30.12.05

Rotina


Chego a casa e abro o computador, antes mesmo de tirar o casaco.
Esta ânsia de me interligar às pessoas faz de mim uma dependente, o que de todo não me agrada.
Lutei para me desligar de amarras e agora vejo-me assim ansiosa por estar sempre acompanhada.
Claro que a desilusão é grande pois cada um tem a sua vida e eu uns horários tolos para o normal das pessoas.
Questiono-me sempre se o limite da expectativa é demasiado alto, e se a culpa é minha se a resposta vem quase sempre abaixo do esperado.
Faço o que tenho a fazer, ponho o PC a dormir e saio para a rua.

23.12.05

Há Natais

sem%20familia-Ninguém lhe iria perdoar se não escrevesse um conto relativo à época de Natal, qualquer coisa enternecedora, que não fosse muito piegas, mas também não muito dramática. Assim abriu o computador portátil, colocou os dedos nas teclas e dispôs-se a transcrever o que fluísse dum cérebro já cansado de contos e inventos. Primeiro a paisagem, os personagens, depois o enredo. Uma aldeia bem longe de qualquer grande cidade, pelo seu bucolismo, era sempre uma boa aposta, e nessa aldeia haveria sempre personagens à altura de um bom conto, segredos por desvendar, pobres e ricos, contas antigas para saldar.

Assim nasceu no sopé da Serra, uma qualquer Serra servia para o caso, e é sempre uma imagem bonita, uma pequena aldeia donde a maior parte dos habitantes de menos de trinta anos tinha já debandado para a cidade ou para o estrangeiro. Ficaram os velhos e os muito pequenos à guarda deles, só por alguns meses, diziam os pais, que partiam em busca de uma vida melhor, chamados pelos cunhados ou tios que se tinham dado bem naquelas terras distantes, apesar das saudades do bom vinho tinto, dos enchidos, da broa e até do bacalhau. Quando Zefo partiu, para não perder uma boa oportunidade de trabalho, Manuela ficara grávida de seis meses e uma vida grávida de dívidas, que aos poucos foram sendo pagas com o dinheiro que Zefo mandava lá de fora. O Natal estava quase a chegar e Manuela, no fim do tempo, esperava que o seu homem pudesse ainda vir a tempo de assistir ao parto que se avizinhava e tão esperado era por toda a família, pequena, mas unida.

-Olhou para o monitor e achou a história demasiado banal, demasiado idêntica ao presépio que encimava a chaminé da sala onde costumava escrever os seus contos. Tinha que dar vida às figuras de barro que a compunham, torná-las verdadeiras, sofredoras, de carne e osso. Continuaria no dia seguinte, o cansaço era grande e as ideias pobres e custosas. Acordou no dia seguinte cheio de imagens, tivera um sonho em que Manuela dera à luz dois bebés, em vez do esperado rapaz.

Mas Manuela entrou na maternidade já com o parto a decorrer, pois a ambulância tardou de ter ido levar o Ti Jaquim ao Hospital, com uma crise de pedra no rim, que o fazia dar gritos de animal. E foi assim que Zemanelito nasceu, uma semana antes de Natal, pai ausente, em terras de França, conduzindo um camião cheio de brinquedos para a pequenada. Pela estrada fora Zefo só pensava na hora de voltar, só dois dias depois é que soube que era pai de um rapagão que tinha deixado exausta a mãe ao nascer.

-Tinha saído de casa à pressa por causa daquele telefonema estranho que desde manhã lhe não saia do pensamento. Fora procurar um amigo da Embaixada para procurar saber alguma coisa do filho e neto, já que a nora sabia-a em Paris, com os pais. Olhou para o computador, mas definitivamente o conto teria que esperar, mas precisava de ir à net em busca de ajuda, alguém, alguma comunidade do médio oriente que o elucidasse sobre o que se estava a passar, se é que o assunto já seria público. Passou a tarde nas suas buscas e só à noite, depois do filho lhe ter telefonado, conseguiu disponibilidade para escrever um pouco.

Na antevéspera de Natal Manuela foi para casa com seu bebé nos braços, sem no entanto ter tido notícias do seu homem. A sogra e a mãe revezavam-se nos cuidados ao bebé, era o primeiro neto e há muito que não havia crianças na família. Neste momento os telefones tocam em casa do contista e em casa de Manuela, ansiosos ambos atendem na esperança de ouvir notícias daqueles entes que tão longe os preocupam por falta de uma palavra apaziguadora quanto aos perigos que no estrangeiro ambos correm. Zefo ri às gargalhadas, de contente, quando sabe do nascimento do filho, embora triste por não poder estar presente a quando do parto; partirá no dia seguinte a tempo de passar a ceia com a família.

-O mesmo já não sucede ao filho e neto do escritor que, apanhados no meio duma insurreição, as fronteiras fechadas, aviões que não levantam voo e com militares por todo o lado, dificilmente conseguirão sair do país. Eles esperam ainda poder fugir, atravessar pelo único sítio que sabem ainda não estar vigiado, de carro talvez, atravessar para França, chegar a Paris a tempo de se juntarem aos demais familiares.
No aeroporto gente que tenta à última hora uma passagem a mais para aqui ou ali, abraços aos que chegam, a longa espera doutros pelo avião que se atrasou…
Com o computador na bagagem Maurício embarca, sem no entanto ter a certeza que vai ver toda a família, pois nas últimas 48 horas o telefone permaneceu mudo.
A nora esperava-o no aeroporto, mas sem noticias a não ser aquela de alguém que a tinha avisado que marido e filho tinham partido em segurança, mas clandestinamente, para o país vizinho, donde esperavam obter transporte para França.
Contarão depois que ainda foram interceptados quase a chegar ao lado de lá, mas escondidos sob fardos de mercadorias não tiveram mais problemas e estão agora nos braços comovidos de quantos os que nestes dias sofreram ansiosos pela sua chegada.
Os últimos quilómetros foram feitos à boleia, num camião de um português que estava de partida para Portugal, onde há dias lhe tinha nascido um filho.

