31.12.04

cinco

A minha riqueza vem-me

das pessoas que gostam de mim

À procura


Tinha caracois e um laço no cabelo, que era escuro e comprido.
Em pequenina até lhe chamavam a menina dos caracois.
Procurava debaixo da cama, numa caixa onde guardava montes de fotografias, aquela onde, bem pequenina, ao colo do tio Abel, se passeavam ao longo da pérgola da Foz, junto à praia do Molhe.
E à medida que ia separando umas e outras ia recordando lugares e pessoas.
Ali estavam tios e tias e ela, bébé, ao colo de sua mãe, no terraço da quinta dos tios em Oliveira do Douro. As fotos sua e seu irmão quando fizeram a 1ª comunhão na Igreja do Bonfim e vestidos com fatos de marujo numa ida ao Monte da Virgem. Eram fotos a preto e branco, mas que ainda tinham côr na sua memória.
Agora na rua do Sol, a caminho da Escola Comercial, com colegas de que perderia o rasto mais tarde. Ali estavam a Olga, a Candida e a Natália, fixara os nomes, dos rostos já se não lembrava.
.........................
Como tudo estava agora tão distante!
De vez enquando dava consigo a pensar perguntar à mãe sobre isto ou aquilo, quando se dava conta que a mãe já lá não estava para lhe responder...nem o pai nem o irmão...e então era como se um cordão umbilical se tivesse rompido.
.......................................
Suspirou fundo, arrumou as fotos e foi para o computador mandar uns mails para os amigos a desejar um Bom 2005.

29.12.04

As Portas

Há as portas que se abrem,
Devagarinho
Deixam entrar emoções,
Comoções.
Há as portas que se fecham,
Como impelidas por ventos
Fortes, devastadores!
Deixam-nos nos braços
Cansados
O destino dos afectos,
Impossíveis.

Quatro


Precisava de inverter a força desta espiral

que me puxa para baixo.

23.12.04

No Hospital

Andava por ali, meia sonâmbula e a tentar entender tudo o que lhe estava a acontecer, pois nem mesmo se lembrava direito o que tinha feito nessa manhã.
Um telemóvel tocara a seu lado, sobressaltando-a, precisava pensar com calma, não lhe doía nada e por isso não entendia o que fazia naquele hospital àquela hora, o relógio marcava as 14,15, quando devia estar a caminho da casa de um cliente.
As pessoas entravam e saíam, umas cambaleantes, outras de muletas e outras ainda de maca.
Nesse momento entrou uma enfermeira a chamar por uma D. Alzira, que agarrada a um rapaz jovem lá entrou para o que parecia ser um gabinete de atendimento. Ainda quis falar com ela, mas depressa se afastou para lá da porta de vaivém por onde entravam os que seguiam em macas.
Foi então que ouviu chamar pelo seu nome, o médico segurava uns papéis e olhava em redor à sua procura. Aproximou-se sem perceber muito bem o que o médico disse pois o barulho era muito naquela urgência, àquela hora.
É a senhora, perguntou, a senhora é que é a mãe da Alice... Alice, mas não vejo…a sua filha tem que ficar internada, o seu estado é grave, traumatismo craniano.
De repente foi como se a verdade explodisse dentro da sua cabeça!

O desastre! tinham tido um desastre de automóvel! o piso molhado, um guarda chuva que vindo de não se sabia de onde a obrigou a virar para a berma...do resto não se lembrava mais.
A sua última frase teria sido...vai lá atrás buscar-me o telemóvel...


20.12.04

Um certo Natal

Fui à procura de uma informação e encontrei este poema:

de Reinaldo Ferreira:

Visitação

Que é do anjo das asas rutilantes
Com que lutou Jacob, na madrugada?
Que é desse outro, de falas sussurrantes,
Que surgiu a Maria, a fecundada,

Tão casta e sem pecado como dantes?
Que é da estrela, pela mão de Deus lançada
A guiar os incertos caminhantes
Ao colmo da cabana consagrada?

Onde estão os sinais que Deus envia?
Onde estão, que os procuro noite e dia
Sem nunca ver cumprido o meu desejo?

