9.8.05
O Fim do Aviso
Tudo começara num chat, com uma conversa de chacha, "chatcha" como ela ria ao dizer, e em que noite após noite, sob nicks, e disfarçados se entretinham a passar um tempo em leve cavaqueira.
E como o hábito se instalou, começaram a ficar dependentes daqueles pedaços de dia, que por vezes, sobretudo ao fim-de-semana, se prolongavam até de madrugada.
Do chat passaram para o Messenger e do virtual para o real. Viviam em zonas opostas da mesma cidade, o que facilitou o encontro.
Quase da mesma idade, ele já divorciado, ela ainda solteira, mas com relações conflituosas no passado.
Aos poucos foram-se tornando íntimos e já não passava um dia que fosse sem se, pelo menos, se falarem pelo telefone ou através da Internet.
Saíram uma noite para jantar e os corpos se saciaram por inteiro naquele amplexo há muito adivinhado.
Como flores colhidas frescas, mas com o calor dos afectos, depressa começaram a descobrir-se em personalidades por vezes estranhamente inquietantes, como foi o caso de Gabriela descobrir que os ciúmes dele chegavam a ser sufocantes.
Habituada ao longo dos seus anos de solteira, e independente, à sua autonomia e agora a ter de comunicar todos os seus passos, minuciosamente, a relação começou a se detiorar.
Uma noite, entre afirmações caluniosas e insultos, ele chegou mesmo a dar-lhe uma bofetada. Estiveram nessa altura sem se comunicar durante uma semana, não que ele não tentasse aproximar-se com desculpas e promessas todos os dias. Acabaram por se reconciliar mais tarde, dando-lhe ela uma segunda oportunidade.
Inevitavelmente pouco tempo depois as cenas de ciúme voltaram e as discussões também e com elas a falta de respeito, a agressividade, o inferno...
Por isso, Gabriela, naquele verão, resolveu partir sozinha para o sul, sem o avisar sequer.
Uma madrugada, em que não conseguia conciliar o sono, começou a escrever-lhe uma longa carta, em que lhe explicava todos os seus ressentimentos, desgostos e uma única certeza...não queria continuar esta relação sem futuro, por tão tempestuosa quanto desequilibrante. Pedia-lhe que considerasse os seus pontos de vista e respeitasse os seus sentimentos. Enviou a carta de Espanha, onde foi tratar dum pequeno negócio, para lhe não dar a conhecer onde se encontrava. Prometia telefonar-lhe logo que chegasse para terem uma conversa.
E assim foi; tiveram um encontro, em tudo civilizado, onde tudo ficou claro e resolvido...até que começou a receber mensagens no gravador e as campainhas não paravam de tocar...
Adriano entregou-se às autoridades poucos dias depois da morte de Gabriela, quando soube que as mesmas o procuravam, segundo soube por um amigo jornalista.
Gabriela era uma figura pública e o caso teve um certo destaque na imprensa, que apenas não divulgou, a pedido de altas instâncias, que a mesma se tinha envolvido em negócios pouco, muito pouco claros, de branqueamento de capitais e o seu hipotético suicídio não tinha sido senão um ajuste de contas antigas.
Adriano foi aqui apenas um pião apanhado na engrenagem, para o que contribuiu o seu exacerbado ciúme.
Mandado em liberdade depois de ter sido ouvido o seu depoimento, algo incongruente sobre um comprimido que tinha deixado por engano na casa de banho...os polícias nunca entenderam esta história pois Gabriela tinha sido morta por asfixiamento enquanto dormia, depois de ter tomado uma dose exagerada, mas não mortal, de soporíferos.
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7 comentários:
Ok, ok foi a Maçonaria ou o Bloco Central, não foi o Adriano... mas lá que ele 'pensou' nisso...
Quando for grande quero escrever como tu Theozinha....
Beijinhos
Mas qual Dan Brown qual carapuça, eu exijo um livro rapidamente
Beijocas
E que tal mais capítulos desta história? :) Temos escritora policial!
Gostei! beijinhos kuskita.Elsa.
ola theo. adorei.beijinho
Temos Simenon em versão portuguesa e feminina! Faz lá a vontade ao pessoal Théo: escreve mais uns contos policiais!!!
Beijinho,
José Carlos.
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