18.1.06

Maio


A primeira vez nem sequer se apercebeu bem do que aquele ruído pudesse ser.
Há ruídos a que nos habituamos e que nunca questionamos, são os de casas velhas, em velhas ruas.
Mas à medida que os dias passavam aquele ruído, por ser sempre igual, e à mesma hora, começou a intriga-la.
Percorreu a casa, escutou as paredes, até veio ao corredor apurando o ouvido, mas nada, a origem daquele matraquear estaria por certo entre as paredes de um outro prédio.
Quando encontrou a vizinha do 2º andar perguntou-lhe se não se apercebia de algo estranho por volta das 11h da noite, a que ela respondeu negativamente, encolhendo os ombros.
Não querendo parecer louca não voltou ao assunto até que uma noite o barulho era mais nítido e vinha quase de certeza do prédio ao lado, que estava em reconstrução.
O edifício de dois andares estava desabitado pelo menos desde que fora para lá morar, mas já há uns tempos que sempre que queria saber alguma coisa acerca dele as pessoas desviavam a conversa para um outro assunto.
Estranha ao bairro tomou como assunto secreto o que àquele prédio dizia respeito.
Corria o mês de Maio e com as janelas abertas, o tempo estava já quente, todas as noites e durante escassos minutos aquele como que um sinal ecoava no ar deserto da velha rua.
Começou Junho e de repente tudo cessou.
As obras findas, a casa alugada, tudo tinha voltado ao normal.
O ano acabou rigoroso, com frio e chuva e o vento que fazia bater janelas e portas.
Maio, em que antigamente ainda se “comiam as cerejas ao borralho”, começou com dias bonitos e algum calor.
E foi então que de novo começaram as batidas, sempre às 11h, mais minuto menos minuto.
Ao fim de uma semana ganhou coragem e foi bater à porta do prédio. Quem veio atender foi um miúdo, de calções e trazendo a tiracolo um tambor de brincar no qual tamborilava fazendo o ruído que de sua casa ouvia.
Só passados dois dias reparou que a casa estava à venda. Já está assim há mais de um mês, disseram-lhe, mas ninguém a quer depois do que ali aconteceu ao menino, vai para dez anos.

1 comentário:

Anónimo disse...

Boa Theo, adoro contos de terror. Entretanto este menino fez-me lembrar um filme muito bom que via aí há 20 e tal anos "O Tambor" sobre a segunda guerra mundial, também deves tewr visto. Doida para saber o fim da história.beijos.