Há Natais assim!

22.12.05

à espera dum conto

Estou a preparar um conto de Natal, mas se houver pressões bloqueio e vai transformar-se num conto de Carnaval, p'raí.
Entretanto vão-se entretendo em abrir este link e verem o que o Menino Jesus já me mandou:

http://holidays.blastcomm.com/holidays03.html

15.12.05

Pluralidade
















E eis senão quando...nos é apresentado, para agradar a "gregos" e "troianos", este conjunto de presépio (bem português), renas, bonecos de neve e árvore de Natal, numa pluralidade bem própria da época natalícia...

(a ver no Cascais-Shopping)

Gostaria de Ler


Gostaria de ler no Jornal da Região que não há pobres no concelho de Cascais em vez da notícia que “somente” na zona nobre de Cascais, para onde foram canalizados 260.000 euros (260 mil euros), as iluminações de Natal estão a funcionar. Cada Junta de Freguesia ainda não recebeu os 19 mil euros que lhes foram atribuídos já em Janeiro de 2005 para este efeito…
Gostaria de ler que a solidariedade se tem manifestado, particularmente nesta época, de modo a que todas as famílias tenham qualidade de vida, os que estão sós sejam acolhidos em colectividades, onde aliás todo o ano ali encontram apoio e ajuda, usufruindo dum bem caro a todo o ser humano, o sentir-se gente que tem carinho e amor.
Gostaria de ler que as crianças, as crianças Senhor!
Gostaria de ler que não há mais crianças maltratadas pelos pais e familiares, têm famílias harmoniosas, onde os laços são fortes, onde há uma inter ajuda, alicerces resistentes que augurem futuros equilibrados.
Gostaria de ler histórias sobre o respeito devido a cada individuo, seja ele de que credo, cor ou raça.
Gostaria de ler que a Paz veio até nós, e finalmente os direitos de cada povo foram devidamente salvaguardados.
Se foi para “ler” este mundo de abrolhos… com esses teus lindos olhos!
Antes fosse ceguinha…

E foi assim que me lembrei de António Nobre:

A Vida

Ó grandes olhos outonais! místicas luzes!Mais tristes do que o amor, solenes como as cruzes!Ó olhos pretos! olhos pretos! olhos corDa capa de Hamlet, das gangrenas do Senhor!Ó olhos negros como noites, como poços!Ó fontes de luar, num corpo todo ossos!Ó puros como o Céu! ó tristes como levasDe degredados! Ó Quarta-Feira de Trevas!Vossa luz é maior que a de três luas cheias,Sois vós que alumiais os presos, nas cadeias.Ó velas do perdão! candeias da desgraça!Ó grandes olhos outonais, cheios de graça!Olhos acesos como altares de novena!Olhos de génio, aonde o bardo molha a pena!Ó carvões de acendeis o lume das velhinhas,Lume dos que no mar andam botando as linhas...Ó farolim da barra a guiar os navegantes!Ó pirilampos a alumiar os caminhantes,Mais os que vão na diligência pela serra!Ó extrema-unção final dos que se vão da Terra!Ó janelas de treva, abertas no teu rosto!Turíbulos de Luar! Luas cheias de Agosto!Luas de Estio! Luas negras de veludo!Ó luas negras, cujo luar é tudo, tudoQuanto há de branco: véus de noiva, calDa ermida, velas de iate, sol de Portugal,Linho de fiar, leite de nossas mães, mão juntasQue têm erguidas entre círios, as defuntas!Consoladores dos Aflitos! Ó olhos, as portasDo Céu! Ó olhos sem bulir como águas mortasOlhos ofélicos! Dois sóis, que dão sombrinha...Que são em preto os olhos verdes de Joaninha...Olhos tranquilos e serenos como pias!Olhos cristãos a orar, a orar ave-mariasCheias de Luz! Olhos sem par e sem irmãos,Aos quais estendo, a toda a hora, as frias mãos!Estrelas do pastor! Olhos silenciosos,E milagrosos, e misericordiosos,Com os teus olhos nunca há noites sem luar,Mesmo no Inverno, com chuva e a relampejar!Olhos negros! vós sois duas noites fechadas,Ó olhos negros! como o céu das trovoadas...Mas dize, meu amor! ó dona de olhos tais!De que te serve ter uns astros sem iguais?Olha em teu redor, poisa os teus olhos! O que vês?O tédio, o tédio, oh, sobretudo o tédio! O mêsEm que estamos, igual ao mês passado e ao que há-deVir. Ódios, ambições, faltas de honra, vaidade(Quase todos a têm, isso é o menos), o orgulhoInsuportável tal o meu, e o sol de Julho!Jesus! Jesus! quantos doentinhos sem botica!Quantos lares sem lume e quanta gente rica!Quantos reis em palácio e quanta alma sem férias!Quantas torturas! quantas Londres de misérias!Quanta injustiça! quanta dor! quantas desgraças!Quantos suores sem proveito! quantas taçasA transbordar veneno em espumantes bocas!Quantos martírios, ai! quantas cabeças loucas,No manicómio do planeta! E as orfandades!E os vapores do mar, doidos, às tempestades!E os defuntos, meu Deus! que o vento trás à praia!E aquela que não sai por ter usada a saia!E os que soçobram entre a vaidade e o dever!E os que têm, amanhã, uma letra a vencer!Olha essa procissão que passa: um torturadoDe infinito! Um rapaz que ama sem ser amado,E para ser feliz fez todos os esforços...Olha as insónias duma noite de remorsos,Como dez anos de prisão maior celular!Olha esse tísico a tossir, à beira-mar...Olha o bebé que teve torre de coralDe imensas ilusões, mas que uma águia, afinal,Devorou, pois, ao vê-la ao longe, avermelhada,Cuidou, ingénua! que era carne ensanguentada!Quantos são, hoje! Horror! A lembrança das datas...Olha essas rugas que têm certos diplomatas!Olha esse olhar que têm os homens da política!Olha um artista a ler, soluçando, uma crítica...Olha esse que não tem talento e o julga terE aquele outro que o tem... mas não sabe escrever!Olha, acolá, tantos estúpidos, meu Deus!(Morrendo, diz-se, vão para o reino dos Céus...)Olha um filho a espancar o pai que tem cem anos!Olha um moço a chorar seus cruéis desenganos!Olha o nome de Deus, cuspido num jornal!Olha aquele que habita uma torre de sal,Muros e andaimes feitos, não de ondas coalhadas,Mas de outras que chorou, de lágrimas salgadas!Olha um velhinho a carregar com a farinhaE o filho no arraial, jogando a vermelhinha!Olha, lá vai saindo o paquete Dom GilCom os nossos irmãos que vão para o Brasil...Olha, acolá no cais uma mulher como choraÉ o marido, um ladrão, que vai «pla barra fora»!Olha esta noiva amortalhada, num caixão...Jesus! Jesus! Jesus! o que i vai de aflição!Ó meu amor! é para ver tantos abrolhos,Ó flor sem eles! que tu tens tão lindos olhos!Ah! foi para isso que te deu leite a tua ama,Foi para ver, coitada! essa bola de lamaQue pelo espaço vai, leva como a andorinha,A Terra! Ó meu amor! antes fosses ceguinha...António NobreParis, 1891

