9.10.05

A Outra Face


Roberta não se atrevia a aproximar-se mais do que o suficiente, apenas para verificar se ele respirava. Entendia apenas um ruído, um estertor, arquejando ao mesmo tempo que tentava dizer-lhe qualquer coisa.
Foi então que começou a ver uma quantidade de sangue que lhe saía da manga da camisa e alastrava pelo chão, onde tinha caído de borco.
Recuou, sentou-se numa cadeira e ficou a olhá-lo, estupidificada, sem força nem vontade de o socorrer ou pedir ajuda.
Aos poucos ele deixou de se mexer e já era dia quando Roberta saiu daquele estupor, calmamente, friamente, arranjou-se, meteu uma pequena muda de roupa num saco e foi hospedar-se num modesto hotel, perto da praia.
Precisava pensar para não ser acusada do crime de falta de assistência à vítima.
Quando o telemóvel tocou deu um salto, pois estava embrenhada nos seus pensamentos, ainda mais porque pouca gente tinha aquele número... quase desmaiou quando ouviu a voz do marido, forte e saudável, que lhe perguntava:
-ONDE É QUE ANDAS?
Tremendo, deixou cair o telefone e ficou a olhar para ele como se mordesse,,,
-ONDE ESTÁS? Voltou a voz, tão alto e tão irritado que se podia ouvir distintamente.
Estou…estou na rua, vim fazer umas compras. E tu? Estás bem?
-não, não estou, com um morto em casa, como podia…? E a Lina foi para o hospital com ferimentos graves.
Não entendia nada, mas apenas balbuciou:
-vou já!
Acabou por entender que no escuro, e no seu desejo, confundira o vulto como se fosse o do marido quando se tratava de um assaltante e perigoso, que depois de ter atacado a empregada e já muito ferido com as facadas que esta lhe desfechara se dirigiu corredor fora à procura duma saída e de socorro.
Incrível como tudo parecia ser de uma outra forma. A verdade caiu à sua frente, como se fosse um muro que desabasse.
Lina, a brava Lina, ainda ficou uma semana no hospital, mas recuperou fisicamente o que não pôde psicologicamente, por isso deixou a casa.
Quando três meses e meio depois Roberta abateu a tiro o homem que era suposto ser um assaltante, mas que afinal se veio a confirmar ser o marido, que no escuro ela confundiu, tinha arranjado o perfeito álibi, até porque ela estava demasiado ferida para que a policia não acreditasse.



3 comentários:

Anónimo disse...

I use to love him, but I had to kill him
I use to love him, but I had to kill him, ohhhhhhhh yeahhhhhhhhh, hummmmmm
I had to put him six feet under, yeahhhh
Bjs.Elsa.

th disse...

eheheheh

Henrique Santos disse...

Vim aqui encintrar motivos para uma visita... guiada para não levar um tiro... eheheheheh
Gostei muito, vou voltar...
Parabéns Ricky