4.5.05

Vidas Curtas


Caminhava, meio sonâmbula, com os auscultadores postos, ouvindo música o mais alto que podia.
Queria naquele momento esquecer tudo, até alhear-se das pessoas que a rodeavam e nas quais tropeçava de vez enquando.
Cambaleava a amiúde e tinha que se segurar a alguma coisa, ás vezes a alguém que passava perto e que se assustava com o aspecto daquele ser tão belo e tão mal tratado.
Acabara de saber da morte dum amigo íntimo, tinha sida e tinha-se suicidado, outro estava no hospital, em perigo de vida, tinha querido acompanhar o seu amante e a droga falhou.
Este último tinha sido seu marido, tinham-se divorciado há um ano...e embora nem sequer fosse seropositivo queria deixar uma vida que já não lhe apetecia viver.
Desceu ao Metro e na sua confusão escolheu a linha errada...
Uma hora depois já todas as estações de Rádio e Televisão comentavam o atentado, centenas de mortos e um número cada vez maior de feridos.
Na morgue, lado a lado, como Romeu e Julieta, jaziam um jovem homem e alguém que fora uma linda mulher, por certo.
Algures, no meio dos escombros, de tão alto que estava, escutava-se a música dos Il Divo!

2 comentários:

Carlos Gil disse...

Lindo, Theo. Lindo mesmo no trágico.

Mocho Falante disse...

Muito bonito e logo logo me fez lembrar algo, este pedaço de poema que aqui deixo

"Gritar? Quem pode salvar-me
Do que está dentro de mim?
Gostava até de matar-me.
Mas eu sei que ele há-de esperar-me
Ao pé da ponte do fim."