30.8.05

Do Rabelo

Rabelo de Emyl Biel

Está terminado no "Cidade Surpreendente" o "documentário" sobre a construção do Rabelo
Foi lá que encontrei esta foto de um antepassado

27.8.05

Em homenagem...




Em homenagem aos mestres que fizeram os BARCOS RABELOS, conhecidos barcos do Douro, de transporte antigo de Vinho do Porto, vejam este extraordinário post de Carlos Romão

26.8.05

Fala Comigo!



Chegada de férias não estava a entender muito bem o cansaço e o abatimento em que se encontrava.
Era verdade que a estada na aldeia, apesar de nada fazer a não ser um pouco de natação no rio, tinha, talvez por isso mesmo, sido desgastante.
Começou por arrumar algumas roupas e colocou a lavar as restantes, que precisavam. Era sábado e na próxima segunda feira recomeçaria o seu ano de trabalho.
Por ventura seria da tarefa, que lhe dava sono, de tão sem interesse ou porque era daquelas coisas que detestava fazer, teve que se deitar por duas vezes e duma delas até adormeceu.
O mais estranho de tudo era que não lhe apetecia ligar ao João, tinha saudades dele, mas não tinha vontade de o ter a fazer-lhe perguntas, a ter que fazer conversa de fim de férias, a descrever um período que tinha sido, ou deveria ter sido, de descanso. Telefonar-lhe-ia apenas no dia seguinte, era Domingo e podiam ir dar uma volta à beira-mar.
O tempo estava ameno, o Outono não tardaria a chegar, mas estava-se bem passeando ao longo da praia, sem aquela multidão que de verão costumava encher os areais e esplanadas.
João estava alegre e contente por a ter de volta, jantaram em casa de Diana, jantar que ambos prepararam entre risos e carícias, não sem antes terem saciado corpos e afectos naquele amplexo que começando amoroso se tornou, à medida que o desejo aumentava, mais animal e físico.
Mas Diana estava triste, o sexo que a deixava sempre mais enamorada, desta vez foi mais um matar saudades que um apaziguar de instintos, de apagar aquele fogo que no seu ventre chamava por ele, só por dele se lembrar. Quantas vezes, longe que ele estava, tivera que o imaginar enquanto se masturbava, para aquietar o seu desejo, o desejo da pessoa dele.
Era aquele estúpido cansaço, aquele quebranto, que a deixava prostrada e amorfa, desculpa que a si mesma deu, para explicar esta transformação que o próprio João já notara, muito embora Diana disfarçar-se o mais possível. À medida que os meses iam passando o seu desinteresse por tudo ia aumentando, até o João, assim que se apercebeu que a relação deles se tinha deteriorado, começou a espaçar visitas e telefonemas, com desculpas mais ou menos esfarrapadas. Se pensava que isso a aproximaria, estava enganado. Como um círculo vicioso o afastamento dele deixava-a magoada e cada vez menos desejosa do seu corpo e sem o desejo do corpo que era feito do seu amor? Amava-o ainda, mas pensava, por vezes, que só o sexo interessava a João ou tudo se resumira a uma simples atracção física? Dissera ele uma vez que era bom sentir-se amado e desejado, mas teria ele a amado alguma vez?
Ambos evitavam uma conversa, que sabiam final e sem regresso e assim foram passando os meses no tácito consentimento de que tudo devia ficar quieto como pó em cima de velho móvel, em casa abandonada.

No começo da Primavera já quando Diana parecia recuperada da depressão e esgotamento que a afastou de todos, começou a ter horríveis dores de cabeça e ouvido. O cansaço agravara-se de tal forma que teve de meter baixa para poder descansar sempre que precisasse, a mando do seu médico e enquanto não vinham os resultados dos exames que este lhe pediu que fizesse.
Quando finalmente chegaram foi-lhe diagnosticado um tumor junto ao ouvido, muito difícil de operar.
Fui vê-la varias vezes ao hospital, nunca lá encontrei o João, também Diana nunca mais me falou nele, apenas uma vez disse que aos homens apenas interessa o sexo, embora digam que não, todos os outros sentimentos se alicerçam nessa atracção, quer queiramos ou não.
Milagrosamente Diana acabou por sobreviver ao tumor, retomou a sua vida normal, embora tivesse que ter alguns cuidados em relação a assuntos stressantes.
João soube da doença de Diana por interposta pessoa, mas não teve coragem de se aproximar dela e quando anos depois a encontrou limitou-se a abraçá-la silenciosamente, olhá-la nos olhos e partir. Diana aí teve a certeza que ele em qualquer altura a tinha amado de verdade.
Seguiriam suas vidas sem jamais se voltarem a encontrar, quando o que apenas seria necessário, como disse Diana, que ele me tivesse respondido ao meu apelo de..."fala comigo!"