Não os vejo e não sei se eu, que os procuro,
Os não encontro porque sou impuro,
Ou sou impuro porque os não vejo.

apontamentos

Ver neste site:

A concordata de 1940 entre a Santa Sé
e a República Portuguesa.
muito interessante




apontamentos

Ver neste site:
As mulheres em Portugal
http://www.mulheres-ps20.ipp.pt/Hist_mulheres_em_portugal.htm?%23topo
para ler com atenção

( o meu amigo web diz que é melhor assim):

Ver neste site as Mulheres em Portugal
para ler com atenção


18.12.04

Aprender nos anos 40

Aqui, como podem ver, eu não era “filha da mãe”, era só filha de pai.
É o meu diploma da 4ª classe, o selo é de 5$00, o que para a época, 1943, me parece uma exorbitância.
Afinal fiz mal as contas, uma vez mais, devo ter entrado para a escola ainda com 6 anos.
Andava já na Escola Comercial quando acabou a 2ª Grande Guerra.
Era a Escola Comercial Oliveira Martins, na Rua do Sol, rapazes dum lado, raparigas do outro. Do fundo do recreio via-se o Rio Douro e a margem de V. N: de Gaia.
Já quase a terminar o 3º ano, depois das aulas, ia para o Portuense Rádio Clube dar o meu passo de dança, que sempre gostei de bailar, afinal de contas era só uma passadinha a caminho de casa.
Era chefe de castelo na mocidade portuguesa, 20 a voz de comando, chamada mais tarde de contralto da turma pelo professor, ao enunciar os artigos do código civil e comercial.
No Instituto Comercial ainda comecei a aprender alemão, mas finda a guerra, com a derrota da Alemanha, a cadeira findou e hoje apenas sei contar até cinco e pouco mais.
Mas foi antes de ter o meu primeiro namorado que me fizeram uma serenata…sim uma serenata das autenticas; já vivíamos em S.to Ildefonso e eu só assomei à janela por breves instantes a agradecer, mas o namoro foi mais tarde com um colega do Instituto, que tocava piano e que compôs uma melodia para mim, por sinal muito bonita.
Com os meus pais separados e divorciados mais tarde, era com a minha mãe que a gente aprendia a vida, as normas, as boas maneiras e o que “parecia mal” pois não se esqueçam que estamos no Porto, em meados dos anos 40.

Em 1953 deixei o Instituto para vir para casa fazer o enxoval. O que me ensinaram até aí foi o princípio do que tenho aprendido até hoje e a vontade de continuar a aprender.

Num segundo...(2)

Ainda por entre uma certa névoa, começou a tomar consciência do que se passava à sua volta, embora muito difusamente distinguia bombeiros, paramédicos e civis, uns feridos outros ajudando a retirar de entre os escombros os que não tinham capacidade para se mover.

Quis levantar-se mas não conseguiu e a dor que o fez gritar também o fez desmaiar de novo.

Quando veio a si estava já no corredor do hospital e deu-se conta que a azafama era grande e ouviam-se gritos e lamentações.

Tinham-lhe por certo dado um analgésico forte pois não sentia dor nenhuma e braços e pernas estavam como que dormentes.

Foi quando ouviu: há mais de 20 mortos...e se lembrou que tinha ido àquele Hotel para se encontrar com uma pessoa da qual dependia a sua vida futura.

Nunca soube o que lhe aconteceu ao certo porque as referencias que tinha eram escassas e quase secretas.

Quando ao fim de longos meses saiu do hospital ainda tinha dores no braço que já não tinha e o futuro era algo de muito incerto e angustiante.

Não voltou para a firma onde fora um dos melhores designers das campanhas mais difíceis e acabou mesmo por sair da cidade e ir viver para uma vilazinha no sopé da Serra no centro do país.

Incógnito, recatado e sempre cabisbaixo, a caminho do único emprego que lhe fora possível arranjar, de guarda e porteiro de uma fábrica, ia cogitando e falando baixinho entre dentes...

Afinal podia dar-se por muito feliz, estava vivo porquanto o portador da encomenda que ia receber naquela noite, naquele Hotel, fora vítima da mesma pois o engenho deflagrara 1 hora antes de ser colocada na Embaixada, seu destino final.

17.12.04

Num segundo...

