27.2.06

Por ser Carnaval...


stou positivamente de ressaca…
Como escrevi há dois dias era minha intenção passar pela dita vivenda e ver se alguma coisa de estranho se passava no local onde Alberto era avisado de não aparecer, se não queria “levar um tiro”, dizia o bilhete.
Informei-me da localização, o caminho a seguir e lá fui, armada em detective, deixei o carro a uma distância razoável e segui a pé. Quando voltei a casa trazia informações que davam uma telenovela.
Alberto esperava-me ansioso, mas eu apenas lhe disse que tínhamos que lá voltar no dia seguinte para confirmar uma coisa. Tinha que ser ao fim da tarde, quando começasse a escurecer.
E assim foi. Lá o convenci a levar um fato escuro e eu vestia um casaco comprido que escondia um lindo vestido de noite. Mal escureceu pusemo-nos a caminho, como de costume deixamos o carro a uma confortável distância, mas desta vez menos longe, num desvio perto do portão da entrada.
Sem que Alberto visse toquei três vezes à campainha…
Estranhamente o portão estava aberto, entramos…de imediato holofotes se acenderam e ficamos debaixo de uma luz crua, brilhante e intensa…meio cegos avançamos, embora me parecesse que Alberto estivesse bem mais disposto a virar costas e fugir. Foi quando já tínhamos dado alguns passos que se ouviu distintamente um coro de vozes cantando Parabéns a Você…era o aniversário do querido primo Alberto, para o qual tinha sido engendrada toda esta farsa.
Só o tinha sabido no dia anterior, tinha sido pegada a bisbilhotar pelo Júlio e Sara, que afinal não tinham ido para lado nenhum, e me explicaram toda aquela tramóia arquitectada para festejar os 50 anos de Alfredo.
Quase tinha sido uma tragédia quando um vizinho, estranhando toda a azáfama na vivenda desabitada, chamou a polícia.
Foi uma festa linda, com gente bonita e amiga.
Mas como devem calcular, e como já disse, estou positivamente de ressaca…
Mas por ser Carnaval Alberto não levou a mal, pelo contrário, passado o susto simplesmente adorou!

Pont de l' Alma



Des quatre statues, seul le zouave de Georges Diébolt a été replacé en amont de l'unique pile (il est donc plus près de la rive droite mais regarde toujours en direction de la rive gauche). Il est devenu légendaire pour les parisiens car il sert à "mesurer" les crues.Le Zouave, les pieds dans l'eau - Janvier 2003. A ce stade, on commence à fermer les voies sur berge.

Que sont devenues les trois autres statues ?
Robert, un visiteur du site, nous livre le résultat de ses recherches :
-Le chasseur est à Joinville le Pont adossé à la redoute de Gravelle (visible de l'autoroute A4 - A86). Sculpteur : Auguste Arnaud
-Le grenadier est à Dijon, avenue du Premier Consul, face au lac Kir. Sculpteur : Georges Diébolt
-L'artilleur est à La Fère (Aisne), sur la place de l'Europe. Sculpteur : Auguste Arnaud

26.2.06

La Crue de Paris


Ce pont a été reconstruit en 1970-1974, en ne conservant qu'une seule des 4 statues qui l'ornaient.

Tenho uma atracção estranha, ou talvez não, por fotos e documentários antigos, princípio de século, La Belle Époque, etc.
Ontem , sur la TV5, vi uma entrevista com um historiador, o nome não recordo, cujo tema era sobretudo a inundação de Paris de 1910, cujas fotos podem ver em
Crue Janvier 1910 .
Ao ler o post "
uma ponte para ler", no Chuina.io é que senti o desejo de vos chamar a atenção para o assunto e para o site que contem as fotos.
É que também na figura da Pont de l'Alma de Paris se pode ler a altura a que chegaram as águas nas diversas inundações.
Paris continua com um grande risco de ser de novo inundada, como em 2002, e pior ainda, e um dos motivos é a grande edificação de enormes prédios nas zonas junto ao Sena, que substituiu o terreno poroso por cimento.

adenda: não deixem de explorar o site acima e vejam as fotos, os postais e as notícias da época.



24.2.06

O Bilhete


ensava eu que estava tudo esclarecido!
Mas não…
Alberto mostrou-me hoje um bilhete, o segundo que recebeu, que o tinha deixado muito nervoso, principalmente depois do que já tinha passado na esquadra.
Com Júlio e Sara no estrangeiro e precisando de desabafar e aconselhar, veio falar comigo.
E eu que julgava que tudo tinha sido engendrado pelo Júlio, fiquei sem saber o que pensar.
O problema é que a minha curiosidade é imensa…mais logo, à noitinha, vou até à dita vivenda ver se vejo alguma coisa de anormal.
Pobre Alberto, no fundo não é mais do que um menino grande, ingénuo e amedrontado.