22.8.05

Fazes-me Falta












Eis o que em silencio li, de Inês Pedrosa; do livro:

FAZES-ME FALTA

…Arrumei os amores, é a primeira regra da vida – saber arquivá-los, entendê-los, contá-los, esquecê-los. Mas ninguém nos diz como se sobrevive ao murchar de um sentimento que não murcha. A amizade só se perde por traição – como a pátria. Num campo de batalha, num terreno de operações. Não há explicações para o desaparecimento do desejo, última e única lição do mais extraordinário amor. Mas quando o amor nasce protegido da erosão do corpo, apenas perfume, contorno, coreografado em redor dos arco-íris dessa animada esperança a que chamamos alma – porque se esfuma? Como é que, de um dia para o outro, a tua voz deixou de me procurar, e eu deixei que a minha vida dispensasse o espelho da tua?...

20.8.05

De Mãos Dadas


É raro ver, mas quando acontece devia ter honras de repórter. Refiro-me aos casais de mão dada.
Mas a minha admiração não vai para todos, o meu encanto vai para alguns, para aqueles que pelo seu comportamento merecem a minha ternura.
Fora os jovens que pelo seu “enleamento” parecem nem sequer dar pela nossa presença, é sobretudo para as crianças e os velhos que o meu olhar se pousa agradecida pela cena e pela capacidade de a apreciar.
Há dias fiquei embevecida a olhar para um casal, mas um casal diferente, desta vez mãe e filho, mas não uma mãe e filho quaisquer, uma mãe pequenina, já com cabelos brancos e um filho adulto, alto e que sofre de um notório atraso mental.
Conheço-os há já bastante tempo, vão sempre ao cinema juntos, mas pela primeira vez os vi de mão dada.
As mãos que se dão trazem atrás de si muito carinho, uma cumplicidade que corre pelos membros como fluido em vasos comunicantes, são elas que formam as correntes e transportam energias, que timidamente se apertam ou se levam ao peito numa dádiva.
Metaforicamente podemos dar as mãos numa solidariedade por uma causa a bem da humanidade, mas o mais triste é na verdade ficar de mãos a abanar, sem o encontro que é o caminhar de mãos dadas.


18.8.05

O Inquérito


-por favor, pode-me dispensar 5 minutos do seu tempo?
-não, não, vou com pressa...
-por favor, pode dispensar 5 minutos...
-tenho que apanhar o autocarro, não posso...
-por favor...
-agora não, já estou atrasada...
-por favor, pode-me responder só a uma pergunta?
-sim, pergunte lá...
-qual a sua opinião sobre o casamento entre homossexuais?
-sinceramente acho que não há necessidade, devia era haver legislação que salvaguardasse as partes numa relação fosse ela qual fosse.
-e a adopção de uma criança?
-aí é mais complicado, está em causa um ser humano muito frágil, possivelmente até já traumatizado.
Era o segundo dia que andava na rua a fazer entrevistas e pouco tinha conseguido, as pessoas fugiam, andavam cheias de pressa e algumas quando lhes perguntavam sobre assunto tão delicado, esquivavam-se a dar opinião.
Depois havia aqueles que só diziam:
-pouca vergonha, era o que mais faltava, já não há decoro, isto é o fim do mundo...e frases como estas eram frequentes.
-omo quê? eu só uso o outro...
-casamento? que casamento? mas eles já não eram casados...
Os resultados não eram animadores e o trabalho estava atrasado mais do que o razoável.
Nesse dia iria para o oposto da cidade, onde havia montes de escritórios e esperava encontrar pessoas com mais interesse e mais intervencionistas. Engano puro, pura demagogia.
Risinhos, piadas, loiras ou morenas para quem o assunto ultrapassava interesses e conhecimentos, sem falar nos machos a caminho de um encontro de negócios ou amoroso, na hora de almoço, quem sabe com o amigo gay…
Não são só os cigarros, as bebidas que são “light”, são as conversas também.
O trabalho ficou por acabar; neste caso o que era deveras importante era a reacção das pessoas e isso estava registado num caderno aparte para mais tarde meter no blog…

