11.12.05

O Quadro


O Bar finalmente abrira!
A decoração estava sóbria como entendia que devia ser uma decoração de um bar de convívio.
As colunas de som bem distribuídas transmitindo a música ambiente que era de desejar numa casa como aquela, requintada e cuidada ao gosto de clientela que se esperava especial.
Nas paredes alguns quadros, faziam parte duma exposição que estivera já numa galeria sem grande sucesso.
Aqui, na penumbra do bar, as cores eram mais dramáticas e o movimento das formas mais ousado, com sombras significativas aqui e ali.
Eram ao todo oito, de diversas dimensões, que se uniam entre si por um fio condutor de um único tema: “O Grito”.
Pertenciam a um pintor anónimo e principiante que, dependendo da aceitação do público poderia vir a ser um dos pintores da moda ou não, e claro do mecenas, dono do bar.
Os primeiros dias foram eufóricos, com gente entrando e saindo, convívio alegre e “gay”, sem pleonasmo…
Aos poucos o ambiente foi ficando mais íntimo, mais propício à convivência calma de uma boa tertúlia, o tempo necessário para deitar um olhar em redor e reparar na angústia daqueles “gritos” pendurados à espera dum olhar mais atento.
Havia um, em especial, que chamava a atenção de quem circulava pelas paredes um olhar curioso, o grito da hiena, cabeça de mandíbulas abertas num apelo enigmático, a morte espalhada até a um pôr-do-sol deslumbrante.
Foi o único que foi roubado naquela noite em que o bar foi assaltado por um bando que destruiu tudo o que era possível de destruir, deixando junto do pintor, inconsciente, os gritos dilacerados, espalhados pelo chão.

2 comentários:

Mocho Falante disse...

Nada mais que o retrato que identifica o agressor. Assim junta-se a imagem de marca ao assaltante que tudo destroi menos a imagem que mais diz de si próprio

beijocas

Rui disse...

Quem terá sido a pessoa que o robou... (a imagem é linda).