Adenda: desculpem a maneira como este post está formatado, mas não consigo de outra maneira...azelhice minha.)

12.12.05

Aroma de Natal



Nos últimos anos, por esta altura, dá-me um enjoo que só me apetece hibernar até Janeiro.
Já ando enjoada de luzes, sempre as mesmas, de música de Natal, sempre a mesma, de enfeites, sempre os mesmos…
Já em fins de Outubro começa a fantochada, denúncia da ganância ou aflição dos comerciantes e falta de discernimento dos compulsivos compradores.
As frases:
Tenho que dar
Tenho que comprar
Não sei o que hei-de dar, são frequentes, para alem de outras denotando que afinal a intenção nem sempre, ou quase nunca é a que deveria presidir às dádivas de Natal.
Nos meus tempos de menina a árvore fazia-se no próprio dia, com a colaboração de adultos e crianças enquanto a consoada era preparada pelas mulheres da casa.
Nos meus tempos de menina só as crianças recebiam no sapatinho as prendas que o Menino Jesus colocava à meia-noite pela chaminé e que logo pela manhã do dia 25 eram a surpresa e a alegria da pequenada.
Tive uma vez uma boneca que minha mãe vestiu em segredo com roupinha feita por ela e pelas empregadas da loja que ela possuía. Já casada tricotei para o meu marido (aí já os adultos recebiam prendas) uma camisola que em segredo me levou meses a fazer.
Agora são as compras à pressão ou á ultima da hora, as exigências dos jovens, as críticas dos adultos…
As prendas deixaram de ser “a lembrança”, para serem aquela obrigação que nos deixa depenados, muitas vezes são dinheiro como resolução fácil ou a pedido.
No meio de todo este enjoo, há dois dias, na Parede, ao passar por uma venda, aspirei o verdadeiro aroma do Natal, nada menos do que os cheiros de pinheiro e ananás juntos.
Eu sei que as coisas mudam, eu gosto que as coisas mudem, mas por favor com amor!
Dêem Amor em cada lembrança de Natal!

11.12.05

O Quadro


O Bar finalmente abrira!
A decoração estava sóbria como entendia que devia ser uma decoração de um bar de convívio.
As colunas de som bem distribuídas transmitindo a música ambiente que era de desejar numa casa como aquela, requintada e cuidada ao gosto de clientela que se esperava especial.
Nas paredes alguns quadros, faziam parte duma exposição que estivera já numa galeria sem grande sucesso.
Aqui, na penumbra do bar, as cores eram mais dramáticas e o movimento das formas mais ousado, com sombras significativas aqui e ali.
Eram ao todo oito, de diversas dimensões, que se uniam entre si por um fio condutor de um único tema: “O Grito”.
Pertenciam a um pintor anónimo e principiante que, dependendo da aceitação do público poderia vir a ser um dos pintores da moda ou não, e claro do mecenas, dono do bar.
Os primeiros dias foram eufóricos, com gente entrando e saindo, convívio alegre e “gay”, sem pleonasmo…
Aos poucos o ambiente foi ficando mais íntimo, mais propício à convivência calma de uma boa tertúlia, o tempo necessário para deitar um olhar em redor e reparar na angústia daqueles “gritos” pendurados à espera dum olhar mais atento.
Havia um, em especial, que chamava a atenção de quem circulava pelas paredes um olhar curioso, o grito da hiena, cabeça de mandíbulas abertas num apelo enigmático, a morte espalhada até a um pôr-do-sol deslumbrante.
Foi o único que foi roubado naquela noite em que o bar foi assaltado por um bando que destruiu tudo o que era possível de destruir, deixando junto do pintor, inconsciente, os gritos dilacerados, espalhados pelo chão.