O dia amanhecera há pouco e parecia que o Sol iria torná-lo um dia radioso, apesar da neve que ainda cobria as veredas e os cantos mais sombrios.
Aqui e ali uma porta se abria dando passagem a alguém que tinha madrugado o corpo, trazendo saudades da cama, piscando os olhos para a claridade da manhã.
Esfregavam-se as mãos para afastar as frieiras e o cieiro viera para ficar até à primavera, mas o ar era límpido, ausente da poluição das grandes cidades.
Ele viera de longe à procura dum olvido, duma cura, apenas com a energia suficiente para respirar cada dia que assim nascia e que era vivido dolorosamente.
Atrás ficara uma vida de alegria e bem-estar, de pessoa sem preocupações de espécie alguma até àquele desafortunado fim-de-semana, no princípio tão promissor.
Estava já tão longe no tempo, mas tão perto ainda na sua angústia. E acordara cedo e bem disposto nesse sábado, talvez por que o dia estava programado de modo a não haver falhas nos projectos. Iria à ginástica e faria uma sessão de massagem, depois de uma semana trabalhosa era o que lhe apetecia e lhe faria bem. Almoçaria sozinho, no restaurante do costume, pois um pouco de rotina lhe proporcionaria calma e tempo para ler o semanário que o esperava no banco ao lado. A seguir, depois de uma volta pelas lojas de que era cliente assíduo, a prova do último fato no alfaiate.
Mandar lavar o carro e vestir-se para o jantar combinado apenas o ocuparia o tempo necessário antes do seu encontro no bar dum Hotel para um aperitivo. Lá chegado, verificou que afinal era o primeiro, o que lhe dava ainda tempo para um telefonema.
Foi quando tudo desmoronou à sua volta com grande estrondo, o chão fugiu qual passadeira rolante e já no chão tudo ficou negro…uma bomba tinha rebentado no átrio do Hotel.
(continua)

16.12.04

três


Não tenho tempo para ter saudades,

estou muito ocupada a viver o presente!

O Metro


O Metro
Originally uploaded by kuskas.
Aconteceu que tendo ido à procura de umas fotos deparei com o "metro" em madeira com que na nossa loja se mediam panos e fitas, e para completar a" fotografia" fui procurar uma peça de pano daquele tempo e completo o conjunto, fotografia feita, aqui inserida como deve ser, apenas me resta falar um pouco sobre o mesmo.
Era obrigatório naquela altura o "metro" ter que ser aferido todos os anos por uma entidade, não sei qual e onde era gravada uma letra por cada ano. Ora eu conto nada menos que 38 letras, 38 anos, a que se juntarmos os anos de inacção, a partir mais ou menos de 1948, ano em que minha mãe terá fechado a loja, podemos deduzir que este utensílio terá à volta de 95 anos.
Ele também fez a guerra, trabalhando. Muitos metros de riscado, chita, pano-cru, tafetás, flanelas, cambraias e passa manarias terão sido medidos por este pedaço de madeira que é quase peça de museu.
A loja, por que à porta estávamos sentados muitas vezes, foi o meio que nos permitiu ser não miúdos de rua mas termos uma visão dela diferente dos outros miúdos. Conhecí­amos os vizinhos, até porque íamos a casa deles receber as quotas de cartões que a minha mãe emitia e de que fazia sorteio todas as semanas e foi por esse motivo que uma vez vimos na loja dos curtumes nada mais nada menos que o nosso gato, o "chaninho", desaparecido há já um tempo para nosso desgosto. Ora o que havia a fazer foi feito, e o "chaninho" foi "roubado" e trazido ao colo de um de nós, escondido debaixo da camisola, quero crer.
Mais tarde alguém o envenenou, que maldade!, mas o bichinho esperou pelo meu pai, que tinha feito piquete nos bombeiros, e só regressou de manhã. Morreu em cima do balcão da loja pouco depois do meu pai chegar.
Visto à distancia de 60 anos o nosso mundo era pequeno, era aquele pedaço de rua que ia da escola, ao fundo, até à Igreja do Bonfim lá no alto, mas que não nos era permitido percorrer sem acompanhamento devido de um adulto, grande era a distancia para uma criança que só gostaria que fosse maior para poder andar de eléctrico!

15.12.04

Aprendendo...sempre

Alguem, por uma questão de rigor, rectificou uma data que aqui foi mencionada e que por falta de pesquisa estava errada, pelo que só tenho a agradecer ao JT a preciosa achega

14.12.04

A Grande Guerra (2)

