27.3.05

Em Contraluz


Saiu para a varanda sem se importar muito com o frio e o vento que fazia lá fora.
Do alpendre saía uma escada toscamente construída com pedaços de madeira, alguma daquela que por vezes vinha dar à praia.
Sentou-se num dos degraus e ficou a pensar no que acabava de observar lá atrás, junto à lareira da sala.
Saber-lhe-ia bem agora um cigarro se não tivesse há um ano deixado de fumar. Por isso levou a mão ao bolso a ver se ainda lá havia uma pastilha para compensar.
Sem paliativo desceu à praia e começou a caminhar, apanhando aqui e acolá uma concha, um seixo... precisava pensar e decidir o que iria fazer com Gustavo, já que com a filha nada havia a fazer senão esquecer, com ou sem conversa a propósito.
A dor no peito aumentava à medida que a memória recente lhe trazia a imagem dos dois se beijando na contraluz das labaredas.
Gustavo era 15 anos mais novo do que ela e a sua relação durava já há sete. Ao princípio parecera-lhe que tudo não era mais do que um "romance de areia" que as primeiras chuvas levavam de enxurrada, mas não, aos poucos foram-se gostando.
Decidiram que nunca iriam viver na mesma casa e assim que um deles sentisse que a afeição que os mantinha unidos se diluíra o comunicasse ao outro, apesar de nenhum compromisso os amarrasse.
Agora aquele beijo...que fazer?
Quando o frio se tornou insuportável e a dor no peito já estava meia anestesiada, regressou à sala onde a lareira já quase se apagara e o silêncio era total.


(continuará?)

1 comentário:

Carlos Gil disse...

sim, claro que continua. Quero ler o resto.
Beijinho