10.12.05

O 3º debate.



Tenho gravados os dois primeiros, mas ainda não vi.
Este, na RTPN, acabei agora de ver.
Cavaco Silva não olha os interlocutores de frente, o seu olhar é dirigido para baixo, como se estivesse num plano superior, apesar da sua manifesta falta de confiança, mãos que tremem, denunciando um certo nervosismo. O seu discurso sempre fugindo para a governação, embora um alerta interior o corrija de vez em quando.
Francisco Louça tem o dom da palavra e o conhecimento dos dossiers. Como deputado está melhor informado e expõe de forma mais clara os seus pontos de vista.
Falo de dois candidatos em quem não votarei, eu, sem o dom da palavra e sem o conhecimento da política como conviria, que me perdoem os meus leitores.

9.12.05

Fui deitar o Sol!






Hoje fui deitar o Sol nas ondas do Mar.

ficou o azul na água,

E o adeus no Céu!

Análise

Perdi um pouco o ritual…
Perdi um pouco de incentivo.
A descoberta deixou de ser aquele brinquedo novo que me deixava absorvida até o dia raiar.
A net!
Passeei muitas vezes pela noite adentro de mão dada com as palavras, ideias que surgiam às vezes já quando o sono queria tomar conta das minhas pálpebras, em batidas compassadas.
A net!
Começaram a aparecer as pessoas, tornaram-se reais, algumas delas.
O passado em simples narrativa, tão aliciante para alguns, o meu passado, por mais passado do que o deles, foi pretexto para elogios e grandes cumprimentos.
Eu estava contente comigo mesma e os outros também, e eram disso causa.
Veio depois o hábito, a habituação, e daí ao vício foi um passo. Não sendo mulher de vícios fui aos poucos alterando os passos, voltando aos antigos costumes, não deixando porém de ficar presa ao que se passava na net.
Numa idade em que as coisas se passam mais rápidamente, ao contrário do desenvolvimento das células, fui aos poucos deixando que o deslumbramento fosse ultrapassado, e aqui me surge uma dúvida…pela preguiça ou pelo stress?
Algo veio tomar conta das minhas horas, daquelas horas de lazer que me traziam até aqui, inventando “estórias”. “Mexer-me” para o que é essencial exige de mim toda a energia disponível. Daí que os últimos posts sejam pobres e desmotivados.
Creio que nestas situações o único remédio é deixar o tempo passar e esperar que os neurónios se recomponham, quiças não sobrecarregar a mente à procura pelo meandro da imaginação daquilo que, estou certa, virá naturalmente, depois da casa arrumada.
Aqui ou ali vou dando conta do estado da situação, na medida do possível.

5.12.05

Ainda o Outono


Do Outono
há folhas caídas pelo chão,
com que o vento brinca
e saudades dentro de nós.
A luz é difusa,
os dias pequenos,
os meus passos me levam
ao futuro incerto...

4.12.05

O Outono ao pé de casa


O Outono ao pé de casa.
Face quente de ventos e abraços,
Chuva miúda caindo pelos beirais,
Escorrendo em tristeza como lágrimas
Em tardes de frio adivinhado.

Enterra paixões...

ABCRecebi um mail de um amigo do Porto que "reza" assim:

Deves achar estranho o titulo desta foto nao?Isto e foto de uma tasca na rot da boavista. Entao, as pessoas passam nos funerais para o cemiterio. Findas as cerimónias vai tudo para esta tasca "enterrar" as magoas, entendeste?Macabro não?Mas é assim que a tasca é conhecida.Beijinhos e bom domingo para todos voces

1.12.05

D'África


Arte Qui, 06/10/2005 - 17:02, por china
O Guardian publicou hj uma conversa com o escritor David Cornwell, mais conhecido pelo pseudônimo John le Carré
O autor de "O Espião que Saiu do Frio" comenta a adaptação para o cinema do livro, The Constant gardener (O jardineiro fiel), feita pelo Fernando Meirelles.
Cornwell aprovou a atualização de alguns diálogos incluindo críticas à participação britânica na invasão do Iraque.
......................................................
Por razões laborais entrei na sala de cinema já o filme tinha começado, o que me dificultou a integração no ambiente do filme.
Mesmo assim senti a amplitude da paisagem africana, a impressionante cor vermelha da terra, uma acácia, mas sobretudo o povo, a miséria, a doença...
Surpreendentemente o sorriso, a alegria nos rostos das crianças
.

28.11.05

Ai Minha Machadinha



Ai Ai Ai Ai Ai minha machadinha,
Ai Ai Ai Ai Ai minha machadinha,
Quem te pôs a mão,
Sabendo qu’és minha.
Quem te pôs a mão,
Sabendo qu’és minha.


Sabendo qu’és minha
Também eu sou tua
Sabendo qu’és minha
Também eu sou tua
Salta machadinha
P’ró meio da rua
Salta machadinha
P’ró meio da rua

No meio da rua
Não hei-de eu ficar
No meio da rua
Não hei-de eu ficar
Deixem-me ir à roda
Escolher meu par
Deixem-me ir à roda
Escolher meu par


(hoje, por momentos, enquanto escrevia esta canção de roda, senti-me menina outra vez...)

