20.7.05

O Toque Final


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Jacinto tinha vindo estudar para Coimbra onde finalmente encontra Adozinda, que sempre se esquivava a um encontro, pretextando os mais diversos compromissos e desculpando-se com a doença da mãe.
Foi precisamente durante uma queima das fitas, já quase no fim do curso, que os dois, fazendo parte dum mesmo grupo, festejaram toda a noite a festa e de “república” em “república” acabaram os dois na cama de Jacinto.
O amplexo dos corpos tinha tido carácter de urgência, inadiável da parte de Jacinto, expectante da parte de Adozinda.
Quase sempre a primeira vez é uma vez sem história, sexos procurando o prazer sem aqueles amplexos que torna o amor recordado, alheados dos sabores e das ternas carícias que antecedem e se prolongam no tempo e no espaço do corpo de cada um.
Foi na continuidade que ambos conheceram o prazer do outro e os encontros foram-se esculpindo à medida do tempo que decorria cheio de boas e eróticas recordações.
Para surpresa de Jacinto era Adozinda que o procurava cada vez mais, o corpo num desejo só, o ventre até ali adormecido, acordado para a festa do sexo e da carne.
E de encontro em encontro os dois se iam tornando mais íntimos, mais cúmplices e de experiência em experiência mais refinados na procura final dum orgasmo que os deixava exaustos mas satisfeitos.
Não era porém o amor que os levava a se procurarem, mas tão somente o prazer animal de corpos finalmente em cio.
Quando tiveram de se separar, por razões de cursos diferentes, diferentes cidades, sempre que podiam sempre achavam maneira de aqui ou ali apaziguarem a chama que os devorava na lembrança do corpo um do outro.
Foi numa dessas viagens combinadas que Jacinto sofreu um horrível acidente que o atirou para uma cadeira de rodas para sempre e para sempre bem longe dos prazeres experimentados e colocou nos lábios de Adozinda aquele fel e fez dela aquela mulher amarga e sem marido.
Aos poucos foi ultrapassando a saudade, aquietando o desejo e quando a lembrança doía refugiava-se na masturbação, deixando-a cada vez mais amarga, mais só e porventura mais triste.
O seu percurso de vida foi linear, acabado o curso começou a dar aulas e mais tarde ingressou numa repartição do Estado, tornando-se naquela funcionária de que já nem se espera um sorriso nem amabilidade.
Envelheceu só, até ao dia do aparecimento do gato amarelo…
O Toque de um ser, mesmo sem ser humano trouxe-lhe uma certa humanidade, a responsabilidade por um animal, quando tomar conta de si mesma era uma tarefa árdua, içou-a para a luz da vida.
As pessoas começaram por lhe perguntar se já tinha encontrado o bichano e atrás disso lá foram conversando e aproximando.
Quando deu por si estava rindo e até houve duas vizinhas que a convidaram para um cafezinho.
Uma noite acordou a transpirar, o corpo pedindo afagos, saída dum sono mais do que erótico e foi aí que resolveu pegar num jornal e responder a um anúncio de “procura-se, assunto sério”…
Não vou entrar em pormenores que estas coisas são sempre fastidiosas para ser contadas em poucas palavras.
Adozinda encontrou na relação com Adalberto o compromisso ideal.,
Encontravam-se sempre que lhes apetecia e tinham assumido o compromisso difícil de viver aquele quase romance cada qual em sua casa.
Encontrando-se eventualmente com amigos que se tornaram comuns, pois em algumas coisas partilhavam os mesmos interesses.
O gato amarelo nunca mais apareceu, ele foi o motivo que a levou a procurar o mundo e o outro.
Hoje vive interessada pelo que a rodeia, mas ainda estremece sempre que a lembrança de Jacinto lhe acode à memória e lhe faz escorrer as mãos pelo ventre até ao vale do prazer.




2 comentários:

Mocho Falante disse...

Querida Theo, aqui estou eu a agradecer as belas palavras por si deixadas lá no meu poiso.

Um grande beijinho

Anónimo disse...

Oh Th, fiquei um pouco triste porque Adozinda acabará os seus dias sem gato. Fintei-te e na minha sub-história ofereci-lhe um. Neste momento, a sua mão desliza com ternura ao longo do pêlo do novo miau...