17.8.05

Último capítulo

Os Finais


Ana Rita começou a ter atitudes estranhas a partir do momento em que soube, pela amiga, do estado financeiro da firma. Em conjunto decidiram vender a fábrica antes que fosse decretada falência e não se salvasse nada. Depois de pagar aos credores e funcionários ainda era possível retirar o suficiente para, com a venda de algum património, recomeçar qualquer negócio modesto, mas para o qual AR não estava de todo preparada.
Maria da Graça estudou com ela todas as hipóteses, ajudada com o advogado, mas foi quando vislumbrou o futuro negro que a esperava que AR começou a sentir os efeitos de um esgotamento seguido de uma enorme depressão.
Deixou de comer e só saia de casa para tratar do absolutamente necessário, sempre acompanhada de MG.
A degradação foi fulminante, começou por vender dois dos carros e pôs a vivenda do Estoril à venda, retirando-se para a casa de campo, perto da Ericeira. Isolou-se de tal maneira que se não fosse MG teria enlouquecido mais cedo do que se veio a verificar já os negócios tinham sido resolvidos e a quantia que recebeu, uma pequena fortuna, veio não só fazer face às necessidades do momento como a deixava rica para o resto da vida, tarde demais no entanto para obstar a que a demência se manifestasse e progressivamente se instalasse ao ponto de MG ter de a internar, pois já ninguém queria tomar conta dela. A pouca família que possuía, já que os filhos viviam todos no estrangeiro, foi-se afastando ou foi por ela afastada com a obsessão de que a estavam a roubar; não passava um dia que não contasse durante longas horas o pouco dinheiro que conservava em casa e até para comprar comida fazia contas sem fim.
Pouca gente se apercebeu da súbita riqueza de MG, das suas extravagâncias, domésticas, é certo, mas nunca antes vistas; às poucas pessoas que disso se deram conta MG dava uma explicação atabalhoada e desviava a conversa, se necessário. O certo, porém, é que tudo começou pouco depois de ter estado no norte com AR e ter feito aquela auditoria a seu pedido.
Houve quem dissesse que Ana Rita a remunerara convenientemente, houve quem desconfiasse que entrara em negociações encobertas com os sócios e recebera um bom e chorudo suborno. Se foi este o caso, Maria da Graça ficou sempre presa a esta culpa e não abandonou a amiga quando ela mais precisava.
A vida é tortuosa no seu rodar e qual banca da fortuna às vezes é mãe outras vezes madrasta, como se use dizer.
Vou fechar o computador, está a chegar a M. da Graça, hoje é dia da entrega do cheque que ela me vem trazer para que eu continue calada acerca das corrupções que lhe deram este bem-estar na vida e que lhe estava no sangue era ela ainda uma funcionária pública.

Ass.:
(uma "amiga" com visão)

3º capítulo

A Auditoria

M. da Graça, agora já quase desperta, começava a reparar o quão estranho era tudo, a começar pelas roupas de Ana Rita, e o carro, de quem seria aquele carro, velho e sujo…nunca vira a amiga tão descuidada, ela que era impecável em tudo. Casaco e calças de ganga, cada um de sua cor, um chapéu de homem bem enterrado na cabeça, onde os cabelos foram apanhados e escondidos. -De quem é este carro e porque estás vestida assim? -para disfarçar, para disfarçar, não vês que eu não quero ser reconhecida…o carro pedi emprestado e deixei o meu, com a condição de o passarem numa portagem do sul, para fazer de prova. O dia começava a clarear e Ana Rita colocou óculos escuros para finalizar o disfarce. M. da Graça ia dormitando… -Porque paramos? -só me faltava esta…é a polícia e eu que não tenho os documentos, raio de vida… Ana Rita começou por fazer charme e tocar um choradinho, tinha uma pessoa de família muito doente, o carro era emprestado e esquecera-se de pedir os documentos. O agente quis ver tudo, triangulo, pneu sobressalente, luzes…Ana Rita começou a ficar irritada, já atirava com as portas e ele só lhe aconselhava calma, os documentos acabaram por aparecer, estavam no porta-luvas, como era de calcular, mas entretanto já Ana Rita discutia com o polícia e só se conteve porque queria seguir viagem o mais rápido possível. Perderam meia hora e por pouco não ficaram detidas por insulto à autoridade, pois Ana Rita perdeu as estribeiras quando o agente lhe pediu para ver a água do limpa pára-brisas, pois se ela nem sabia como abrir o capot…
O agente era da nova escola, pacientemente ajudou-a e de dentro do carro M. da Graça, espantada, viu-os rir e trocar papeis.
Acreditas que o gajo até me convidou para a quinta dos pais, lá no norte, perto da fábrica? Eheheheh
Estava destinado, Ana Rita foi apanhada pouco mais tarde a conduzir a mais de 140km/h, e desta vez não houve tratamento meigo, a multa era mesmo para pagar.
Chegadas a Braga hospedaram-se numa pequena Pensão, numa rua escusa, evitando assim os hotéis onde Ana Rita era já conhecida cliente.
No escritório do advogado foram logo introduzidas no gabinete do mesmo, que as esperava.
M. da Graça ficou a saber para o que ali estava e quais os procedimentos adequados para obter as informações de que necessitavam para uma acção judicial, se a mesma se justificasse.
De posse dum documento que lhe dava acesso a tudo que dissesse respeito às finanças da firma, M. da Graça, mandatada por um hipotético interessado, começou no dia seguinte a "vistoria".

