18.8.05

O Inquérito


-por favor, pode-me dispensar 5 minutos do seu tempo?
-não, não, vou com pressa...
-por favor, pode dispensar 5 minutos...
-tenho que apanhar o autocarro, não posso...
-por favor...
-agora não, já estou atrasada...
-por favor, pode-me responder só a uma pergunta?
-sim, pergunte lá...
-qual a sua opinião sobre o casamento entre homossexuais?
-sinceramente acho que não há necessidade, devia era haver legislação que salvaguardasse as partes numa relação fosse ela qual fosse.
-e a adopção de uma criança?
-aí é mais complicado, está em causa um ser humano muito frágil, possivelmente até já traumatizado.
Era o segundo dia que andava na rua a fazer entrevistas e pouco tinha conseguido, as pessoas fugiam, andavam cheias de pressa e algumas quando lhes perguntavam sobre assunto tão delicado, esquivavam-se a dar opinião.
Depois havia aqueles que só diziam:
-pouca vergonha, era o que mais faltava, já não há decoro, isto é o fim do mundo...e frases como estas eram frequentes.
-omo quê? eu só uso o outro...
-casamento? que casamento? mas eles já não eram casados...
Os resultados não eram animadores e o trabalho estava atrasado mais do que o razoável.
Nesse dia iria para o oposto da cidade, onde havia montes de escritórios e esperava encontrar pessoas com mais interesse e mais intervencionistas. Engano puro, pura demagogia.
Risinhos, piadas, loiras ou morenas para quem o assunto ultrapassava interesses e conhecimentos, sem falar nos machos a caminho de um encontro de negócios ou amoroso, na hora de almoço, quem sabe com o amigo gay…
Não são só os cigarros, as bebidas que são “light”, são as conversas também.
O trabalho ficou por acabar; neste caso o que era deveras importante era a reacção das pessoas e isso estava registado num caderno aparte para mais tarde meter no blog…

4 comentários:

Leonor disse...

ola theo.
conversas light?

completamente. quando estou numa conversa light por muiyo tempo perco as estribeiras e desato a correr para fora dali.
quero lá saber...

beijinho da leonor

«« disse...

este texto lembrou-me uma situação vivida na minha adolescencia, num sábado de manhã, com uma enorme ressaca e sem ter ido à cama, apanhei uem plena rua funchalense, uma senhora de meia idade a querer me pregar o não sei quê das testemunhas de jeová...eu com tantos sininhos na cabeça e com os estomago numa revolução dei-lhe uma resposta desilegante...a senhora riu, mandou-me ir curar a ressaca...perante tal diplomacia, só me restava uma solução....gramar a senhora..e fui o que fiz..olhem que foi um esforço tremendo...mas mereci o castigo...quanto ao conteudo dessa entrevista....não é pacífico....

Caracolinha disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Caracolinha disse...

Confesso-te que também não tenho muita pachorra para esses inquéritos e que na maior parte dos casos fico um bocadinho de "pé atrás" mas, tanto as pessoas que se sujeitam a andar na rua a melgar as pessoas como as que, cada vez mais trabalham nos call-centers, acabam por ser vítimas do cada vez maior crescimento do desemprego neste pobre país ... as pessoas têm que se agarrar a qualquer coisa para ganhar algum dinheiro, mesmo que isso signifique passarem o dia todo a ouvir "olhe, agora não posso"... que é a resposta que eu quase sempre dou quando me interpelam...

Uma beijoca muito GRANDE para ti minha querida ~:o)