17.7.05

O Toque III



Adozinda, ao fim de 15 dias acabou por desistir de achar “Pão-de-ló”. Depois de o ter procurado pelos sítios mais esquecidos e perguntado às pessoas com quem nunca julgaria entabular conversa, convenceu-se que era Deus que assim o quisera. Deus tinha-lhe dado aquela prenda para a tirar do marasmo em que vivia há tempo de mais. Mas sempre que ouvia um miado ou lhe parecia ver um sombra de gato amarelo, às vezes nem era, virava a cabeça ou desviava do caminho para ir investigar, ainda na esperança dum retorno do bichano.

(dilema da autora: que hei-de fazer com esta estória? que fim devo dar
a tão pobre escrito?)

Porque todas as estórias para merecerem ser contadas teem de ter um enredo plausível, de preferência com um certo “suspence” e algum mistério, a da Adozinda não foge à regra.
Saída da escola, feitos os exames finais, que até correram bem, fora naquele ano passar as férias grandes lá para o Alto Douro, para a quinta de tia-avó, da parte da mãe. Foi nesse preciso ano que Adozinda foi menstruada pela 1ª vez e fora a tia Micas que lhe falou do significado da transformação no corpo de uma mulher, os cuidados que devia ter, e para a época e para o lugar fora até muito avançada na matéria. A mãe apenas encolheu os ombros e tratou de lhe comprar as peças de “enxoval” necessárias, que naquela época ainda não havia as modernices que há hoje.
Já em terras de vinhedos e amendoeiras Adozinda mais uma vez tratou de cair em graças da dona da maior quinta das redondezas, visita da tia Micas. A Quinta da D. Eulália era não só enorme como muito bonita e cuidada; a vinha, em socalcos, parecia desenhada à régua e a casa era convidativa e acolhedora, com os seus móveis antigos, de seus ancestrais avós, cobertos com linhos e bordados, feitos pelas várias gerações de mulheres aos serões na província.
Adozinda gostava daquela quinta, tinha um ar austero e senhorial que se coadunava com o seu temperamento, e um pouco de mistério que ela gostaria de decifrar, pois adivinhava ali muitos segredos escondidos durante séculos.
Costumava passear pelo pomar e pelo amendoal, apreciando a fresca e algum fruto caído, mas sobretudo o silêncio.
Foi nesse mesmo pomar que conheceu o Jacinto e no ano seguinte trocaram o primeiro beijo, beijo esse que se repetiu nos 12 dias em que ali se encontraram sempre que ela visitava a quinta.
Jacinto ainda lhe escreveu umas quantas vezes, mas sem obter resposta, que Adozinda tinha aquele génio másculo de separar as coisas.
E era assim todos os verões, ambos crescendo, crescendo os sentimentos de diferente maneira.

(É aqui que a autora fica uma vez mais indecisa, sem saber se deixa Adozinda virgem toda a vida ou se, pelo contrário, lhe deve proporcionar uma experiência tal que a vai transformar para sempre.)
...pelo que o resto fica para amanhã….

5 comentários:

Anónimo disse...

Ou o gato volta ou, transformada e desvirginada, encontra um herdeiro do "Pão de Ló vadio. O Jacinto, esse, por fim, consegue os seus intentos, mas Adozinda não fica com ele, dado que este pôs como condição: O Gato ou Eu. Adozinda não hesitou!

th disse...

eheheheh, a ver vamos, mas parece-me que vem aí cena "quente", assim a modos de Frei de Almeirim...th

Anónimo disse...

sì, a ver vamos, da Italia

Anónimo disse...

Você fala o italiano? Parece como aquele. Bela, sua estória, que sabe a onde está que vai
(Você sabe, eu não falo portugues)

Carlos Gil disse...

Ainda lhe acontece como a uma das heroínas do saudoso Pipi, que teve uma experi~encia só comparavel à trombose que tivera nos seus setentas... lol
(aguardo pormenores dessa experi~encia de desvirgindação; sou um voyeur nato...)