11.12.04

1943


Incongruências

Este Carnaval foi chuvoso, foi um dos Invernos mais rigorosos de que me lembro, houve grande vendaval, este e o de 44, que o digam os homens do dia D.
Minha mãe fez questão, ponto de honra, de nos fantasiar e levar ao Club Fenianos Portuense, que por acaso comemorou faz pouco tempo o seu centenário.
Tudo foi confeccionado em casa, já que possuíamos uma loja de panos e costura.
O arco do saiote atrapalhava um bocado ao andar e as saias compridas ficaram molhadas e algo enlameadas, mas eu tinha 10 anos e queria era mostrar o fato aos vizinhos e amigos, com pena de não o poder fazer na escola pois estávamos de férias de Carnaval.
O fato do meu irmão era do mais rústico que havia, já que a camisa era de riscado as calças de caqui, calçava socos e como acessórios o clássico regador e respectivo ancinho, pelo que ganhou o prémio no desfile dos Fenianos, à frente dos que iam vestidos de cetim e lantejoulas.
Nessa época as crianças eram felizes com bem pouco!
O Natal também era bem diferente do de agora…
A árvore era armada na véspera, com bolas de vidro, anjinhos, sinos e velas de cera, colocadas em pequenos encaixes que se prendiam à “caruma” do pinheiro, enquanto na cozinha se iam fazendo as rabanadas, as filhoses, o creme com açúcar queimado com o ferro de mão e a imprescindível aletria. E até aos reis a conservávamos bem arranjada e bem iluminada, mesmo com risco de tudo se incendiar; às vezes acontecia…
Em pouco mais de meio século tudo é diferente…
Esta semana andei pelas feiras, que eu gosto, e onde vou sempre que posso à procura de uns mimos, quem sabe de um tempo passado!
Mas o que encontro nestes natais são fantasias de Carnaval!...

4 comentários:

Anónimo disse...

Pois é tudo mt bonito mas pouco pratico,as velas de cera pegavam fogo à arvore ,a resina lixava as maos e a roupa a caruma sujava tudo enfim,defenitivamente saudusismos não.

th disse...

Mas tiveram a vantagem de serem recordadas...de quantas de plástico é que se lembram?

Carlos Gil disse...

Eu recordo-me duns carros em madeira que se vendiam nas feiras, assim como o homem de bicicleta (também de madeira) que se empurrava e pedalava. Voltei a vê-los quase 20 anos depois por estas feiras e comoveu-me olhar para eles: fizeram-me lembrar a minha meninice no pré-África. Ao ler o teu texto comovi-me pois nas palavras li nos teus olhos essa recordação, essa saudade, e eu gostei que a partilhasses connosco. Obrigado por mais esta memória, Theo. Um beijo muito carinhoso para ti.

Anónimo disse...

Eis o privilégio de te termos, bisa: quase três quartos de século para contares, e nós aprendermos! _ uma que deixa a sugestão de voltares a pôr em palavras as tuas memórias da Segunda Guerra, por exemplo...IO