29.9.05

O Despertar

abraçoEm menina nunca brincara aos “médicos e enfermeiros”.
Do seu corpo pouco conhecia, na sua inocência, apenas que era diferente do irmão, em pequena coisa…
Nas suas brincadeiras costumava vesti-lo de menina, a que ele obedecia, docemente.
Estranhava que com um seu primo sentisse de forma diferente, chegava ás vezes a ficar envergonhada, só de o olhar. Eram estes os rapazes com quem se relacionava, já que nas escolas desse tempo as aulas e recreios eram separados por sexos.
Teve os seus admiradores, bilhetinhos trocados ás escondidas, risinhos abafados.
Tudo no interior era ainda muito comedido, com rituais precisos, os tempos demorados.
O primeiro namoro foi pois uma coisa séria, embora sem beijos ou carícias, havia ali uma qualquer intimidade indescritível. O gesto mais ousado era um tocar de mãos.
Ele frequentava um curso de piano e compôs uma peça, que lhe dedicou e ela guardou como se fosse um anel de noivado.
As novenas no mês de Nossa Senhora eram pretexto para uns furtivos encontros, namoro ao Domingo nem pensar, que esse era o dia das sopeiras e magalas, menina que se prezasse só saia ao Domingo para a missa e visitas com os pais.
Pelas festas do Padroeiro da vila já o namoro tinha o tempo suficiente para a acompanhar aos festejos, família atrás.
Na noite de fogo de artificio, porque os lugares eram poucos e espaçados, ficaram longe dos demais e a propósito da aragem fresca que soprava enlaçou-a pelos ombros e passou-lhe outro braço pela cintura. Ela sentia-lhe a respiração e a proximidade começava a ruboriza-la.
Num dado momento em que vários foguetes fizeram estremecer o ar, ele a apertou a si e lhe beijou o pescoço, a orelha, os cabelos…e foi nesse preciso instante que ela sentiu o seu ventre, a sua pélvis em fogo, o despertar da sua sexualidade.
Foi já quando a todo aquele deslumbramento de girândolas de cor e luz que se sucedeu a paz e o conhecimento, que ambos se deram as mãos numa aceitação dos seus corpos.
Ainda hoje o caminho para os seus orgasmos começa com um simples beijo, simples mas envolvente, como um amor que é sussurrado no calor da entrega.

2 comentários:

Mitsou disse...

Lindo, este despertar. Penso que as emoções se intensificam com a demora dos gestos. Valorizadas pela ternura, numa época em que o "fast" não chega a criar encantamento. Beijinhos muitos, amiga, e bom fim de semana.

Anónimo disse...

Ola, nunca tinha lido este blog, mas a preposito de um pesquisa no google vim aki dar e n consegui deixar passar em branco.
Li algumas das histórias aki escritas, esta principalmente está mto bonita, faz querer voltar atras no tempo e viver emoções destas, ja q agora tudo é rapido e superficial...
Esta mto bonita parabens!!