18.12.04

Num segundo...(2)

Ainda por entre uma certa névoa, começou a tomar consciência do que se passava à sua volta, embora muito difusamente distinguia bombeiros, paramédicos e civis, uns feridos outros ajudando a retirar de entre os escombros os que não tinham capacidade para se mover.

Quis levantar-se mas não conseguiu e a dor que o fez gritar também o fez desmaiar de novo.

Quando veio a si estava já no corredor do hospital e deu-se conta que a azafama era grande e ouviam-se gritos e lamentações.

Tinham-lhe por certo dado um analgésico forte pois não sentia dor nenhuma e braços e pernas estavam como que dormentes.

Foi quando ouviu: há mais de 20 mortos...e se lembrou que tinha ido àquele Hotel para se encontrar com uma pessoa da qual dependia a sua vida futura.

Nunca soube o que lhe aconteceu ao certo porque as referencias que tinha eram escassas e quase secretas.

Quando ao fim de longos meses saiu do hospital ainda tinha dores no braço que já não tinha e o futuro era algo de muito incerto e angustiante.

Não voltou para a firma onde fora um dos melhores designers das campanhas mais difíceis e acabou mesmo por sair da cidade e ir viver para uma vilazinha no sopé da Serra no centro do país.

Incógnito, recatado e sempre cabisbaixo, a caminho do único emprego que lhe fora possível arranjar, de guarda e porteiro de uma fábrica, ia cogitando e falando baixinho entre dentes...

Afinal podia dar-se por muito feliz, estava vivo porquanto o portador da encomenda que ia receber naquela noite, naquele Hotel, fora vítima da mesma pois o engenho deflagrara 1 hora antes de ser colocada na Embaixada, seu destino final.

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