Era a amiga que tinha passado a linha, aquela que divide os amigos comuns dos amigos íntimos.
Era também a pioneira, com afectos pioneiros, relações d’avant-garde.
Dela recebi a ternura de uma irmã, a cumplicidade que deveria existir entre as mulheres, a frontalidade de uma mente lúcida e culta. Era, a despeito de tudo isto, uma mulher empenhada, que às vezes até com algum sacrifício ultrapassava as suas necessidades para suprir as da família, nas coisas mais comezinhas como era, por exemplo, o tempo de ir a um teatro ou ler um livro.
Teve ainda tempo de brincar com o neto, o primeiro que o segundo já não lhe ouviu o choro ou o riso.
Na sua dor ainda se preocupou com o que poderia acontecer aos outros quando se fosse embora.
Quero recorda-la como quando o sono começava a cerrar-nos os olhos, ela se ausentava para fazer um chá para que dormíssemos retemperadamente, ou vestida para um jantar nas Termas, onde fomos para descansar, escandalizando todo o mundo com as transparências da saia rodada.
Foi desistindo devagarinho de tudo o que poderia ter feito dela a primeira mulher verdadeiramente independente que conheci. Por fim desistiu da própria vida.
Tenho saudades tuas, Amiga…minha amiga Nair.
5 comentários:
Como é bom poder sentir que um dia tive uma amiga assim, ela vive dentro de mim, tua Nair tb está aqui...
Theo , como és simples a escrever e tanto sentimento passas para mim
beijos e um xi, por poder de novo te sentir
Beijinhos minha amiga
também deixo um beijo solidário
Claro que me solidarizo, antes do mais... Mas adorei o que li nesta primeira, de muitas, visita...
Parabéns, bjinhos Ricky
São as saudades que vão apertando cada vez mais o peito, até quando conseguimos cerrar os olhos e sorrir ao recordar as recordações de quem tanto amamos
Boa semana
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