19.11.05

O Círculo dos Quatro


Passadas as paixonetas da adolescência tinham ficado inseparáveis, os quatro.
Não havia evento que um quisesse ir que não fossem os quatro, estudavam juntos as matérias que tinham em comum e se não andavam com as mesmas roupas era porque nesse aspecto cada um tinha os seus gostos.
Trocavam músicas e livros e frequentavam os mesmos cinemas e cafés.
Daí que não se compreendesse que tivessem destinos tão díspares.
Rosa casou-se com um alemão que conheceu numa das suas viagens pela Europa e foi viver para uma pequena cidade perto da fronteira com a França, teve 3 filhos e enviuvou ainda jovem não voltando a casar.
Já Linda foi sempre independente e nunca quis compromissos, engravidou de um dos namorados, mas não quis casar. Quando o bebé nasceu foi-lhe diagnosticada uma doença rara e acabaria por morrer alguns meses depois. Linda dedicou-se ao ensino e foi dar aulas para o interior donde nunca mais saiu, a não ser para vir á capital ver a pouca família e os amigos.
João cedo se apercebeu da sua diferença em relação aos outros no que dizia respeito ao sexo. Começou por tentar relacionar-se com raparigas, acabando por casar e ter uma filha, mas logo se separou para ir viver com um homem por quem se apaixonara perdidamente. A relação, porém, era tumultuosa demais e acabaram por se separar ao fim do 3º ano de vivência em comum.
Eduardo, dos quatro, foi o que teve a vida mais “normal”. Acabou o curso, arranjou um bom emprego numa multinacional, casou, só não teve filhos pois a mulher não conseguia engravidar, por mais tratamentos que fizesse.
Passaram quinze anos e eis que estão de novo juntos na capela onde jaz João, morto por um assaltante à saída duma discoteca.
Rosa, que se encontrava em Portugal de visita à família, não deixou passar a oportunidade para se encontrar com os amigos e chorar o companheiro.
Linda estava de férias, aproveitando o bom tempo para ir até à Costa, estar com o Mar de que tinha sempre saudades. Soubera da morte do João pelos jornais e logo se comunicou com os outros, de que sempre estivera em contacto.
Eduardo viera com a mulher, uma figurinha frágil e amorosa que trazia pela mão um irrequieto rapazinho que ambos adoptaram quando todas as esperanças de ter filhos foram goradas.
Ao fundo da capela um vulto se mantinha oculto pelas sombras dos pilares, era Ana, a filha de João. Vinha ver o pai pela última vez e lamentar só o ter conhecido tarde demais, há um mês, naquela mesma discoteca, onde de então para cá se encontravam às escondidas da mãe, que nunca lhe perdoara o abandono.
Ana tinha a seu lado o namorado, que não a deixara vir sozinha numa ocasião tão especial e dolorosa. Tinham vindo com eles dois amigos, a Vanda e o Roberto.
E estes novos quatro eram o futuro e deles dependeriam as novas vidas, as novas histórias para contar…

17.11.05

De: Maria/Para: Maria



Querida Amiga

Porque o és antes de mais e depois de tudo, amiga, te escrevo de coração aberto, com afecto e carinho.
Todos nós, nem que seja apenas uma vez na vida, criamos laços de amizade onde antes outros sentimentos imperavam, talvez numa ânsia de conquista ditada pela nossa insegurança. É como o metal valioso depois de depurado e atravessado provas e mais provas.
Estou em crer que o nosso carinho é resultado de provas provadas, mas sobretudo de sinceridade e honestidade no relacionamento por que temos passado.
Vamos fazendo o charme porque ele nos é caro e faz parte da nossa maneira de ser.
Não exigimos mais do que nos podemos dar e não prometemos nunca aquilo que sabemos jamais nos será permitido oferecer.
Desta mistura nasceu uma amizade que muito prezo e da tua presença tenho saudades, mas não só…
Tenho saudades das nossas conversas ao telefone, conversas de nós, da companhia na net, sentir-te ali ao lado, a uma tecla de distância.
A nossa amizade é Bela, e como não há Bela sem senão…
Estou grata por tu existires na minha vida, pelo carinho que sinto me dedicas e pela cumplicidade que há entre nós.
Amiga, um beijo com toda a minha ternura.
Maria

13.11.05

Domingo

Neste Domingo, em que choveu e fez já muito frio, saí de manhã e fui ver o Mar, amigo que sempre está lá para meu e nosso contento.
Apesar das condições atmosféricas havia, como podem ver, muita gente na água, fazendo surf ou simplesmente tomando banho.
Depois do trabalho, ao chegar a casa, fui espreitar a net e deixei-me influenciar pela IO e fui
aqui e em boa hora, já que deparei com uma autentica maravilha, experimentem!

12.11.05

Uma história simples


Chiquinha tinha um defeito numa perna e nunca casou, quem sabe se por causa disso ou por ser pobre e viver num meio pequeno.
Tinha uma cara linda e um sorriso angelical.
Um dia apareceu no lugarejo um caixeiro-viajante que se perdeu de amores por Chiquinha, que logo correspondeu ao cortejar do vendedor de cutelarias e demais utensílios de cozinha.
Casaram faz um mês e vivem na pequena cidade de onde ele é oriundo.
E se pensam que daqui vai sair uma história complicada, ponham as barbas de molho que estes vão viver felizes e amantes para sempre.
Amem.

Amorfo, não!



Há coisas, sentimentos, verdadeiramente íntimos.
A tristeza e a alegria, quando profundas, são duas delas.
É vergonha chorar em público e rir demasiado, em gargalhadas, também o pode ser.
No entanto são das expressões de sentimentos que melhor fazem à alma, digo, saúde.
O chorar limpa assim como o gargalhar; pobres de nós quando já não formos capazes de uma coisa e outra.
Já o chorar “baixinho” e o sorrir devem ser expressos na intimidade para serem mais eficazes.
Às vezes chora-se por dentro e explodimos de alegria no nosso íntimo e não queremos que ninguém se dê conta disso por serem sentires muito nossos e de que somos avaros.
Quando não consigo rir daquilo de que toda a gente acha graça, fico triste e sinto-me incapaz. Gostaria de ser suficientemente inocente para rir com as pessoas, saudavelmente, alegremente, com aquela bonomia que enche o peito e traz o Sol para os nossos dias sem luz.
Tristezas não pagam o défice e rir de certas coisas pode ser a única solução.

