberdade eram mais fortes e a vida cá fora era uma atracção irresistível!
Quando dentro de um casal há um elemento que segue em frente e outro que fica a marcar passo…o divórcio é mais que certo, principalmente se quem progrediu foi a mulher. A união não se compadece com este desequilíbrio! Quando a insegurança de um o leva a ser prepotente e recusar pôr em causa os seus pontos de vista, a ruptura é certa.
Quando me divorciei analisei e me interroguei sobre todas as coisas, estava a nascer para a vida, a dar os primeiros passos duma existência a desabrochar.
Evidentemente que dei as minhas cabeçadas, esmurrei coração e sentimentos como qualquer ente que se embrenhe em Liberdade, na senda das descobertas.
Se voltasse atrás faria de outra maneira? Claro que sim ou não tivesse aprendido nada…mas não lamento o que vivi, pois tirei ensinamentos e fi-lo com integridade. De mim, os meus filhos, receberam esse exemplo, foi isso que eu lhes transmiti, foi essa a minha dádiva. E depois eu sempre estive disponível para eles, pois além de nunca ter voltado a casar, nunca mais coabitei com ninguém. Tudo aquilo que fiz, de bem e de mal, é minha responsabilidade, os danos que por ventura causei foram minimizados com o Amor que sempre acompanhou qualquer atitude minha.
A razão que me levou a escrever este post foi o ter sido “acusada” de nunca me ter entregue abertamente, e por certo isso nunca irá acontecer, por timidez e precaução.
Assim é que não vou entrar em pormenores escusados, apenas mostrar o ser social normalmente bem aceite, com percurso de vida talvez não muito diferente do seu, minha amiga, que me lê.
Está agora na hora de aceitar a minha velhice, já vai sendo tempo, já que sou bisavó e o corpo me vai atraiçoando.
Quero deixar a minha marca, não para não ser esquecida pois sei que o não serei, mas para ajudar os outros a ultrapassar a minha perda.
Vivi, como amei, o melhor que soube e quis e neste momento é urgente que o faça, como costumo dizer, devagar que tenho press
a!

(este post é dedicado a um amigo muito especial, que trouxe recentemente Vida à minha vida.)

7.9.05

Inquérito-resposta

5 coisas de que NÃO gosto:
-gente estúpida
-gente a armar aos cucos
-conversa racista e xenófoba
-sentir-me dependente
-limitada na minha liberdade


5 coisas de que gosto
-de me sentir bem
-de gostar dos outros
-de dar presentes e prazer aos outros
-procurar coisas novas
-fazer investigações

5 albuns de música:
-clássica
-céltica
-instrumental calma
-guitarra portuguesa
-piano

5 músicas:
-concerto nº 2 de Rackmaninoff
-música dos River Dance
-todos de Carlos Paredes
-Desert Rose , de Sting
-Mozart por Mª João Pires

Foi mesmo uma maldade, Xicuembo, mas tb não gosto de ser desmancha-prazeres.
Já agora gostaria de passar a batata quente para a Bastet, Mitsou, Leonoretta, Mocho Falante e Magude

Chove lá Fora


CHUVA

Cai a chuva, ploc, ploc
corre a chuva ploc, ploc
como um cavalo a galope.

Enche a rua, plás, plás
esconde a lua, plás, plás
e leva as folhas atrás.

Risca os vidros, truz, truz
molha os gatos, truz, truz
e até apaga a luz.

Parte as flores, plim, plim
maça a gente plim, plim
parece não ter mais fim.

Luísa Ducla Soares, A Gata Tareca e Outros Poemas Levados da Breca, Teorema

Os Links




Hoje aprendi umas coisas, e entre elas a colocar os links dos blogs que mais kusko...coloquei-os aqui ao lado sem qualquer preferência e nem sempre lá vou pela mesma ordem.
A minha intenção é facilitar-me a tarefa e àqueles que estiverem interessados em lá ir, ao mesmo tempo que os vou divulgando.
Irei acrescentar à lista aqueles que, à medida que os fôr encontrando, me pareçam interessantes.

Habemus Poeta!

Do Luso-Moçambicano (se assim lhe posso chamar...)
e sob o Pseudónimo de:
José Alberto Sitoe,


Poesia Moçambicana

"Subúrbios by night"


Lá no beco da ti’Juliana
logo logo tem a cantina do Dias mulungo
e há uma árvore que sabe das coisas
ela viu tudo, tudo.

A luz do jeep cinzento
as fardas pretas e os bastões
viu as botas ouviu os gritos
ela viu tudo, tudo

lá no beco da ti’Juliana
onde o caniço está partido
eles bateram, bateram, bateram
no fim das luzes ficou um corpo caído
mais o caniço, tudo partido

nem o Dias nem ninguém
abriu uma janela, uma porta, um grito
a ti’Juliana dormia sem sono
a árvore viu tudo tudo.