23.2.06

A Culpa-Finale





tarantados, como moscas, aparecemos todos na sala perguntando-nos o que seria aquele barulho.
Mais dois “tiros” como aquele que nos fez rodopiar, bonecas tontas, e afinal para chegarmos à conclusão que era o Audi que regressava a casa depois de (mal) concertado.
Já identificados com a fonte do barulho, corações aquietados, voltamo-nos para Alberto para o interpelarmos sobre a razão de tão intempestiva aparição, mas já ele tinha desaparecido ao encontro do mecânico, que se desculpava com gestos largos, coçando a cabeça.
Ao jantar tudo se esclareceu, pensaram eles, que eu continuo com imensas dúvidas.
-O homem do casal da vivenda onde o Alberto tinha sido apanhado em flagrante era um velho amigo de Júlio que a seu pedido tinha incumbido o primo de fazer uma secreta investigação sobre uma suposta infidelidade da mulher.
O Audi era pouco conhecido nas redondezas e por isso tinha servido como transporte para tão bizarra missão. Mas tinha avariado ao ponto de quase ter mandado Alberto ravina abaixo. De noite, noite escura, acabou por cair e ferir-se, como tínhamos visto.
A investigação não deu quaisquer resultados (aqui para nós penso que o homem que visitava a senhora em questão era o próprio Júlio), sabendo o meu cunhado de fonte segura que o dito marido é gay e pretende o divórcio para ir viver com o companheiro, com uma boa maquia no banco.
Sara, que é a ingenuidade em pessoa, em tudo acreditou, sem ver a piscadela de olho entre os primos…eu não!

22.2.06

A Culpa IV

á dois dias que ninguém tem sossego cá em casa.
Alberto foi libertado sem culpa formada porque alguém, não sei quem, foi em sua defesa justificando a presença na vivenda onde era acusado de entrar sem permissão. Agora o que ele tinha ido lá fazer eu não sei, que ele só contou para o Júlio.
Alberto e Júlio eram primos direitos, filhos de duas irmãs gémeas; eu e minha irmã considerávamo-lo nosso primo por o conhecermos desde miúdas e por Sara sempre ter sido a namoradinha de Júlio.
Os dois sempre foram muito cúmplices quer nas brincadeiras quer em assuntos mais sérios. E nós sabemos como os homens são leais entre eles. Por isso apenas soubemos que Alberto tinha sido apanhado dentro duma propriedade sem que para isso tivesse autorização dos donos.
Safou-se e nós ficamos sem saber ao certo o que na verdade se tinha passado tanto antes como depois.
Há dois dias que ele não sai do quarto, sem se alimentar direito e ouço-o andar de um para outro durante a noite.
………………………….
Acabou de chegar uma carta para ele, entregue por um rapazito, vindo da Vila, segundo nos disse a Rosa.
Fui lá acima entregar-lha; ficou a olhar para mim, com a carta na mão sem a abrir, eu olhando para ele, sem saber o que fazer.
Dei meia volta e desci…espero que as coisas se esclareçam e possamos viver …
Meu Deus que barulho foi este? Parecia um tiro…


20.2.06

A Culpa III

evantei-me tarde depois de uma insónia que não me deixou dormir por longas horas em que estive a pensar sobre os acontecimentos dos últimos dias.
Ouvi carros que saíam; minha irmã tinha tido visitas depois do jantar a que eu não me apetecia estar presente. Mas por volta das quatro ouvi distintamente o motor de um carro que entrava, e pouco depois passos no corredor que dava para o quarto de Alberto.
Fiquei portanto muito admirada quando à hora do almoço, julgando-o ainda a dormir, recebemos um telefonema da polícia a comunicar-nos que o Sr. Alberto Gusmão tinha sido preso e pedia que lhe enviassem o advogado de família.
Meu cunhado disponibilizou-se de imediato para tratar do assunto e nós ficamos à espera de notícias, apreensivas e preocupadas.
Eis que o telefone toca, vou ver se é o Júlio a dar-nos conta do que se passa com o Alberto.
Já volto…

19.2.06

A Culpa II


hovia e ventava quando as visitas chegaram ontem para o jantar. O nervoso fazia-as rir, roupas e guarda-chuvas esvoaçando numa dança tomada de pânico.
Os aperitivos aqueceram os corpos, a lareira as roupas, a boa convivência os amigos.
O jantar correu bem, como era costume, outra coisa não era de esperar da ciência culinária de Rosa, a nossa velha Rosa.
Éramos sete, sendo eu a única sem par, a caminhar para tia sem sobrinhos…
De Alberto nem sinal.
Por isso me assustei quando o vi entrar na cozinha hoje de manhã, tinha um olhar esquivo, mãos e cara arranhadas.
Que te aconteceu? Perguntei meio assustada.
Nada de grave, nada de grave, caí, disse ao ver-me aflita.
Como, onde e o carro?
Vim a pé, o carro avariou.
Que andas tu a fazer? Vi-te ontem à tarde.
Viste, mas não viste, ouviste? Depois eu conto-te, agora não, ainda é cedo