16.8.05

Tangências


"Aqueles que passam por nós,
não vão sós, não nos deixam sós.
Deixam um pouco de si,
levam um pouco de nós.

"("Antoine de Saint-Exupery")

12.8.05

2º capítulo

A VIAGEM


Meia estremunhada, meia a dormir, meia acordada… (três meias, não pode ser, não sei como dizer, enfim…) 1/4 estremunhada, ¼ a dormir, ¼ acordada e ¼ espantada (agora sim, está certo…) MG vestiu-se, embora só mais tarde tenha reparado que tinha vestido tudo ou do avesso ou de trás para a frente, e as cores com que sempre tinha um cuidado meticuloso para que condissessem, eram a maior miscelânea possível. Porra, demoraste uma eternidade! Ana Rita, que nem falava em calão, esperava-a dentro do carro, trancada, fumando nervosamente um cigarro, embaciando os vidros e só deu conta de MG quando esta lhe bateu na janela. Acomodou o pequeno saco, não tivera tempo para pensar direito o que seria mais necessário, e ainda não tinha colocado o cinto já AR arrancava a toda a velocidade dizendo: tens que me ajudar! Tanto travou e arrancou que acabou definitivamente por acordar a amiga, como se fosse um valente abanão, para o que também contribuiu o ar fresco da madrugada. Quando finalmente conseguiu dizer alguma coisa foi com vozinha ensonada e gemebunda que perguntou: o que se passa? O que se passa? O que se passa? Os gajos estão a querer passar-me a perna, caraças. Não estranhaste eu não te falar há tantos dias? Tive que ir ao Norte, mulher, eles estão a querer aldrabar-me.
Eles, quem? Ana Rita não vais muito depressa? Olha a camioneta do lixo…olha que é duplo homicídio, de curiosidade e de lixeira…
-tu ainda não dizes coisa com coisa M. da Graça, vamos tomar um café…e nesse preciso instante guinou para dentro do parque duma estação de serviço; iam morrendo não fosse uns turistas de roulote desviarem o necessário para não chocarem de raspão. Saíram do carro meio a tremer, Ana Rita riu em surdina e comentou…foi por pouco, tivemos sorte.
Só quando o segundo café começou a fazer efeito que MG, em tom firme e dedo em riste exigiu:
-agora vais-me contar direitinho, tintim por tintim o que está a acontecer e porque precisas da minha ajuda.
São os gajos da empresa, menina, os meus sócios querem abrir falência e eu tenho a certeza que aqui há marosca. Preciso de ti para me fazeres uma auditoria àqueles papéis, que eu não entendo nada. Num trabalhaste nas finanças? Então, és a pessoa indicada para me ajudar.
-mas…
-não há mas nem meio mas, vamos já para lá.