Foi lá no beco escondido,
as fardas pretas arrombaram o caniço;
as botas pisaram, os bastões bateram
e a árvore viu tudo tudo

De manhã passos de criança
sob a árvore que sabe das coisas
misturaram areia ao sangue caído
lá, onde o caniço está partido

os pés correram as mãos brincaram
lá onde o caniço está partido
onde está a árvore que sabe das coisas
ela que viu tudo, tudo

Um dia crescerão e
eles sabem tudo, eles sabem tudo


(para ver
neste blog, de Carlos Gil)

6.9.05

A Queda!




Hoje caí na rua, pisei um bocadinho de cartão e deslizei!
Foi uma perna para cada lado, esfolei o joelho e o cotovelo, mas não rasguei a roupa!
Só o orgulho ficou um bocado contundido!
Mas ninguém viu!

4.9.05

O Prémio!




Trazia nas mãos, muito apertado, o seu tesouro!
Tinha-o conseguido porque o merecia. Era um menino bonito, que se tinha portado bem, por isso merecia o prémio.
Todos os dias saía de manhã cedo, almoço e merenda na sacola, que a mãe trabalhava todo o dia e ele ficava à guarda da vizinha Leonilde. Todos os dias, menos ao Domingo, que era dia de irem às compras no super mercado, depois da missa das nove e ida ao cemitério, que a mãe não dispensava a visita à campa da avó, falecida ainda não havia cinco meses, era o que a mãe dizia.
Paulinho ia fazer anos dali a 3 dias, por isso merecia o prémio, "O Meu Prémio", como ele secretamente lhe chamava.
Já tinha pedido à mãe um carrinho dos bombeiros, mas aquele era não só a sua prenda, mas mais importante, o seu prémio!
No dia do seu aniversário, que por sinal era Domingo nesse ano, mal se levantou foi ter com a mãe, que ainda dormia, acordou-a e quis saber qual era a prenda que ia receber pelo seu aniversário.
Para além do tal carrinho de bombeiros, como ele lhe pedira, a mãe tinha uma outra prenda, mas só lhe daria mais tarde, ao lanche e era surpresa.
Eu também tenho um presente e é surpresa, não te digo, e Paulinho riu…
Ao lanche veio uma priminha e os meninos da vizinhança, três ou quatro, a festa foi muito bonita e todos se portaram muito bem, e foi por isso que Paulinho teve um bolo com muitas velinhas; os meninos que sabiam contar disseram que eram trinta e duas e a mãe confirmou.
Lucinda só tinha aquele filho, que apesar da "doença", como ela lhe chamava, era a luz da sua vida.
Ficara viúva muito cedo e enquanto a mãe foi viva sempre tivera o seu apoio. Criara-o com muito amor, mas apesar de todos os cuidados e tratamentos, Paulo sempre ficara com a idade mental dum menino de cinco anos, segundo os vários médicos que consultara.
Já todos tinham saído quando Paulinho foi buscar o "prémio" para mostrar à mãe, que entretanto arrumava copos e pratos usados na festa. Tinha acabado de lavar os talheres quando ao virar-se viu Paulo com uma pistola nas mãos, correu para ele...ai meu Deus...uma detonação, um corpo que tomba, uns olhos muito espantados que gritam.
Lucinda saiu hoje do hospital, afinal tivera muita sorte, a bala apenas a feriu num braço, sem tocar no osso.
Paulo teve que ser tratado mais de um mês, só dizia: menino portou-se bem, menino portou-se bem!
Leonilde, sentindo-se culpada por ter contribuído, com o seu desleixo, para aquela desgraça, que poderia ter sido bem pior, foi quem tomou conta dele enquanto a mãe esteve hospitalizada. Inadvertidamente deixara a arma de fora do cofre, quando alguém a chamara da porta da cozinha, no dia em que lá tinha ido buscar uns documentos do marido.

2.9.05

Desafio!




Postado por Leonoretta e Chama-se

"Entre Parêntesis",

mas podia ser a "História da Carochinha, Sec. XXI":

Ana varre o chão do corredor e enquanto varre acha no meio da poeira, não cinco réis como a Carochinha, aquele insecto cleóptero de grande porte, da história popular do João Ratão cozido e assado no caldeirão que eu, só de pensar neste último a afogar-se dentro da sopa, supostamente de feijão encarnado, as entranhas revolvem-se-me de tal modo que me contenho, obstinadamente, para suster a expulsão repentina pela boca das substâncias do estômago.