A Culpa I

Ontem não voltei a ver o Alberto, e como toda a gente deixa os carros no pátio, ninguém deu pela falta do Audi. Foi hoje, quase perto do meio-dia, que algo de estranho voltou a acontecer. Tinha ido um pouco à praia e ao voltar para casa passei pela vila a comprar umas coisas que a Rosa me tinha pedido para lhe levar para o jantar, íamos ter visitas. Quando estava na caixa, a pagar, ouvimos grande alarido na rua e um carro que passava a grande velocidade pela estreita ruela, quase atropelando um velho transeunte que ia a passar. Era nem mais nem menos o Alberto no Audi…seguido de perto de um outro carro, descapotável, com uma loira a conduzir. Logo que me foi possível dei uma volta pelas redondezas para ver se os via, mas tinham desaparecido da mesma maneira rápida como tinham aparecido. Claro que a minha curiosidade é muita e confesso que estou deveras intrigada com a atitude inusitada de Alberto, homem sempre sem grandes rasgos de imaginação para aventuras ou jogos de qualquer espécie.

17.2.06

A Culpa

The Phallic's Culpa Acrylic & Canvas




inha acabado de tomar o pequeno-almoço quando olhei pela janela e vislumbrei o Alberto que vinha subindo o caminho que conduzia à garagem.
Vinha a passo largo e meio desconfiado, olhando para todos os lados.
Trazia um saco que devia conter algo pesado, pela maneira como o segurava, que mudava de mão de vez enquando.
Retirei-me para dentro antes que ele se desse conta que eu o vira, pois a sua atitude me pareceu de certo modo suspeita e intrigante.
Pouco depois ouvi um motor a arrancar e Alberto que saía para a estrada, quase sem fazer barulho, ao volante do Audi velho que quase ninguém usava.
Desci à garagem para ver se descobria alguma coisa que pudesse explicar a maneira de agir furtiva e misteriosa do meu bondoso primo.
Nada, a não ser o facto de ali faltar o único carro que toda a gente evitava conduzir, dada a sua história, quando ainda restavam dois, prontos a ser usados.





12.2.06

Gripe


Há dois anos que não ia à cama com gripe, desta vez não escapei.
Foram só dois dias, que não gosto de faltar aos meus compromissos.
Com antigripais e agasalhos consegui melhorar.
Lembrei-me então como era no antigamente, quando eu era miúda, que nessa altura costumava ter muitas infecções de garganta.
Minha mãe tratava-me com gargarejos de limão com açúcar e emplastros de papas de linhaça com mostarda no peito e costas. Gostava do cheiro daquilo, mas o mesmo não acontecia com a ardência que a papa provocava.
O certo é que a coisa resultava.
Se por acaso sangrava do nariz, o que era frequente, colocavam-me frente a um alguidar com água e vinagre com que fazia inalações para estancar o sangue.
Sobretudo não saía da cama senão ao fim de uma semana e apenas por um espaço pequeno de tempo, à tarde.
Naquele tempo não conhecia a palavra stress…

11.2.06

O Acidente


avião da Força Aérea Uruguaia que levava um grupo de jovens para uma partida de rugby no Chile caiu na Cordilheira dos Andes em 13 de outubro de 1972. Dos 45 passageiros, 12 morreram no momento da colisão. Com o passar dos dias, outros passageiros não agüentaram as conseqüências dos ferimentos sofridos, das baixas temperaturas e de uma avalanche de neve que desabou sobre o aparelho 16 dias após o acidente e acabaram morrendo.Com o encerramento das buscas, os sobreviventes tiveram que se organizar para continuarem lutando pela vida. O avião foi adaptado para abrigá-los durante a noite, mas o maior problema era a falta de alimentação. Para não morrer de fome, o grupo teve que se alimentar da carne dos companheiros mortos, a experiência mais chocante para eles. No dia do resgate, apenas 16 deles ainda estavam vivos.Para mais informações sobre esta palestra, entre em contato com a Palestrarte - (11) 5052-8043/ 7396 info@palestrarte.com.br


Foi depois de ver um documentário sobre o desastre, com os sobreviventes que, ao vê-los, se me colocou a questão: que faria eu numa situação semelhante? Quais são os nossos limites? O que nos pode levar a ultrapassa-los tornando-nos covardes ou heróis?
Em situações limite seríamos capazes de matar, cometer heroicidades ou actos canibalescos?
A pergunta fica no ar…eu não tenho respostas…

