11.9.05

Quando fui à Bruxa...





Jaime saiu daquele 2º andar apressadamente e vinha a sorrir!
Eu esperava-o cá em baixo, na praça, na expectativa de saber o resultado da consulta e da opinião que fazia daquela que convencionamos chamar de Bruxa.
Abraçou-se a mim e só dizia: tens que lá ir, tens que lá ir.
Eu ri também, sem saber de quê ou porquê e, convencida, depois duma curta troca de impressões lá atravessei a praça, empurrei a velha porta, que rangeu, e entrei, habituando os olhos à semi obscuridade e comecei a subir as escadas.
O prédio era velho, as escadas íngremes, mesmo com apenas cinquenta anos cheguei lá a cima esbaforida, com os bofes de fora…
Quem me abriu a porta foi uma rapariguinha de tranças, de vestidinho azul com bordado inglês na gola e punhos. Devia ter os seus 11 anos bem-educados. Disse Boa Tarde e mandou-me entrar para uma sala onde dois sofás velhos apoiavam a espera dos mais cansados.
Nas paredes reproduções de quadros, diria, esotéricos a lembrar o Purgatório!
Dei o nome e “sim senhora (?) era a primeira vez que lá ia”…
Quando por fim fui chamada à presença de Sua Sapiência, a Sr.ª Bruxa, constatei, com espanto, que se tratava de um Bruxo! E pasmem…gay!
E tão efeminado que me fez logo lembrar “A gaiola das loucas”. Com voz nervosa e mãos esvoaçantes mandou-me entrar para o que deveríamos chamar de gabinete de trabalho, mas mais não era do que um conjunto de papéis em cima duma secretária, a que, por certo, uma lufada de vento ou uma consulta apressada tinha posto em desordem.
Depois das trivialidades do costume, foi dizendo outras tantas trivialidades sobre os meus amores, as dificuldades financeiras, com brilhante futuro na carreira, etc. etc….
Quando quis saber coisas sobre os meus filhos, eu de olhos arregalados e por certo pasmada, a cada pergunta, cada trivialidade, sempre acompanhada pela frase: “mas isto a Sr.ª já sabe, mas isto a Sr.ª já sabe…”.
Uma coisa eu sabia, tinha que sair dali rapidamente antes de não poder reprimir por mais tempo a gargalhada e ela explodir fazendo abanar o prédio e a vizinhança e desarrumando mais ainda os papeis de dados.
Jaime contou-me depois que tinha sido aliciado a servir de informador das vidas dos colegas da empresa, assíduos clientes de tão sábia bruxa.
Ainda me perguntou se conhecia sicrano e beltrano, por certo para colher saberes que posteriormente desabrochariam nos ouvidos dos incautos “consultores”. E como a minha área de trabalho era bem diferente e sem interesse, fez-me a seguinte e espantosa proposta:
“Quer tomar conta deste negócio? eu estou cansada e você tem jeito?”
Ainda hoje fico na dúvida se não terei desperdiçado a grande oportunidade da minha vida!

A minha carreira de bruxa ficou limitada a uma certa kuskas, que todos conhecem…

1 comentário:

Mocho Falante disse...

Pois olhe que eu acho que de facto perdeu o emprego da vida e uma carreira de sucesso... porque hoje o que tá dar é montar um consultório de bruxedos....

cruzes credi canhoto

Boa semana

Beijocas
Ps: Temos de combinar para colocar a foto