Quase todas as minhas recordações do tempo da guerra se situam na Rua do Bonfim,
Mas quando as sirenes anunciaram o fim da guerra já nós morávamos na Rua S.to Ildefonso, e a elas se juntaram as buzinas dos automóveis. Festa assim só quando o meu filho nasceu…no dia 31 de Dezembro, 17 anos mais tarde.
E que dizer das distancias? Viagens que agora se fazem todos os dias para ir para o trabalho, naquele tempo eram motivo para uma excursão. Para ir ao Bom Jesus, a Braga, ao Gerês, à Casa do Gaiato, a S. Miguel de Seide, até à Serra do Pilar…planeava-se uma excursão de um Domingo qualquer durante o verão.
No Inverno ia-se buscar “borralho” à padaria para acender a braseira onde não raras vezes queimei sola de sapato e era na padaria que se assava o carneiro em tempos de S. João e as castanhas no Inverno. A minha rua, do Bonfim, tinha tudo até uma carvoaria, o sapateiro onde também se mandava cortar as pontas dos sapatos para durar mais um ano, o barbeiro cuja irmã se enamorou do meu pai…homem jeitoso para a época.
Ao fundo da rua, a minha escola, que muitas vezes eu teria gostado que fosse longe para poder andar de eléctrico, como algumas das minhas coleguinhas. Ir ao Campo 24 de Agosto ou ao jardim de S. Lazaro era um passeio para recordar, era lá que íamos buscar as folhas de amoreira para dar aos bichos-da-seda que íamos acompanhando na sua metamorfose até ser casulo. Mas era o cheiro das tílias o que predominava sobre os outros.
Da guerra de lá longe as crianças pouco sabiam, e as poucas privações de que me lembro estavam relacionadas com o racionamento dos bens de consumo, com o cuidado em não deixar passar luz para fora à noite e claro com as tiras de papel, que no nosso caso eram de pano, nos vidros das janelas por causa dos estilhaços, em caso de bombardeamento.
Era o tempo dos soquetes, dos babeiros, dos cabelos em tranças ou cachos feitos com chá açucarado para não se desfazerem.
Era o tempo do”todo o tempo…”!

A Grande Guerra (1)

Quem, como eu, nasceu em 1933 veio a saber mais tarde que esse foi o ano em que mais ou menos Salazar e Hitler subiram ao poder. Tinha portanto 6 anos quando a Alemanha invadiu a Polónia, fingindo ter sido invadida por ela, nós sabemos, em Setembro de 1939.
Mas só em 1940, tinha feito 7 anos em Fevereiro é que pude entrar para a 1ª classe.
Meu pai, além de contabilista era bombeiro e ausente, minha mãe tinha uma loja, como eu disse, de panos e costura. Eram as empregadas da loja que assim que constava que em algum sítio havia bicha para isto ou aquilo eram “tarefadas” para ir a correr buscar um quilo de açúcar, arroz, 1 litro de azeite…produtos essenciais e que por este motivo nunca faltaram em minha casa.
Tudo era mais ou menos racionado e pessoas havia que, sem as possibilidades que nós tínhamos, sentiam mais os efeitos duma guerra que, embora longe, nos atingia a todos.
À noite tínhamos que correr cortinados e fechar portadas pois não raro éramos alertados por sirenes para um simulacro de ataque aéreo. Sons que ainda hoje me fazem sobressaltar um pouco, como por exemplo o das ambulâncias.
O carvão, quando não havia de choça ou de pedra, era feito em casa; com pó de carvão eram feitas umas bolas que depois eram secas ao sol no mesmo pátio onde no verão eram refeitos os colchões de palha e a sumaúma dos travesseiros era aberta e arejada.
Falava-se de pessoas que ficaram ricas com o negócio do “volfrâmio” e de contrabando vário, e foi de contrabando que minha mãe arranjou as primeiras meias de seda com costura que eu me lembro de ter visto.
Ainda conservo em meu poder o rádio que nos anos 40 meu pai trouxe para casa e onde ouvíamos as notícias; um destes dias tiro-lhe uma foto e coloco aqui, juntamente com mais algumas recordações.
Estranhamente não tenho saudades desse tempo, só gostaria de o poder visitar de vez enquanto…ou talvez não!
Deixemos que a magia da nossa meninice se não quebre!

