A avó levantou-se cedo, como era o habitual, à hora em que o padeiro metia o pão no saco, à porta.
Dali a nada era a leiteira e precisava de estar vestida para a atender.
Atiçou o lume, que de Inverno ficava sempre aceso, para aquecer um pouco a casa, que era grande e não tinha lareira; mais tarde mandaria buscar o borralho para acender o braseiro.
Precisava de ir à mercearia, comprar ¼ (125 gr.) de manteiga que a que fazia em casa com as natas de ferver o leite já estava rançosa, embora numa tigela dentro de água, como de costume. Compraria também uma penca para o cozido de Domingo, decerto a hortaliceira estava doente pois há dois dias não aparecia.
Do talho apenas precisava da carne para cozer e uns bifes que deviam ser entalidos em azeite, para não se estragarem.
Da “fressureira” apenas os enchidos, e talvez umas tripas enfarinhadas.
Iria fazer uma estravagancia, comprar uns morangos temporões.
A Água da caldeira do fogão estava bem quente para se lavar e fazer o café.
Vestiu-se, penteou-se e pôs um pouco de pó de arroz.
Precisava de comprar umas meias de lã, que as do ano anterior já estavam muito passajadas, uma combinação e uns lenços de assoar.
Depois das compras iria acender o ferro para passar a blusa e uma pecinhas que deixara de véspera por passar com o ferro de mão.
À tarde iria fazer uma visita à Sra. D., saber novidades e jogar o loto; levaria a neta com ela, como já era hábito.
Chá e torradas seriam servidos à merenda e leite com bolachas para os meninos, no jardim.
Depois do jantar, uma sopa apenas, tinha que ir ao Teatro dar uma injecção à fadista por causa da voz.
A colcha de croché que andava a fazer para a neta teria que esperar pelo dia seguinte.
Rezou o terço e deitou-se cedo, depois de por o bacalhau de molho para dali a dois dias.
Tinha tido um dia muito agitado e adormecera rápido na cama de folhelho bem aquecida com a botija de água quente.
( os anos passam, mas os “cheiros” ficam…)
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3 comentários:
...os "cheiros" da casa da minha querida avó...que saudades daquela vida tranquila da minha infancia tao boa. emocionada, obrigada querida Theo.
Perinhas assadas, na panela de barro.........trazidas a pé pela minha tia avó que morava noutra aldeia........o leite ainda morno na leiteira de aluminio, deixada à porta de casa, com o saco de pão cheio para cinco meninos .......marmelada do marmeleiro do quintal.............assim vivi eu um belo verão inteiro, neste país, no final da minha infancia....
Que bom, Theozinha fazeres-nos viajar por breves instantes, para esses sabores e cheiros.....
Não dado a recordações,nem sei mesmo se gosto de recordar,mas gostei de lêr o que escreveu.
EDU
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