11.11.05

A culpa é dela...


Sim, a culpa é da Sissi...de eu estar acordada até esta hora.
Não chega a manhã para eu a levar à Brisa e lhe dar uma via verde com o seu nome, para começar. Depois vai ser um alarme, para não ser raptada, com comando e um leitor de Cds para os nossos passeios ficarem mais amenos...
Digam lá se não é uma menina bué geitosa! e bailarina, a cachopa...lol

9.11.05

Em 2004

Há um ano escrevia eu assim:

9-11-2004

a minha sina

Isto é sina minha...não lhe chamo praga por que é uma andança engraçada esta de seguir sempre, desde o dia 3 de Janeiro deste ano, atrás do Sr. Gil... Só queria mesmo fazer um comentário no seu novo Xicuembo e eis que me vejo metida em "assados"... Olha já estou como o outro- se já está ...deixa estar, depois logo se vê...lol. Não sei se ainda existem sebentas, aqueles caderninhos onde se faziam os rascunhos antes de passar a limpo em letra cuidada e correcções feitas, redacções ou trabalhos da escola. Pois, de qualquer maneira, assim vai ser. GENTE VAMO-NOS DIVERTIR!
posted by th 7:02 AM 3 comments

E assim nascia A Sebenta

Até quando?

hoje tive saudades tuas, minha Mãe!

5.11.05

Afazeres



Por Cascais

e Por Lisboa







Prometo voltar breve...(fotos tiradas com o telemóvel)

23.10.05

Ond'anda?


É uma mãe dedicada e uma avó babada, como se ousa dizer…
Há mais de 20 anos que é a única provedora da educação duma jovenzinha um tanto ou quanto rebelde, um tanto ou quanto amorosa e linda. É uma das mulheres de fibra da minha família. Ultrapassou, por vezes sozinha, reveses e dificuldades que só ela sabe, pois pouco se queixa quando a vida é pior que madrasta, que essa até lhe dedica grande amizade.
Paby, que é tão diferente de mim, tão cheia de valor, mas que em certas ocasiões gosta de imitar a mãe, que admira.
Que o amor que me dedicas não seja razão para muito sofreres quando me for embora, mas para me recordares como a mãe de quem serás sempre a “minha menina”.
Que eu ouça ainda por muitos anos felizes a tua frase de carinho e cuidado:
Ond’anda?



22.10.05

A Violação


Ele era um rapagão, olhos claros, entre o cinza e o azul, olhar meigo, bem constituído, músculos trabalhados.
E depois vestia bem, cheirava bem, um andar descontraído, de modelo em passerelle.
Não se lhe conheciam namoradas (os) ou ligações que levassem a um compromisso.
Por isso foi com espanto que souberam que tinha sido acusado de violação por uma jovem lá bem do norte, onde só lá vai quem está doente ou sofre neurastenia.
O que não se sabia era que aquela jovem era nem mais nem menos a sua própria irmã.
Quem lhe pusera o processo foi o namorado desta, rapaz buçal e analfabeto a atirar para brutamontes e que prometera meter-lhe a faca na barriga caso justiça não fosse feita.
Ora acontece que Luciano tinha meios de provar que não fora ele o autor de acto tão miserável e covarde.
Inês, por seu lado, não tinha maneira de confirmar ou desmentir,

sofria de um ligeiro atrasado mental desde a nascença e mesmo o que dizia não era de fiar.
Luciano foi adiando o julgamento conforme pôde, de maneira a organizar a sua defesa, para o que contratara um excelente advogado.
Lá na aldeia Inês continuava a sua vida feliz de quem não sabe o que é sofrimento, excepto o físico, e esse era robusto e saudável.
Já o namorado, roído de ciúme, assim que a noite caía era vê-lo a deambular pelos montes, falando sozinho e derrubando tudo à sua frente.
Tudo começara com uma desconfiança, a barriga de Inês a crescer, a menstruação que nunca mais chegava, constatava a mãe, que fora a primeira a levantar suspeitas.
Depois do julgamento em que Luciano foi considerado inocente, a chegada da primavera tinha trazido também
a razão do estado de Inês, nada menos que uma gravidez histérica, ela continuava mocinha como sempre, inocente e virgem.
O Chico silenciou e descaiu como um fardo que se esvazia, andava macambúzio, sem compreender lá muito bem essas coisas nervosas e porque aconteciam.
De exaltado passou a um farrapo que se arrasta penosamente pelos cantos e recantos, “aiando” de vez em quando.
Confessando-se amiúde, fez do sr. Padre o seu confidente, só ele sabendo portanto da sua grande paixão por Luciano.


16.10.05

O Amolador


Sempre que ele passa eu recuo no tempo e volto ao da minha meninice em que pela rua do Bonfim passava o “amola tesouras e facas!”…
Este afia na linha e conserta também guarda-chuvas.
Ouço-o várias vezes na sua gaita-de-beiços e invariavelmente sinto desejos de lhe tirar uma fotografia.
Hoje calhou que ia a sair e lá vinha ele.
Pedi-lhe licença e saiu esta foto que ele disse irá querer uma prova.
Assim será, com os meus agradecimentos.