11.12.04

1943


Incongruências

Este Carnaval foi chuvoso, foi um dos Invernos mais rigorosos de que me lembro, houve grande vendaval, este e o de 44, que o digam os homens do dia D.
Minha mãe fez questão, ponto de honra, de nos fantasiar e levar ao Club Fenianos Portuense, que por acaso comemorou faz pouco tempo o seu centenário.
Tudo foi confeccionado em casa, já que possuíamos uma loja de panos e costura.
O arco do saiote atrapalhava um bocado ao andar e as saias compridas ficaram molhadas e algo enlameadas, mas eu tinha 10 anos e queria era mostrar o fato aos vizinhos e amigos, com pena de não o poder fazer na escola pois estávamos de férias de Carnaval.
O fato do meu irmão era do mais rústico que havia, já que a camisa era de riscado as calças de caqui, calçava socos e como acessórios o clássico regador e respectivo ancinho, pelo que ganhou o prémio no desfile dos Fenianos, à frente dos que iam vestidos de cetim e lantejoulas.
Nessa época as crianças eram felizes com bem pouco!
O Natal também era bem diferente do de agora…
A árvore era armada na véspera, com bolas de vidro, anjinhos, sinos e velas de cera, colocadas em pequenos encaixes que se prendiam à “caruma” do pinheiro, enquanto na cozinha se iam fazendo as rabanadas, as filhoses, o creme com açúcar queimado com o ferro de mão e a imprescindível aletria. E até aos reis a conservávamos bem arranjada e bem iluminada, mesmo com risco de tudo se incendiar; às vezes acontecia…
Em pouco mais de meio século tudo é diferente…
Esta semana andei pelas feiras, que eu gosto, e onde vou sempre que posso à procura de uns mimos, quem sabe de um tempo passado!
Mas o que encontro nestes natais são fantasias de Carnaval!...

8.12.04

Era uma vez

Era uma vez…
Uma loja de brinquedos que nunca fechava e onde os meninos a toda a hora iam buscar entretenimento e se encontravam para contar histórias.
Alguns raramente lá iam, mas ao passar sempre olhavam a montra e apreciavam os produtos ali expostos.
Outros havia que eram assíduos e faziam da loja ponto de encontro de todos os dias.
Mas veio um tempo em que os meninos começaram a querer outros artigos, novidades e o desencontro foi inevitável entre eles, dado os seus interesses divergirem de forma tão notória.
Foi então que veio o sábio e disse:
Meus queridos não queirais daqui mais do que é possível caber neste espaço.
Tudo aqui tem de ser acessível a todos para que todos possam conviver e brincar juntos.
Cada coisa tem um lugar certo e podeis ver que apesar de simples tudo aqui é feito com qualidade e amor.
Compreendo o vosso interesse por artigos mais avançados em técnica, mas isso vocês têm que procurar noutro lugar, eu mesmo vos mostro o caminho.
Os meninos olharam uns para os outros e seus olhares confirmaram o que acabavam de ouvir.
E se alguns, seguindo o conselho sábio, foram em outras paragens procurar, outros ficaram porque ali se sentiam bem e até já bons amigos tinham conquistado.
No dia em que a loja fechar as portas e se afastarem os que por ali andam todos os dias, a recordação vai ficar na memória de todos eles, tenho disso a certeza.
De todos os lugares podemos tirar ensinamentos, de todos os lugares devemos adquirir bens para a vida!
Vivamos de modo a que as recordações sejam jóias que guardamos ciosamente em nossos corações

7.12.04

À mesa com os amigos

Por que folguei ao sábado, sentei-me à mesa com os amigos.
De manhã tinha comprado o livro “A festa de Babette” e embora as duas coisas nada tivessem a ver uma com a outra, foi uma refeição que fez com que a associação de ideias surgisse.
Enquanto naquela a ementa fosse principalmente a amizade, já nesta as iguarias eram dum requinte inusitado.
Vi o filme e pelo menos uma vez na vida gostaria de poder usufruir do prazer de dar daquela maneira e de orgulhosamente de me despojar do que por ventura tivesse de mais valioso, a minha dádiva de espanto!
Dos jantares de amigos nunca me lembro do que como, mas do que o meu ser se alimenta, pois essa é na verdade a fonte da vida.
O aperitivo foi “choro de bisneto”, salgadinho qb.
Seguiu-se a entrada de “cogumelos com farinheira” à amor de neta.
Para prato principal um “esparguete acrescentado cada vez que chegava mais um amigo”.
O vinho foi “chambreado” no calor da conversa.
Música suave durante o repasto, mas a acompanhar o café depois de uma sobremesa de “pão-de-ló sem buraco e mole no meio”, a guitarra dedilhada pelo dono da casa, à luz de velas e solos de riso que só a amizade sabe produzir.
No final da noite, à despedida, os abraços possíveis pois as bagagens de amor que levávamos connosco nos impediam de dizer adeus, mas até sempre!
E tudo isto porque folguei ao sábado e porque tenho como amigos a minha família para além daqueles que sendo meus amigos já fazem parte dela.