Mas… voltando atrás!

… Ana acha no meio da poeira, não a tal moeda, a qual ela gastaria num ápice em bugigangas da Parfois, a fim de se enfeitar e arranjar um noivo falsamente desatento às novidades de livros e discos nas prateleiras da FNAC…

Ah! Os tais parêntesis, as frases que se metem de permeio num período portadoras de um sentido à parte e que eu abro indefinidamente…

Dizia eu…

…ideias, Ana acha ideias no meio daquela poeira, para arremessar no teclado do seu computador dispostas em composições poéticas formadas por quadras, tercetos, dísticos ao sabor da sua faculdade criadora.

Porém, entre um e outro varriscar, e não tendo um bloco de notas pregado no cabo da vassoura onde possa ir apontando o ajuste de palavras surgido na metáfora perfeita, Ana perde quase todo o poema.

Varre todo o corredor. Ainda corre para o PC. Liga-o numa pressa arrebatada de querer pregar na folha branca as palavras que lhe restam na memória inspiradas pelo “fru fru” da vassoura… frufru ou vrr vrr? Frufru penso eu, afinal a onomatopeia não é exclusiva dos vestidos de seda, do rumor das folhas das árvores ou do bater de asas dos pássaros durante o voo.. não, eu não me perco no raciocínio…

A ideia poética da Ana, perdeu-se mesmo. Ela sai para a rua frustrada na sua insuflação divina.

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Caro leitor, empaquei. Empaquei como os burros. Acontece a muito bom escritor. Não consigo dar um desfecho aqui ao drama da Ana… tenho pena mas não consigo. Perdi a inspiração. Diga-me lá que culpa é que eu tenho?
Olhe… ó caro leitor… porque é que não me ajuda? Hein?
Desde já lhe digo que vou ficar-lhe muito grata por me ter auxiliado.

da Leonor
.........................................................




Em resposta, eu escrevi:

Ana, desapontada, pousou a vassoura e foi passar a ferro.
Logo na primeira camisa encontrou o "Mote": SERENIDADE...
ficou a pensar mas nada mais lhe ocorreu. Ao fim da tarefa ainda pensava.
Arrumou o ferro e a tábua e na prateleira lá estava: o 1º verso:
NO ONDULAR DO VENTO A BRISA SE ENAMORA...
Já mais animada foi fazer o jantar e no cantar da sopa, que fervia, ouviu distintamente o 2º verso:
COMO LIBELINHA POR CLARO TREMELUZIR!
Ana continua hoje à procura do resto do poema e assim vai continuando a varrer, a passar e a cozinhar...