(eis portanto que elas aí vão, embora a viagem não vá ser tão simples como isso…)

1º capítulo

AS AMIGAS


É quando se tem tudo para se ser feliz, que se não é…
Era assim que pensava Maria da Graça enquanto ouvia o lamuriar da amiga, havia já duas horas.
As duas se tinham encontrado como de costume, encontro que só motivo grave impediria.
Eram amigas de longa data, mais precisamente do tempo do último ano do liceu. A propósito de uma festa de aniversário de uma colega tinham começado a conversar, encontraram pontos comuns na maneira de pensar, nos interesses e assim nasceu aquela amizade.
Inês tinha casado, depois do terceiro filho divorciou-se, casou-se segunda vez e enviuvou passado um ano dum empresário do Norte, que a deixou milionária.
Com os três filhos independentes, casados ou com uma carreira promissora, os netos sendo projecto mais para o futuro, Inês Rita viajava durante metade do ano e na outra metade sempre em festas, pequenas estadas na praia ou no campo.
Em contrapartida Maria da Graça sempre fora uma funcionária pública, enfastiada do serviço, nunca casara e os poucos relacionamentos que tivera foram algo de muito pouco consistente.
Agora, já reformada, lamentava ter sido a âncora da família, aquela para quem toda a gente se voltava em hora de aflição. Acabara por criar um sobrinho que ficara sem mãe muito pequeno, filho do seu irmão Joaquim, tendo sido com ele que experimentara as alegrias e as dores da maternidade.
Eram, portanto, poucos os amigos com quem privava e Inês Rita era das poucas pessoas com quem lhe dava prazer conviver. Ambas se divertiam naquelas tardes de chás, compras e cinema, ou simples conversa para passar tempo.
Estranhava pois Maria da Graça que naquele dia Inês se queixasse tanto disto e daquilo e a deixasse muda de espanto e estupefacção. Começava já a ficar um pouco cansada quando se despediram, sem que Maria da Graça tivesse sequer pronunciado meia dúzia de palavras. Era a primeira vez que assim acontecia, que se despediam com qualquer coisa no ar que nenhuma delas conseguiu definir, qualquer coisa por dizer ou dita a mais, como se estivessem passeando em areias movediças.
Havia ali qualquer coisa que não estava certa, desconhecia aquela faceta da amiga e por isso, logo na manhã seguinte telefonou-lhe. Não a encontrou nem no telemóvel, que estava desligado.
Nem no dia seguinte, nem no outro…passaram 5 dias e Maria da Graça começou a ficar muito preocupada e mais ficou quando lhe começaram a telefonar à procura dela, os outros amigos.
Eram 5 da manhã, o telefone toca…era Inês Rita:
-não digas nada, mete umas quantas coisas num saco, o indispensável só e desce, preciso de ti…


(já sei que tenho que acabar a história, mas ainda não sei como vai ser...p.f. tenham um pouco de paciência, que estas duas vão aprontar, lá isso vão...mas ainda é mistério)


9.8.05

O Fim do Aviso


Tudo começara num chat, com uma conversa de chacha, "chatcha" como ela ria ao dizer, e em que noite após noite, sob nicks, e disfarçados se entretinham a passar um tempo em leve cavaqueira.
E como o hábito se instalou, começaram a ficar dependentes daqueles pedaços de dia, que por vezes, sobretudo ao fim-de-semana, se prolongavam até de madrugada.
Do chat passaram para o Messenger e do virtual para o real. Viviam em zonas opostas da mesma cidade, o que facilitou o encontro.
Quase da mesma idade, ele já divorciado, ela ainda solteira, mas com relações conflituosas no passado.
Aos poucos foram-se tornando íntimos e já não passava um dia que fosse sem se, pelo menos, se falarem pelo telefone ou através da Internet.
Saíram uma noite para jantar e os corpos se saciaram por inteiro naquele amplexo há muito adivinhado.
Como flores colhidas frescas, mas com o calor dos afectos, depressa começaram a descobrir-se em personalidades por vezes estranhamente inquietantes, como foi o caso de Gabriela descobrir que os ciúmes dele chegavam a ser sufocantes.
Habituada ao longo dos seus anos de solteira, e independente, à sua autonomia e agora a ter de comunicar todos os seus passos, minuciosamente, a relação começou a se detiorar.
Uma noite, entre afirmações caluniosas e insultos, ele chegou mesmo a dar-lhe uma bofetada. Estiveram nessa altura sem se comunicar durante uma semana, não que ele não tentasse aproximar-se com desculpas e promessas todos os dias. Acabaram por se reconciliar mais tarde, dando-lhe ela uma segunda oportunidade.
Inevitavelmente pouco tempo depois as cenas de ciúme voltaram e as discussões também e com elas a falta de respeito, a agressividade, o inferno...
Por isso, Gabriela, naquele verão, resolveu partir sozinha para o sul, sem o avisar sequer.
Uma madrugada, em que não conseguia conciliar o sono, começou a escrever-lhe uma longa carta, em que lhe explicava todos os seus ressentimentos, desgostos e uma única certeza...não queria continuar esta relação sem futuro, por tão tempestuosa quanto desequilibrante. Pedia-lhe que considerasse os seus pontos de vista e respeitasse os seus sentimentos. Enviou a carta de Espanha, onde foi tratar dum pequeno negócio, para lhe não dar a conhecer onde se encontrava. Prometia telefonar-lhe logo que chegasse para terem uma conversa.
E assim foi; tiveram um encontro, em tudo civilizado, onde tudo ficou claro e resolvido...até que começou a receber mensagens no gravador e as campainhas não paravam de tocar...
Adriano entregou-se às autoridades poucos dias depois da morte de Gabriela, quando soube que as mesmas o procuravam, segundo soube por um amigo jornalista.
Gabriela era uma figura pública e o caso teve um certo destaque na imprensa, que apenas não divulgou, a pedido de altas instâncias, que a mesma se tinha envolvido em negócios pouco, muito pouco claros, de branqueamento de capitais e o seu hipotético suicídio não tinha sido senão um ajuste de contas antigas.
Adriano foi aqui apenas um pião apanhado na engrenagem, para o que contribuiu o seu exacerbado ciúme.
Mandado em liberdade depois de ter sido ouvido o seu depoimento, algo incongruente sobre um comprimido que tinha deixado por engano na casa de banho...os polícias nunca entenderam esta história pois Gabriela tinha sido morta por asfixiamento enquanto dormia, depois de ter tomado uma dose exagerada, mas não mortal, de soporíferos.