6.12.04

Carta a uma cartomante

D. Farrusca ou Patuska: desculpe é que se a algumas pessoas dá a branca a mim já dá a negra, que é muito pior, esperem pra ver...
D. Patarusca é que eu tenho andado muito por baixo, está a ver e para vir cá a cima é muito difícil que os transportes estão em greve!
E depois o meu caso é de todos o mais difícil já que eu não sou uma, nem duas, nem três, que já lhe perdi a conta, ela há a esponja mais a expertinha, sem falar na mamana, a Mi_bisa, a Behaba, a kuskas Augusta, a kk2 e se esqueci alguma, ela que me desculpe.....sim que elas me pedem contas todos os dias daquilo que fizeram durante o dia.
Ainda ontem tinha uma dor de cabeça "alucinante" por causa do barulho que elas faziam a discutir àcerca de mangussos, assunto sobre o qual nenhuma estava de acordo e se reprovavam mutuamente.
E depois se umas estão em baixo, há outras que estão em cima, e é vê-las num corropio de cima baixo e de baixo para cima.

Diga-me D. Fatuska qual é a solução para este "club", sim que isto é mais isso que uma pobre mulher de provecta idade, porque não adianta fazer delete em qualquer delas, que elas aparecem sempre que abro a porta do pc...pior que virus, parece que se multiplicam quais metástases!
E vou outra vez para baixo, que já ouço vozes e não me apetece aturar nenhuma,
Atenciosamente,
th

4.12.04

dois

A dor sofrida

é a que se trata na intimidade

3.12.04

Foi Natal

A menina de quem o pai diria mais tarde ao noivo:
tome bem conta dela que é uma mulher muito sensível..., dormia no andar de cima, na casa da avó.
E era bem verdade, tão sensível era que noite em que acordasse quando o pai chegava tarde a casa, era noite de zanga entre os pais.
Começava por ouvir o pai batendo as portas e logo a seguir a voz da mãe bem alto mas sem palavras, pois era mais um choro que lamento.
Nunca o pai levantara a mão para sua mãe, nunca ouvira que ele a insultasse, mas as discussões eram cada vez mais assíduas e mais graves.
Os tempos eram difíceis pois na Europa prolongava-se uma guerra que já se alastrava para leste.
Os racionamentos eram para todos os produtos essenciais e bichas formavam-se às portas das mercearias e estabelecimentos afins.
As crianças crescem depressa nestas condições e esta menina, apesar da pouca idade, começava a compreender que alguma coisa muito errada e muito séria se passava em casa de seus pais.
E foi naquela noite de Natal que a zanga maior separou pai e mãe, pois ele, disse, tinha negócios lá fora a tratar.
O Menino, em suas palhas deitado, deve ter estremecido!
A mãe só disse: negócios na noite de Natal?!
As crianças, a menina e seu irmão, olhavam tristes um para o outro, prevendo zanga grossa...
O pai acabou por sair, batendo a porta, a mãe ficou a chorar enquanto as crianças se iam deitar sem que o Menino Jesus tivesse chegado!
E foi por isso que a menina ainda hoje não gosta do Natal!

2.12.04

Desenhando

Ameaçando tempestade, nuvens negras apareciam ao longe, apesar do Sol ainda iluminar todo o jardim.
Havia flores de todas as cores enchendo canteiros inteiros. Uma fonte, ao meio, fazia ouvir o repuxo da água onde os passaritos cantavam.
Um baloiço ainda oscilava fazendo pensar que ainda há pouco fora motivo de brincadeira.
Folhas caídas pelo chão eram o prenúncio de em breve o Outono ir chegar, trazendo com ele os dias calmos, convidando à leitura e meditação.
A um canto a lenha estava pronta para a lareira que em breve apeteceria acender!
A varanda, coberta, com suas cadeiras de verga e almofadas amarelas e mesa para o chá ou um pequeno-almoço, quem sabe...
A música de Debussy poisava pelos cantos, oferecendo ao ambiente a atmosfera de que gente requintada gostava de se rodear.
E como que antecedendo os trovões que se avizinhavam, ouviu-se o barulho de um motor de um carro, que chegava.
.......
a estória vem depois, os actores ainda não entraram em cena...
que isto é apenas um décor possível para uma peça de teatro

1.12.04

um

enquanto a vida se esgota,

eu vou ficando mais triste!