28.4.07

É tempo...


É o tempo da idade…

Da idade de todas as acalmias, em que ainda se sonha poder um dia alcançar aquele cume agreste duma grande paixão ou duma vida cheia de grandes aquisições. É um caminho com curva e contracurva, com grandes ladeiras e acentuadas descidas. É a idade dos netos, dos casamentos desfeitos, da procura da amizade por companhia.
É a terceira idade!
É também a idade das desistências, das expectativas frustradas, do arrumar das grandes ambições e de nos contentarmos com as reais apostas, a real existência dum corpo que pede vagares e repousos.
Voltamos a ver os choros e sorrisos dos nossos bebés, sejam eles netos ou bisnetos, a ouvir as palavras mal articuladas de quem quer falar e ainda não sabe que a sabedoria está, não nas palavras bem ditas, mas no modo como elas são empregues.
É a idade em que começamos a ter saudades dos nossos mortos, a quem gostaríamos às vezes de fazer perguntas, mas que nos deixaram o lugar vazio, dificilmente preenchido por uma outra afeição. Começamos a pensar que legado vamos nós deixar aos que chegado o momento, não muito distante já, herdarão de nós.
Por isso temos que tomar a bagagem que acumulamos toda uma vida e viajar cada dia com a certeza que ele é único naquilo que nos oferece e naquilo que poderemos fazer por nós e pelos outros.



Há quem discorde de mim...no no ras-te-parta

6 comentários:

Carlos Gil disse...

ele é intemporal, o tempo. mesmo nesse 'outono' de que falas, nessa mansidão de, enfim, ser-se tão sábio como é preciso ser para ler presente e passado em harmonia, esse tempo doce é intemporal pois nele cohabitam a experiência de tantos outros tempos, se calhar todos: nos olhos que beijam o neto ou o bisneto, acredito haver uma faísca doutra criança igual 'que já foi mas ainda é', na serenidade ao olhar os ímpetos do querer tudo viver há uma lembrança dum tempo igual, o seu: misturam-se, o tempo desvanece-se no olhar de quem encara essas 'curvas e contracurvas' como réprise e sucedâneo, em ritmo de seus 'vagares e repousos' uma visita aos seus esses tempos, hoje, nesse sossego de que falas.
gostei muito da serenidade com que falas e de como a descreves:quando penso na "minha 3ª" desejo-a sempre assim, com o seu viço e calor que não queima, suave.
é a idade de Ser.
smack

th disse...

És um querido!
Que a tua velhice possa ser ainda mais alegre e leve do que a minha, que te lembres de mim com um sorriso, como a herança que te deixo, com gosto de sabedoria, beijo, th

Anónimo disse...

Nao tenho palavras para o que li.
Quanto ao seu legado ... nem imagina como ele e valioso.
Por tudo, um grande xi-coracao e obrigada.
Xixa

Anónimo disse...

Theozinha

Como é bom te ler, me sinto leve, me fazes pensar, sinto-te na alma , acredita!

Saudades, tantas!

um beijo terno

th disse...

Querida Tareca és uma amiga sempre presente e sempre condescendente com a pouca importancia do que escrevo, que bom que gostas, beijo, th

Mocho Falante disse...

e subitamente uma lágrima fez uma visita aos meus olhos...

Um beijo muito doce