13.10.05

As Fotos de Hoje

Oa amigos
A paiisagem

11.10.05

Que triste figura!

Se querem saber mais, cliquem em baixo:

rrras-te-parta: Que triste figura!

9.10.05

A Outra Face


Roberta não se atrevia a aproximar-se mais do que o suficiente, apenas para verificar se ele respirava. Entendia apenas um ruído, um estertor, arquejando ao mesmo tempo que tentava dizer-lhe qualquer coisa.
Foi então que começou a ver uma quantidade de sangue que lhe saía da manga da camisa e alastrava pelo chão, onde tinha caído de borco.
Recuou, sentou-se numa cadeira e ficou a olhá-lo, estupidificada, sem força nem vontade de o socorrer ou pedir ajuda.
Aos poucos ele deixou de se mexer e já era dia quando Roberta saiu daquele estupor, calmamente, friamente, arranjou-se, meteu uma pequena muda de roupa num saco e foi hospedar-se num modesto hotel, perto da praia.
Precisava pensar para não ser acusada do crime de falta de assistência à vítima.
Quando o telemóvel tocou deu um salto, pois estava embrenhada nos seus pensamentos, ainda mais porque pouca gente tinha aquele número... quase desmaiou quando ouviu a voz do marido, forte e saudável, que lhe perguntava:
-ONDE É QUE ANDAS?
Tremendo, deixou cair o telefone e ficou a olhar para ele como se mordesse,,,
-ONDE ESTÁS? Voltou a voz, tão alto e tão irritado que se podia ouvir distintamente.
Estou…estou na rua, vim fazer umas compras. E tu? Estás bem?
-não, não estou, com um morto em casa, como podia…? E a Lina foi para o hospital com ferimentos graves.
Não entendia nada, mas apenas balbuciou:
-vou já!
Acabou por entender que no escuro, e no seu desejo, confundira o vulto como se fosse o do marido quando se tratava de um assaltante e perigoso, que depois de ter atacado a empregada e já muito ferido com as facadas que esta lhe desfechara se dirigiu corredor fora à procura duma saída e de socorro.
Incrível como tudo parecia ser de uma outra forma. A verdade caiu à sua frente, como se fosse um muro que desabasse.
Lina, a brava Lina, ainda ficou uma semana no hospital, mas recuperou fisicamente o que não pôde psicologicamente, por isso deixou a casa.
Quando três meses e meio depois Roberta abateu a tiro o homem que era suposto ser um assaltante, mas que afinal se veio a confirmar ser o marido, que no escuro ela confundiu, tinha arranjado o perfeito álibi, até porque ela estava demasiado ferida para que a policia não acreditasse.



Despojos

sou2rQuando, passados dois meses, Roberta apareceu em casa do pai a sangrar do nariz, consequência de uma “embirração” com a porta do quarto, disse ela, nada fazia prever que essa “embirração” começasse a ser sistemática.
Só quando teve que ir para o hospital, com o maxilar partido, se tornou claro que o marido para além de lhe infringir maus-tratos, a mantinha dominada psicologicamente.
Já era notório o seu temperamento violento quando certa vez entrara em confronto por causa duma pequena viagem que Roberta queria fazer com a avó a casa de uns parentes que viviam mais a norte.
Daí a partir para a agressão física foi um pequeno passo. Roberta evitava discussões, que a propósito de qualquer frase degenerava para um descontrolo capaz de gerar uma cena de violência imparável, com insultos e agressões de toda a ordem.
Ela ia suportando tudo, em silêncio, por vergonha, sempre na esperança que tudo melhorasse depois dele lhe pedir perdão e prometer, chorando, que tudo ia mudar…etc. etc.
História já conhecida de todos nós e sempre com o mesmo fim, isto é, sem fim à vista.
Uma noite Roberta ouviu-o chegar, batendo com as portas; coração acelerado esperou que ele se deitasse sem a incomodar, como às vezes acontecia. Já dormiam em quartos separados desde que numa noite Roberta teve de ir receber assistência ao hospital com um pulso partido, que ele nunca lhe batia na cara para não a desfigurar e as pessoas não se aperceberem do que realmente se passava naquele casal tão aparentemente amoroso.
Coração batendo Roberta aproximou-se da porta e escutava-o andar de um lado para o outro, tropeçando aqui e acolá, por certo já embriagado.
Começou a tremer e a rezar, pedindo a Deus que o afastasse da sua porta, da sua cama, do seu corpo.
Mas foi esse corpo que ele violentou, violando, mais do que isso, a dignidade da mulher, depositando nele o sémen de que resultaria um ser não desejado, que Roberta, ao princípio, odiou mais do que se possa imaginar, mas que durou apenas o tempo do seu desamor.
Seguiu-se uma paz morna e podre, feita de renúncias e despojos, uns tempos sem história em que mal se viam, presumindo Roberta que outra mulher ocupava na vida do marido o lugar que ela definitivamente recusava ocupar.
Mas naquela madrugada, ainda escuro, acordou com o bater da porta, fazendo-a recuar tempos atrás, ficando à escuta…ele entrou no quarto, com olhar alucinado, estendeu um braço na direcção dela e caiu desamparado a meio do caminho.






