19.11.05

O Círculo dos Quatro


Passadas as paixonetas da adolescência tinham ficado inseparáveis, os quatro.
Não havia evento que um quisesse ir que não fossem os quatro, estudavam juntos as matérias que tinham em comum e se não andavam com as mesmas roupas era porque nesse aspecto cada um tinha os seus gostos.
Trocavam músicas e livros e frequentavam os mesmos cinemas e cafés.
Daí que não se compreendesse que tivessem destinos tão díspares.
Rosa casou-se com um alemão que conheceu numa das suas viagens pela Europa e foi viver para uma pequena cidade perto da fronteira com a França, teve 3 filhos e enviuvou ainda jovem não voltando a casar.
Já Linda foi sempre independente e nunca quis compromissos, engravidou de um dos namorados, mas não quis casar. Quando o bebé nasceu foi-lhe diagnosticada uma doença rara e acabaria por morrer alguns meses depois. Linda dedicou-se ao ensino e foi dar aulas para o interior donde nunca mais saiu, a não ser para vir á capital ver a pouca família e os amigos.
João cedo se apercebeu da sua diferença em relação aos outros no que dizia respeito ao sexo. Começou por tentar relacionar-se com raparigas, acabando por casar e ter uma filha, mas logo se separou para ir viver com um homem por quem se apaixonara perdidamente. A relação, porém, era tumultuosa demais e acabaram por se separar ao fim do 3º ano de vivência em comum.
Eduardo, dos quatro, foi o que teve a vida mais “normal”. Acabou o curso, arranjou um bom emprego numa multinacional, casou, só não teve filhos pois a mulher não conseguia engravidar, por mais tratamentos que fizesse.
Passaram quinze anos e eis que estão de novo juntos na capela onde jaz João, morto por um assaltante à saída duma discoteca.
Rosa, que se encontrava em Portugal de visita à família, não deixou passar a oportunidade para se encontrar com os amigos e chorar o companheiro.
Linda estava de férias, aproveitando o bom tempo para ir até à Costa, estar com o Mar de que tinha sempre saudades. Soubera da morte do João pelos jornais e logo se comunicou com os outros, de que sempre estivera em contacto.
Eduardo viera com a mulher, uma figurinha frágil e amorosa que trazia pela mão um irrequieto rapazinho que ambos adoptaram quando todas as esperanças de ter filhos foram goradas.
Ao fundo da capela um vulto se mantinha oculto pelas sombras dos pilares, era Ana, a filha de João. Vinha ver o pai pela última vez e lamentar só o ter conhecido tarde demais, há um mês, naquela mesma discoteca, onde de então para cá se encontravam às escondidas da mãe, que nunca lhe perdoara o abandono.
Ana tinha a seu lado o namorado, que não a deixara vir sozinha numa ocasião tão especial e dolorosa. Tinham vindo com eles dois amigos, a Vanda e o Roberto.
E estes novos quatro eram o futuro e deles dependeriam as novas vidas, as novas histórias para contar…

6 comentários:

Anónimo disse...

Continuo sempre a ler-te e a encantar-me com o que escreves! beijos, Paula

Caracolinha disse...

Divinal a forma emotiva com que nos encantas ...

Beijinho minha querida ;)

Mocho Falante disse...

Nem sei o que dizer, fiquei de tal modo impressionado que as palavras insistem em ficar escondidas...adorei

beijocas

Desconhecida disse...

Gostei imenso deste texto...fez-me vir à memória "Os amigos de Alex".

Rui disse...

Como uma coisa tão simples pode ser tão bela. Que as histórias continuem.

Quica disse...

Adoro esta escrita. Simplesmente simples e maravilhosa.