Contrariando o tema do blog (estórias que ofereço à vossa imaginação) mas a pedido de alguns comentadores, aqui vai o resto da estória, aquela parte que deveria ser preenchida pela vossa criatividade…
A aldeia (2ª Parte)
Já sabemos que depois do surto de gripe na aldeia a preocupação era agora as tosses…a filha do Morgado da Ponte era a que mais dava que falar, por ser a menina filha de quem era e menina doce e carinhosa com todos os que dela se abeiravam.
Alfredina, Dina, tanto pensou que num certo Domingo, enquanto os demais estavam na Missa, se pôs ao caminho e foi desabafar com Maria Eugénia, que à sombra de um enorme guarda-sol descansava na varanda o seu corpo delgado de azáfama nenhuma.
Como oferenda e pretexto tinha levado à Morgadinha um cesto com mel caseiro, queijos das cabras que pastavam no morgadio e até uma compota de amoras silvestres que ela mesma fizera.
E vai de falar do Ti Joaquim, que agora que já estava bom não parava de refilar com tudo e com todos, da Miquelina e da Avó Albertina que embora daquela idade lá se arribaram e era vê-las já à porta desfiando novidades e passando fios em dedos que tricotavam. De França viera também um senhor estrangeiro falar com os pais do Tó Afonso, trazendo os seus pertences e procurando se podia ajudar, já que o filho deles era quem mandava uma mesada para lhes aligeirar a vida que tinha sido de muito trabalho no campo. Previdente tinha feito um Seguro a favor deles para o caso de lhe acontecer qualquer coisa, para não os deixar desamparados.
Maria Eugénia ia ouvindo, atenta, e sorria e foi esse sorriso doce e calmo que deu coragem a Dina de começar a falar de si, do seu malogrado casamento e quando a dada altura lhe faltou ânimo para desabafar ao que tinha vindo, desatou num pranto e foi entre soluços e lágrimas que pediu ajuda.
A Morgadinha foi carinhosa e compreensiva e prometeu pensar numa solução para caso tão delicado.
Ora foi o caso que chegando a Primavera a saúde de Maria Eugénia começou a dar maiores cuidados, e a conselho do Dr. Antunes era necessário que a família se retirasse para uma outra quinta muito mais a Sul, clima temperado de meio de Serra. Porém a Morgada tinha ido de visita à irmã que vivia em Cannes e fora operada de urgência e o Morgado atarefado com os negócios, que por sinal não iam nada bem, não podia neste momento descolar-se para a Quinta das Urzes.
Vislumbrando a solução que se impusera arranjar para Dina e ao mesmo tempo ajudar os pais nesta situação de que se sentia um pouco culpada, Maria Eugénia sugeriu a companhia de Dina que, juntamente com os caseiros, era suficiente para cuidar dela meia dúzia de meses.
E assim ficou acordado.
Nunca ninguém soube porque Dina nunca mais voltou à Aldeia, apenas uma vez para buscar mais umas roupas e fechar a porta, que o resto foi o próprio Morgado que tratou de tudo. Vinha bonita e anafada como se os ares da Serra também lhe fossem necessários.
Quando, passados dois anos, a Morgadinha morreu, deixou em testamento o desejo que o pequeno Luís fosse criado e educado como se tratasse de um familiar seu, o pequeno Luís recolhido, segundo afirmava, na porta da igreja numa manhã de Outono quando se dirigia à missa em companhia da caseira, que a Dina tinha ido a Coimbra a uma consulta.
Foi criado por Dina e sempre que olhava para ele se recordava de Maria Eugénia, pois via nos olhos, um castanho e outro quase verde, o traço que as unira, pois eram verdes os olhos marotos do Morgadinho da Herdade da Azinheira.
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1 comentário:
Leio amanhã - se não tiver de ir à capital... hoje já é tarde. Beijito
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