5.2.06

A Meu Pai


Meu pai* era bombeiro, bombeiro voluntário.
Quando fazia piquete eu e o meu irmão disputávamos o lado dele na cama da minha mãe.
Lembro-me que era charmoso e era eu que lhe polia as medalhas e aprumava a farda, o bivaque sempre bem dobrado pelos vincos, o capacete reluzente.
Quando voltava contava-nos as histórias da noite, o gato que se empoleirou numa árvore, o bebé que não esperou para chegar à maternidade e nasceu na ambulância, até aquele desastre em que dois dos seus companheiros morreram num desastre do pronto-socorro. Também ele ficou muito queimado num acidente com terebintina, creio, que se encontrava num incêndio a que acorreu. Fomos vê-lo ao hospital onde entramos sem entraves apesar de nem sequer ser hora de visita, eu e meu irmão, dois miúdos afoitos e aflitos que ninguém ousou questionar.
Faria hoje, dia 5 de Fevereiro, 98 anos...vi-o pela última vez faz hoje 22 anos, embora semi-inconsciente, ainda me sorriu.
Recordo-o como um pai ausente, dedicando os seus tempos livres ao seu voluntariado, à Corporação dos Bombeiros Voluntários Portuenses, onde era Comandante à data da sua morte em 2 de Março de 1984.
Separou-se de minha mãe numa noite de Natal, para seguir o seu coração e passamos a vê-lo cada vez menos e cada vez mais distante. Mas deixou marcas, a sua sensibilidade, a sua humanidade, a sua dedicação por uma causa.
No entanto tenho saudades do Pai que não cheguei a ter...e do que tive nos raros momentos de nós...

*na foto com um dos vários trofeus que ganhou no desempenho como bombeiro

1.2.06

Ludovina


Ludovina, cujo invulgar nome a tinha já feito passar embaraços, era uma senhora simpática e que ainda conservava traços duma beleza doce e gentil.
Vivia sozinha, embora tivesse a visita da sobrinha dia sim, dia não, não se sentia só pois para além de se ocupar de todos os trabalhos de dona de casa ainda dava assistência a uma vizinha acamada e muito mais velha do que ela.
Logo de manhã cedo ia à padaria buscar pão, ainda quente, com que preparava o pequeno-almoço, que levava também à D. Elvira, a quem ajudava a fazer a higiene diária. Uma vez por semana tinham uma mulher-a-dias que durante todo o dia lhes fazia os trabalhos mais pesados.
Ludovina era a mais velha de quatro irmãos, dos três rapazes um falecera num desastre de automóvel e os outros dois eram casados e viviam longe, lá para o Norte.
Ana, a sobrinha, vivia em casa duma tia, da parte da mãe, desde que viera para Lisboa estudar.
Quando de dum dia para o outro D. Elvira piorou de tal maneira que foi preciso interna-la, Ludovina foi quem a preparou e avisou a única família que lhe restava, uma prima que vivia do outro lado do rio e a quem tinha sido feito um testamento, sendo ela a única herdeira da razoável fortuna que ainda restava dos avós de ambas.
Com D. Elvira no hospital, sobrava tempo a Ludovina, que começou a pensar numa maneira de ser útil e se ocupar para não cair na monotonia dos dias.
Foi então que se lembrou de retomar, embora actualizada, a actividade que era a sua antes de se casar.
Tinha-se casado muito tarde e enviuvara cedo, por isso nem era assim há muitos anos que tinha sido tradutora de uma empresa bem cotada da capital.
Com acesso às novas tecnologias até iria ser bem mais fácil executar o trabalho para o qual estava bem preparada.
Algumas das suas leituras eram sempre na língua original, o inglês, pelo que se achava capaz de continuar o trabalho que desempenhara tantos anos.
Ana tinha-a incentivado e vinha-lhe fazer companhia agora apenas uma vez por semana, mas sempre radiante, estava apaixonada e queria ir viver sozinha, logo que acabasse o curso, pois emprego já tinha.

………………………………………………………..

Passaram quatro anos, D. Elvira tinha morrido, deixando a Ludovina, que continuava o seu trabalho de tradutora, uma pequena pensão enquanto fosse viva.
Ana tinha uma vida razoavelmente tranquila, não fora ser considerada à margem da sociedade por viver com a companheira que escolhera e que amava de verdade. As duas se completavam e sentiam um grande carinho por Ludovina, que depois de um período de reflexão as aceitou como um casal.
Neste instante ouvem as notícias na televisão que versam o casamento entre homossexuais.
O caso de duas lésbicas que pretendem casar.
O BE quer levar à AR a discussão que visa oficializar tantas uniões de facto.
Ludovina fica pensando que se lhe dessem outro nome, em vez de casamento, seria bem mais fácil conseguir consensos.