9.5.05

A Decisão

troncos de embondeiro

Fechou a porta devagarinho, não fosse sobressaltar-se e sair daquele estado de estupor em que voluntariamente mergulhara.
De todos os matizes de sentimentos que a tinham ligado aos homens por quem se apaixonara, este último tinha sido o mais forte, talvez por isso mesmo, por ser quiçá o último.
Tinha decidido nunca mais deixar-se magoar, utilizar, vitimizar...
Precisava, como qualquer mulher, de se sentir amada, desejada, sim, mas com ternura, com afecto.
Os homens, privilégio do sexo, conseguiam dissociar o impulso sexual do sentimento do amor, o que era vedado à maior parte das mulheres, embora houvesse algumas que se lhes igualavam.
Precisava de tempo, de tempo para repensar, tempo para se recompor deste amor apressado, nesta idade em que já não deve haver pressas e muito menos atropelos.
Costumava dizer, em tom de brincadeira, (seria?), devagar que tenho pressa...cada minuto tinha que ser "saboreado", apreciado em toda a sua plenitude, por precioso. Não podia mais, não podia, investir num amor fugidio, apressado, adulterado e adúltero.
Sentou-se no sofá e aos poucos começou a encolher-se até ficar em posição fetal e assim permaneceu longo, longo tempo...
Quando abriu os olhos já era noite, as sombras espalhavam-se pelos cantos, desenhando medos...levantou-se e enquanto caminhava ia abrindo os braços, numa preguiça. Foi então que qualquer coisa implodiu dentro de si, sentimentos que tinha amarfanhado durante o sono, explodiu numa gargalhada e correu como tonta à volta da casa.
Sim, seria assim de ora em diante, não mais tristeza, nunca mais!
Ele voltou passado um mês, amoroso como sempre, talvez saudoso, desculpou-se como pôde por não ter sequer telefonado...beijou-a tacteando a medo o corpo dela numa interrogação.
E ela foi-se esquivando, sem repulsa, habituada que estava às carícias dele.
Quando depois de fazerem amor ela lhe disse que a partir daquele momento o sexo entre ambos seria pago e indicou-lhe uma taça, em cima da chaminé, como o sítio para colocar as notas que lhe eram exigidas, sabia que ele jamais voltaria...
Nessa noite aconchegou-se no colo de Marisa, Marisa que era terna e doce, Marisa de pele suave e cheiro a jasmim, Marisa que tudo dava em troca de nada, que a fazia sentir desejada, de bem consigo e em paz!

6 comentários:

Bastet disse...

Também eu estou à espera que rebente dentro de mim a gargalhada. Gostei muito, muito deste texto.

Anónimo disse...

E eu também gostei, beijo! - IO.

Anónimo disse...

Qualquer coisa implodiu dentro de si e de mim e assim lhe digo que teve uma bela ideia e a escreveu da melhor forma.

Os gatos e os cães são cheirosos e amorosos mas só se cuidarmos mto deles. Já os homens,)

Mocho Falante disse...

Um texto muito bem escrito, mas um pouco feminista demais creio eu... afinal os homens não se medem todos por atitudes iguais, por isso permitam-me que discorde do comentário anterior, pois há homens muito cheirosos e que cuidam e que gostam de ser cuidados. Há de tudo minha amiga, há de tudo, não fossemos nós da mesma espécie e o que varia é o género.
Quanto ao texto está brilhante como já vem sendo habitual...

PS: Acho que cada vez estou mais fãn deste blog tão acolhedor

Anónimo disse...

Tem razão, alexandre paradela, a comparação foi fútil.

Anónimo disse...

Direi mais:

Tem razão, alexandre paradela, fui fútil na comparação, mas

haja paciência.