14.12.04

A Grande Guerra (1)

Quem, como eu, nasceu em 1933 veio a saber mais tarde que esse foi o ano em que mais ou menos Salazar e Hitler subiram ao poder. Tinha portanto 6 anos quando a Alemanha invadiu a Polónia, fingindo ter sido invadida por ela, nós sabemos, em Setembro de 1939.
Mas só em 1940, tinha feito 7 anos em Fevereiro é que pude entrar para a 1ª classe.
Meu pai, além de contabilista era bombeiro e ausente, minha mãe tinha uma loja, como eu disse, de panos e costura. Eram as empregadas da loja que assim que constava que em algum sítio havia bicha para isto ou aquilo eram “tarefadas” para ir a correr buscar um quilo de açúcar, arroz, 1 litro de azeite…produtos essenciais e que por este motivo nunca faltaram em minha casa.
Tudo era mais ou menos racionado e pessoas havia que, sem as possibilidades que nós tínhamos, sentiam mais os efeitos duma guerra que, embora longe, nos atingia a todos.
À noite tínhamos que correr cortinados e fechar portadas pois não raro éramos alertados por sirenes para um simulacro de ataque aéreo. Sons que ainda hoje me fazem sobressaltar um pouco, como por exemplo o das ambulâncias.
O carvão, quando não havia de choça ou de pedra, era feito em casa; com pó de carvão eram feitas umas bolas que depois eram secas ao sol no mesmo pátio onde no verão eram refeitos os colchões de palha e a sumaúma dos travesseiros era aberta e arejada.
Falava-se de pessoas que ficaram ricas com o negócio do “volfrâmio” e de contrabando vário, e foi de contrabando que minha mãe arranjou as primeiras meias de seda com costura que eu me lembro de ter visto.
Ainda conservo em meu poder o rádio que nos anos 40 meu pai trouxe para casa e onde ouvíamos as notícias; um destes dias tiro-lhe uma foto e coloco aqui, juntamente com mais algumas recordações.
Estranhamente não tenho saudades desse tempo, só gostaria de o poder visitar de vez enquanto…ou talvez não!
Deixemos que a magia da nossa meninice se não quebre!

3 comentários:

Anónimo disse...

Uma pessoa com toda a tua vivência e memória tem que continuar.
Não me lembro se é na minha cédula ou na dos meus irmãos mais velhos que há uns carimbos que foram colocados para os meus pais poderem levantar determinadas coisas.
Beijinhos duma portista LH

Anónimo disse...

Isso, mesmo, Theo!!_ beijo, IO.

Anónimo disse...

Excelentes as suas recordações e de valor inestimável para recordação de uma época forte e marcante. Ainda por cima com esse dom de escrita que nos mete a realidade dentro da sensibilidade. Fiz no meu blogue um reparo aos anos que "perdoou" à ditadura de Salazar. Peço-lhe que não leve a mal. Faça favor de não parar. Abraço. João Tunes