7.8.05

O Aviso





A campainha do telefone tocou durante longo tempo, depois de a da porta, até quase fazer com que Gabriela se sentisse tentada a atender...mas não, desta vez não cederia um palmo na resolução que tomara.
Tinha tido com ele uma longa e frutuosa conversa, pelo menos foi com essa convicção que se tinham separado há dois dias.
Desde a véspera, no entanto, que o telefone não parava de tocar depois de ter desligado o atendedor, onde ele deixara duas mensagens desesperadas..."preciso de te falar, urgente, telefona-me".
Gabriela nunca chegou a saber o que ele tinha para lhe dizer tão desesperadamente, morreu envenenada com um comprimido que ele lhe misturara com os que ela às vezes tomava para dormir...

6.8.05

Estou a pensar se...


Fico a pensar...


Lido num comentário do blog murcon:

Para quem não acredita na vida depois da morte como eu, é consolador poder sonhar. Porque já tenho matado saudades de muito boa gente. Incluindo de quem partiu de vez.

3.8.05

De Ferro

Ontem passei pela "Expo", "Parque das Nações" para alguns, e ao tirar esta foto pensei que é preciso ser Homem (ou Mulher) de Ferro para fazer frente a certos estádios da vida...

1.8.05

As Madrastas


Sabendo nós a conotação que a palavra encerra, eu prefiro chamar-lhes as segundas mulheres, mesmo que sejam as terceiras ou quartas...
Sobre elas, sobretudo as que se casam (ou não) com homens que têm filhos naquela idade complicada da pré-puberdade, tenho pensado e concluído o quão deve ser difícil de manter um certo equilíbrio e uma razoável saúde mental.
Para já marido e filhos devem vir cheios de "vícios", e quando digo vícios refiro-me àqueles pequenos tiques que podem fazer da vida de qualquer pessoa um perfeito inferno. Mesmo quando a separação, ou o divórcio, foi civilizada é de esperar que comparações passem pela cabeça de quem espera "refazer" a vida. Se coabitar é sempre difícil, estas segundas núpcias necessitam de um par de bons diplomatas.
E não nos esqueçamos que as crianças podem ser muito cruéis, já sem pensar que podem estar orquestradas por mães enciumadas e que continuam a sentir-se trocadas.
O lado destas mulheres nunca é bem explanado, defendido até, não nos devemos esquecer que elas vão viver numa verdadeira corda bamba, marcando a sua posição, fazendo-se respeitar, sem criar atritos, e a título nenhum devem querer substituir seja quem for no coração de quem quer que seja.
É um tema sobre o qual gostaria que se pronunciassem e ainda pouco foi dito.
A minha experiência foi privilegiada por uma Boa Madrasta, e as duas que os meus filhos têm até conseguem ser minhas amigas. Não serão casos raros, mas também não tão comuns como seria desejável.
Todos sairiam beneficiados, a começar pelas crianças.