beijoka para ti, Leonor,
da th

1.9.05

A Peça

“A vida é na verdade a verdadeira escola.
Há quem fale na escola da vida, como se só se aprendesse a viver!
Viver é aprender sempre, uns mais outros menos, uns isto outros aquilo!
Todos somos alunos e professores, é o que se chama coexistir.
Eu gosto desta escola, porque como sempre fui muito rebelde, aqui aprendo aquilo que gosto e não tenho “horários”…os compêndios encontro-os em qualquer sítio e gosto de pesquisar, às vezes no olhar das pessoas, nos gestos, nas palavras, embora essas por vezes tenham que ser traduzidas.
É também o laboratório onde fazemos as nossas experiências, e se alguma corre mal sempre temos um alguém para curar as feridas. De qualquer maneira teremos mais cuidado para a próxima vez e alguma coisa ficou desse aprendizado. O que aprendemos, pela sua natureza lúdica…, sempre nos traz alguma riqueza que, na maioria dos casos, queremos partilhar com quem está ao lado…
Blá blá blá, blá blá blá …blá blá blá!”
Atirou com caderno e lapiseira para longe, insatisfeita que estava com o artigo que queria mandar ainda essa tarde. Não estava a conseguir transmitir a ideia original que de tão rica, aqui mais parecia uma redacção de instrução primária.
Precisava de mandar o artigo para a revista, necessitava daquele dinheiro para fazer aquela compra que tinha prometido a si mesma, há um ano, o mais tardar no fim do Verão.
Olhou o relógio e decidiu que o melhor era fazer um intervalo. Colocou pelos ombros um casaquito de malha, pegou na bolsa, caderno e lapiseira, sempre gostara de escrever com lápis, conseguia dessa maneira um trabalho limpo, visto que podia apagar o que não interessasse, quem sabe se durante o passeio alguma ideia surgisse… e saiu para a rua onde o dia entardecia e sombras começavam a subir pelos prédios.
Virou esquinas, palmilhou empedrados de jardins, descansou pés no liso dos cimentos dos passeios.
Desceu à baixa e entrou em algumas lojas à procura daquilo que mais tarde iria comprar, mas não encontrou informação suficiente; não havia revistas ou catálogos onde pudesse fazer uma ideia do que estaria disponível, modelos ou preços. Não tinha pressa, mas desde que resolvera fazê-lo precisava daquela informação para poder decidir com sensatez.
Gostaria de uma peça de boa qualidade e boa aparência, sem ser ostensiva, a um preço razoável de modo a não ficar endividada.
Madeira escura, linhas direitas, sem grandes desenhos.
Se calhar ia ser difícil encontrar a peça que procurava, dado que ao mesmo tempo que não queria uma peça clássica, convinha algo que não ficasse démodé na altura em que fosse ser usada.
Tinha a certeza que assim que visse um esboço ou um desenho saberia o que realmente queria.
Chegada a casa, e depois de um frugal jantar, voltou a sentar-se à secretária e ficou a pensar o que mais poderia dizer sobre a escola e a vida...
Lembrou-se então de ter lido há muito tempo uma ideia expressa por uma velha camponesa, sedenta de informação, que disse que a escola deveria ser como as igrejas, sempre abertas para quando tivéssemos dúvidas ir simplesmente lá perguntar.
-Ideia peregrina, pensou, mas não de todo descabida.
A aquisição do saber deveria ser algo que fosse procurado, despertado pelo desejo de conhecer mundos e gentes, transmitido por quem gostasse de ensinar.
-Enfim, utopias!
Dali a pouco as considerações começaram a fluir e passada que foi uma hora já tinha o dito artigo pronto para entrega no dia seguinte, esperando que ainda fosse a tempo da edição dessa semana.
Positivamente tinha que comprar um computador, a escrita seria facilitada e o envio também, já que poderia enviar tudo por mail.
O telefone tocou, era Margarida que a desafiava a tomar um copo no Bar do costume, perto do Príncipe Real. A tarefa estava finalizada, por isso aceitou.
Vestiu uns Jeans e uma camisa indiana lilás com uma longa écharpe do mesmo tecido; foi bebericando um gin tónico e esperou.
O Bar estava agradavelmente frequentado, tanto em número como em gente bonita e simpática. Encontrou vários amigos, mas foi Luciano que fez com que aquela noite ficasse memorável, ao convida-la para irem a Braga no dia seguinte, convite esse que aceitou. Braga era por tradição terra de artífices de móveis e afins.
Munida de uma fita métrica foi até à arrecadação e começou a tirar apontamentos quanto ao espaço disponível. Havia espaço suficiente para a peça que queria comprar. A arrecadação era protegida de humidades e invasão de bicharada; a peça ficaria aqui bem até poder ser usada.

Luciano já a conhecia há um tempo e sempre a achara um pouco esquisita, mas muito simpática, pelo que não teve problemas em a convidar a ir com ele a Braga, embora o convite tivesse vindo um pouco em consequência duma conversa do grupo, mas só ela aceitou ir.
A viagem até correu bem, cada um tratou do que lá fora tratar e no regresso, encomendas feitas, a satisfação reluzia nos seus rostos.
Tinha tido um bom pressentimento, a peça foi bem mais barata do que podia imaginar, dado que não tinha havido intermediários. Tudo tinha ficado acordado, a entrega seria dali a 7 meses.
A mãe, há imensos anos a viver no estrangeiro, viria este ano passar duas semanas com ela. Decidiu que nada lhe diria para a não preocupar, que a peça iria por certo levantar controvérsias a quem a visse.
Continuou a escrever para a revista, mas a meio do Inverno uma grande prostração se abateu sobre a sua frágil pessoa, psicologicamente um pouco desequilibrada; felizmente já tinha a totalidade do dinheiro para a peça encomendada em Braga, que chegou em fins de Abril!
Tomou precauções para que a descarregassem na hora das telenovelas, de modo a não ser vista pela vizinhança, não queria de modo nenhum levantar coscuvilhices desnecessárias.
Durante mais de dois meses preparou tudo, e quando finalmente se propôs fazer aquilo que decidira há um ano, escreveu um bilhete para a mulher-a-dias e saiu para a escada, em pedra, demasiado longa, como a sua vida...
Quando a mãe chegou à pressa, para o funeral, não lhe souberam dizer exactamente o que tinha acontecido, a dúvida a perseguiu ainda durante um tempo e depois desistiu de compreender. O corpo foi cremado para o poder levar consigo, e só quando em Agosto voltou para liquidar a casa e os escassos bens, é que leu o bilhete em que ela pedia para ser enterrada no caixão que estava guardado na arrecadação...!

FIM