7.3.05

Memórias...(2)

…Abriu-se uma janela sobre o lençol branco de amendoeiras em flor...
………………
Suspirou e enquanto pensava olhou pela porta da varanda, entreaberta por causa do fumo do cigarro, e apenas viu gente que fugia da chuva intensa, as buzinas dos carros a gritar aos transeuntes para se afastarem e os guarda-chuvas balouçando numa dança em que o vento marcava o compasso.
Olhava distraída e maquinalmente recostou-se e acendeu um cigarro. A ideia de voltar a escrever veio-lhe da necessidade, dum divórcio desastroso, dos bens desbaratados, dum emprego deficiente.
Agora apenas era necessário um exercício mental, uma disciplina, percorrer a memória e deixar entrar as personagens, enriquecidas por sentimentos à deriva.
E aí foi que se lembrou de um conto já publicado, e por que não dar-lhe um fim diferente? Na altura a crítica até tinha sido boa, algo assim...


-É bom ler-te? Ler-te é bom, é fresco, eu lia estas 'memórias' e tinha a perfeita sensação que... depois fechei a pensar que, afinal, são certamente é memórias duma Escritora. Não é o primeiro nem o segundo texto que aqui me fascinam, me prendem, surpreendem, agarram até à última letra.


Era sobre um casamento, que depois de um divórcio, se refez, de que nasceu uma filha...chamava-se “Memórias”, decidiu ir repesca-lo ao Word, depois de o reler…continuou…

-
Mas quando Madalena saiu para o jardim não se apercebeu que a campainha da porta de entrada tinha até sobressaltado a empregada, ocupada que estava a polir o chão da salinha.
Quando abriu a porta quase caiu feita um fardo, pois na sua frente estava um homem, que se não era o seu patrão que ela mesma vira sofrer e morrer, era o seu fantasma. Saiu correndo, coração aos pulos, que o caso não era para menos.
Quando veio a saber que aquele era nem mais nem menos do que o irmão gémeo do falecido, apenas esboçou um sorriso amarelo, como se ousa dizer, por não a terem prevenido que ele iria chegar, poupando-a a um quase enfarto.
Júlio, que nunca visitara a família no tempo em que seu irmão era vivo, apresentava-se agora para uma estada de alguns meses, só enquanto não organizava o seu regresso definitivo ao país onde nascera, e de onde emigrara tão cedo.
Parecia, ao princípio, perigosamente igual ao Jaime, mas Madalena depressa soube ver as diferenças, pequenos nadas que só uma mulher que fora apaixonada sabia detectar.
Os meses iam passando, e porque a partir duma certa idade se envelhece mais depressa, os dois se viram afeiçoados mutuamente e já não prescindiam da companhia um do outro e dos serões sérios ou divertidos que passavam juntos. No casamento, a filha fizera questão de os ter a ambos como padrinhos, e como fora uma cerimónia simples, apenas no registo civil, poucos mais assistiram e por isso foi tudo muito íntimo e sincero.
Mas a vida é extraordinária em surpresas, a ficção por vezes é pobre em conteúdo para retratar certos passos do destino...
...................
Reclinou-se na cadeira, olhando o ecrã...pela porta da varanda, entreaberta por causa do fumo do cigarro, viu que já não chovia mas a noite tinha trazido as luzes que a cidade se orgulhava de ostentar.
Levantou-se, depois de encerrar o computador...amanhã continuaria...

1 comentário:

Carlos Gil disse...

continua... 'nós' andamos por aqui, aguardando mais...
Beijoka