15.5.09

Um "conto" para Isabella


Sabendo que a IO apreciava de certo modo as "estórias" que aqui em tempos postei, como prendinha de aniversário escrivinhei para ela expressamente um pequeno devaneio, com desejos de muita saúde e alegria.

Parabéns querida amiga!


Um conto para Isabella

"Ainda era cedo, olhou vagamente para o tempo que fazia lá fora, queria escolher um vestido com o qual se sentisse confortável, mas que lhe desse um ar sofisticadamente descuidado.
Adorava preguiçar nos preparativos para um encontro, dava-lhe uma espécie de autodomínio, de poder sobre o outro, de controlo nos gestos e nas palavras que diria fosse em que circunstâncias fossem.
O banho fora demorado e tépido, languidamente passara o perfume atrás das orelhas e nos pulsos, a maquillage cuidada e discreta, o penteado solto pelos ombros num emoldurado brilhante e sedoso.
Tinha emagrecido um pouco, o suficiente para o vestido lhe deslizar pelas curvas suaves e douradas.
O relógio batia agora as sete, ainda a tempo de escolher os sapatos, carteira e demais acessórios a condizer.
Para combinar com a seda azul-noite do vestido, pérolas nos brincos e numa enfiada longa quase até à cintura nas costas nuas.
Uma pequena casaca de veludo estampado protegia-a dos humores da noite.
Faltavam dez para as oito quando desceu as escadas, pausadamente.
Tarefa acabada, descendo degrau a degrau foi interiorizando os sentimentos até se admirar que nenhuma exaltação se tinha apoderado de si com a conquista feita.
Deitou um pouco de whisky num copo e sem gelo, bebeu-o de um trago. Sentiu o calor descer pela garganta e a cabeça encher-se de ideias.
Foi então que tomou a decisão que a levou ao riso, depois à gargalhada e finalmente à paz.
Via agora como ele era mesquinho e vulgar, como o seu riso era fácil e alarve, o seu olhar não tinha ternura nem amizade e os seus gestos não tinham a doçura dum carinho.
Toda a tarde a tinha inquietado um mal-estar, um não sei quê que só agora conseguia definir como uma profunda desilusão.
Tinha esperado tempo demais, recusara amores e amantes…mas agora finalmente sentia-se livre, justamente no momento em que conseguira chamar-lhe a atenção e aceitara o seu tão esperado convite.
Rodou na mão o copo de novo vazio, que pousou na mesinha, descalçou os sapatos e estendeu-se no sofá, despojou-se das jóias e fechou os olhos, sorrindo.
Sorria ainda quando a campainha tocou e tocou e tocou… "