Na rádio, anos 40 e 50, ouvia-o declamar.
Dedicado ao folclore, recordo um dos seus poemas:
O Bailador de Fandango - Pedro Homem de Melo
Sua canção fora a Gota.
Sua dança fora o Vira.
Chamavam-lhe "o fandangueiro".
Mas seu nome verdadeiro
Quando bailava, bailava...
Não era nome de cravo
Nem era nome de rosa;
Era o de flor, misteriosa,
Que se esfolhava, esfolhava...
E havia um cristal na vista
E havia um cristal no ar
Quando aquele fandanguista
Se demorava a bailar!
E havia um cristal no vento
E havia um cristal no mar.
E havia no pensamento
Uma flor por esfolhar...
Fandangueiro! Fandangueiro?
(Nem sei que nome lhe dar...)
Tinha seus braços erguidos
Não sei que ignotos sentidos...
- Jeitos de asa pelo ar...
Quando bailava, bailava,
Não era folha de cravo
Nem era folha de rosa.
Era uma flor, misteriosa,
Que se esfolhava, esfolhava...
Que se esfolhava, esfolhava...
Domingos Enes Pereira,
Do lugar de Montedor,
(O bailador de Fandango
Era aquele bailador!)
Vinham moças de Areosa
Para com ele bailar...
E vinham moças de Afife
Para com ele bailar.
Então as sombras dos corpos,
Como chamas traiçoeiras,
Entrelaçavam-se e a dança
Cobria o chão de fogueiras...
E as sombras formavam sebe...
O movimento as florira...
O sonho, a noite, o desejo...
Ai! belezas da mentira!
E as sombras entrelaçavam-se...
Os corpos, ninguém sabia
Se eram corpos, se eram sombras,
Se era o amor que se escondia...
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