4.9.05

O Prémio!




Trazia nas mãos, muito apertado, o seu tesouro!
Tinha-o conseguido porque o merecia. Era um menino bonito, que se tinha portado bem, por isso merecia o prémio.
Todos os dias saía de manhã cedo, almoço e merenda na sacola, que a mãe trabalhava todo o dia e ele ficava à guarda da vizinha Leonilde. Todos os dias, menos ao Domingo, que era dia de irem às compras no super mercado, depois da missa das nove e ida ao cemitério, que a mãe não dispensava a visita à campa da avó, falecida ainda não havia cinco meses, era o que a mãe dizia.
Paulinho ia fazer anos dali a 3 dias, por isso merecia o prémio, "O Meu Prémio", como ele secretamente lhe chamava.
Já tinha pedido à mãe um carrinho dos bombeiros, mas aquele era não só a sua prenda, mas mais importante, o seu prémio!
No dia do seu aniversário, que por sinal era Domingo nesse ano, mal se levantou foi ter com a mãe, que ainda dormia, acordou-a e quis saber qual era a prenda que ia receber pelo seu aniversário.
Para além do tal carrinho de bombeiros, como ele lhe pedira, a mãe tinha uma outra prenda, mas só lhe daria mais tarde, ao lanche e era surpresa.
Eu também tenho um presente e é surpresa, não te digo, e Paulinho riu…
Ao lanche veio uma priminha e os meninos da vizinhança, três ou quatro, a festa foi muito bonita e todos se portaram muito bem, e foi por isso que Paulinho teve um bolo com muitas velinhas; os meninos que sabiam contar disseram que eram trinta e duas e a mãe confirmou.
Lucinda só tinha aquele filho, que apesar da "doença", como ela lhe chamava, era a luz da sua vida.
Ficara viúva muito cedo e enquanto a mãe foi viva sempre tivera o seu apoio. Criara-o com muito amor, mas apesar de todos os cuidados e tratamentos, Paulo sempre ficara com a idade mental dum menino de cinco anos, segundo os vários médicos que consultara.
Já todos tinham saído quando Paulinho foi buscar o "prémio" para mostrar à mãe, que entretanto arrumava copos e pratos usados na festa. Tinha acabado de lavar os talheres quando ao virar-se viu Paulo com uma pistola nas mãos, correu para ele...ai meu Deus...uma detonação, um corpo que tomba, uns olhos muito espantados que gritam.
Lucinda saiu hoje do hospital, afinal tivera muita sorte, a bala apenas a feriu num braço, sem tocar no osso.
Paulo teve que ser tratado mais de um mês, só dizia: menino portou-se bem, menino portou-se bem!
Leonilde, sentindo-se culpada por ter contribuído, com o seu desleixo, para aquela desgraça, que poderia ter sido bem pior, foi quem tomou conta dele enquanto a mãe esteve hospitalizada. Inadvertidamente deixara a arma de fora do cofre, quando alguém a chamara da porta da cozinha, no dia em que lá tinha ido buscar uns documentos do marido.

3 comentários:

Carlos Gil disse...

É pá, tu lembras-te de cada uma! que tal algo menos perigoso, mais pacífico e menos de coração na mão do leitor, sei lá... um assaltozito a um banco? É pá, tu... tu...

Luisa Hingá disse...

A minha experiência diz-me que com as crianças temos que ter 1000000 olhos...

Mocho Falante disse...

Infelizmente são cada vez mais comuns estas historias, é a neurose da super segurança que nos trai à minima distracção