Rangeram as palavras aprisionadas num resignado esquecimento,voltaram os tempos das lembranças, os 30 e 40, os da minha meninice.
Teria quatro, cinco anos? o avô materno, homem sereno de voz tranquila, tinha morrido.
Sempre me lembrava dele sentado numa cadeira ao pé da braseira na loja de minha mãe, ou à fornalha da oficina onde batia chapa.
Os pais decidiram levar-me para casa da minha avó paterna nos primeiros dias de luto, fazia-se uma mala com a roupinha necessária, em cima duma cadeira junto à porta do quintal.
Poucos dias antes minha mãe comprara-me uns "soquetes" de uma das cores do arco-íris, vermelhas ou amarelas, disso já não me lembro, fui buscá-las e coloquei-as na mala, mas a mãe disse que aquelas eram muito garridas e nós estávamos de luto (as crianças naquela época vestiam de negro também) e voltou a metê-las na gaveta.
É a lembrança mais antiga, SEI exactamente onde voltei, sorrateiramente, a esconder os soquetes, escondidos debaixo da roupa, na mala que estava em cima duma cadeira, junto à porta do quintal.
Não esqueci também o sorriso meigo de minha mãe, que tudo viu, e deixou que uma das cores do arco-iris fosse mais importante do que o negro do luto, afinal eu era uma menininha e tinha muitos anos pela frente para ter saudades do olhar meigo do meu avô, que espreita agora através do sorriso do meu filho.
Modestas palavras estas que dedico a quem me fez lembrar e escrever a mais antiga lembrança duma vida já longa de quase 77 anos,
para ti "bettips", com um beijo,
theo
5 comentários:
o importante está cumprido, e a "betips' pôs-te a escrever!
começaste por memórias, memórias familiares, o que corresponderá ao momento que vives, de introspecção. as memórias é uma tua faceta de escritora que todos apreciamos. viveste épocas e acontecimentos que nós só conhecemos ou de livros ou de cinema, ou de "te" ouvir contá-las. e tu conta-las com um sentimento muito forte, escrita emocionada e que emociona
mas há outra faceta escritora em ti que, acredito, igualmente ressurgirá: a da ficção. aqueles cenários mirabolantes que engendravas e se quiseres voltas a engendrar, 'Miss Marple' :-) até aposto que te dava um grande prazer imaginar a trama e desenvolvê-la, ver os pontos onde armadilhavas o texto para deixar o leitor desprevenido em relação ao final... tou enganado? nop!
ao trabalho, mulher!
C/G
Gostei MUITO! Todas nós tivemos esses momentos sorrateiros. Tal como C/G disse, é pôr cá fora essas lembranças que nos falam de cenários de décadas, de ternura.
Fico um pouco feliz por saber que ajudei a levantar um pouco "a memória" dos sentimentos, afinal, o que mais interessa nesta vida de "praticismo".
Com as devidas diferenças, fazemos isso com os filhos, netos e bisnetos - agora que se acabou o "contar de histórias, ao menos saberemos com preservá-las!
(eu li algumas coisas para trás...!)
Um abraço
Meus queridos, me esperem...lol
o tal de contar "estórias", não acabou não, ando já a congeminar uma...eheheheh
Beijos, th
Vim ler-te agora.Tenho de confessar
que faz já bastante tempo que não vinha ler-te e...deparo-me com estas memórias escritas com tanto sentimento e ternura que me fizeram arrepiar de doce emoção.
Bem hajas por teres partilhado connosco e continua porque pouca gente tem o condão de utilisar esta escrita doce e elegante como tu fazes. Bjs Paula(Almeirim)
Obrigada meus amigos, vocês são um incentivo para mim, para continuar com escrevendo os meus registos.
Espero não vos decepcionar, com um beijo, th
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