8.10.05

O Noivado

nivosEra uma roda-viva de última hora!
A baixela estava a chegar, as vitualhas viriam mais tarde.
A festa prometia ser um acontecimento bem sucedido, para isso contribuíram os esforços de todos, pai, irmãos, tios e afins.
Roberta estava feliz e nervosa, como é de costume as noivas estarem.
Levantara-se cedo, tinha ido ao cabeleireiro antes do pequeno-almoço e quando saíra eram já horas do almoço, que tomou com a avó, num restaurantezinho perto da praça onde ela vivia. Há hábitos que custam a passar. Apesar de estar viúva desde os 62 anos, a avó não deixara de fazer as mesmas coisas que fazia enquanto casada, após o tempo de luto, bem entendido. O almoço no restaurante da praceta era um deles.
Suspirou fundo para banir pensamentos menos adequados a dia tão glorioso, como decerto seria aquele.
Com mãos trémulas a avó colocou-lhe na lapela do casaco uma pequena jóia que tinha por sua vez recebido de sua
mãe, antes de morrer. E assim se faz a passagem de testemunhos, numa continuidade de gestos e intenções.
Tinha sido propositadamente que se tinha encontrado com aquela avó, que adorava, ela lhe transmitia serenidade, paz…ela não iria à festa, tinha-se desculpado com um argumento que não dava lugar a recusa…queria estar perto, sem mais ninguém. Roberta não só aceitou como compreendia muito bem o ponto de vista da avó.
Também ela gostaria de estar perto do seu noivo, sem mais ninguém, mas o pai insistira; afinal era filha única e a mãe fizera pressão, embora há já muito tempo que se separara deles para seguir uma carreira que a tinha levado para longe.
Quando regressou a casa já as tendas tinham sido erguidas, as mesas postas, o bar pronto a funcionar, criados se movimentando com cadeiras, arranjos de flores e velas e alguém se tinha encarregue dos cartões dos convidados com as marcações dos lugares nas mesas.
Visto que nenhuma ajuda era necessária retirou-se para o seu quarto, onde fez dois telefonemas e se preparou para mergulhar num banho gostoso e relaxante.
Já estava pronta antes mesmo de chegarem os primeiros convidados, a família recebendo a família do noivo. Colocou no decote generoso o alfinete que a avó lhe dera, para a ter presente.
A mãe chegou, bela como sempre, inigualável, rodeada dos seus colaboradores e alguns convidados.
O pedido de casamento seria só para oficializar uma relação há muito aceite pelas duas famílias.
Por tudo isto e depois de um casamento faustoso na quinta dos pais do noivo, celebrado na capela pelo pároco da aldeia, que ainda pertencia á família, seria de esperar que a conclusão seria “E Viveram Felizes para Sempre”, mas assim não foi…

7.10.05

Saí agora do emprego...
Está muito enevoado e tive frio, será que já é Outono!

6.10.05

Atrasos de Vida

Se há coisa que me deixa positivamente fora de mim é a estupidez!
Quando aliada á prepotência é como se fosse ao quadrado, no mínimo.
Quando se trata de pura embirração já é ao cubo.
Mas pior ainda é quando a acrescentar a estas "qualidades" temos a maldade de quem é positivamente inferior.
Aqui a potência aumenta assustadoramente.
E disto tudo fazem culto.
Temos o chamado...(e aqui tinha um palavrão de arrepiar...por isso vou à procura dum significado, se houver!) *********(inventem vocês, como lhes der mais gozo), falhado? mas se eles até têm poder! vá lá...atrasado mental , inepto...e dizer assim é ás vezes a única forma de expurgar o mal.
O dano feito aos outros está numa proporção directa…quanto mais “mentecapto” mais dano…
Infelizmente tenho encontrado alguns pelo caminho, mas estar numa posição subalterna, por muito que uma pessoa barafuste e defenda o seu ponto de vista, é como “marrar” contra a parede.
Daí que a solução seja passar por cima e ter aquele olhar de quem pensa e É superior.
Tudo isto porque usar a Internet duma empresa não parece ser, para algumas pessoas, “uma boa ideia”, mesmo que o PC seja textualmente um PC.
Não me conseguiram explicar mais nada, se calhar porque não há explicação capaz de convencer quem quer que seja.
E assim vai o mundo numa terrinha onde se deseja um choque tecnológico, onde as crianças já nascem, não de dedo na boca, mas de dedos no teclado… e alguns ficam a chuchar no dedo. A ignorância é tal que mete medo; até parece que a Net é privilégio dos iluminados, pensam eles…
Foi um desabafo, já tenho aqui dito alguns, e como a vingança se serve fria, dizem, estou a pensar numa maneira de fazer sentir que a “faca e o queijo” que têm na mão lhes pode servir de pouco quando a inteligência supera a mediocridade.
Pena é que este País tenha em postos lá em cima, com “faca e queijo” nas mãos, pessoas como estas e façam dele uma terra de “atrasados de toda a ordem”!
Desabafei!

4.10.05

Cair de Tarde

E na imensidão da quieta paisagem ,
a pequenez daquilo que nós somos!
Resvalando p'ra nostalgia
de quando eramos apenas Natureza!

avulso...

De manhã...


.....E ao pôr do Sol....,

O Almoço










Apaziguadas as saudades, as recordações, as trocas de afectos, começamos a subir para o repasto principal.
Aí, ao som de uma balada foi-nos anunciado que o Padre Barnabé iria dar graças pela vida e pelos bens terrenos. E assim foi, entre amens e aleluias, o Pai Nosso, que Padre Barnabé não conseguiu terminar, depois de um engano, culpa da emoção ou dos aperitivos.
E mea culpa, mea máxima culpa, eu ia pensando na fome dos que em África, terra do Padre Barnabé…adiante...
O lugar tinha sido previamente escolhido e escrito num cartãozinho colocado na prenda que cada convidado recebeu.
No final do almoço começou o espectáculo da banda “Rock Alentejano"!

E não se riam, mas eu até dancei o vira e o malhão, e cantei, que a banda era mesmo boa, fosse em português, alentejano, madeirense, inglês ou francês...