31.1.05

A Revolta no Porto

Ao cimo da Rua 31 de Janeiro, a Igreja de St.º Ildefonso, testemunha da revolta.

(de Jornal Primeiro de Janeiro):

A revolta do Porto que quase trouxe a República em 1891
Notáveis recordam o 31 de JaneiroTudo começou com a revolta dos militares que, associados à população do Porto, puseram no mapa da história de Portugal o dia 31 de Janeiro. Na tentativa de salvaguardar a data, várias iniciativas vão ser tomadas por alguns notáveis da cidade.Tiago FerreiraO Majestic foi o palco escolhido, na passada terça-feira, para a apresentação das comemorações do 31 de Janeiro. Assim, o auge das celebrações será vivido pelas 12 horas no cemitério do Prado, com uma homenagem aos revoltosos, prosseguindo, à noite, com uma exposição e conferência na Biblioteca Almeida Garrett, em homenagem a José Augusto Seabra.Na apresentação do programa estiveram José Gomes Fernandes, presidente da Associação Cívica e Cultural 31 de Janeiro; Paulo Morais, vice-presidente da Câmara do Porto, e Manuel Moreira, governador civil do Porto. Dois pontos foram focados: a valorização do 31 de Janeiro na tentativa de implementação da República e uma homenagem a José Augusto Seabra, republicano convicto e membro honorário da associação.Durante o encontro, a frase que mais aclarou as ideias futuras da associação foi proferida pelo governador civil: “O 31 de Janeiro é a divulgação dos valores tradicionais, da liberdade, da cultura e do património histórico-cultural do Porto para o futuro”, reflectidos nos valores que provêm do passado.Em declarações a O PRIMEIRO DE JANEIRO, José Gomes Fernandes afirmou que no dia 31 de Janeiro de 1891 “o que se passou foi uma revolta e durou menos de um dia, tendo estado a bandeira da República hasteada durante cinco horas na câmara”.A associação portuense, que conta com mais de 100 sócios, foi criada por republicanos e democratas ligados àquela data que, através de ligações académicas e pessoais, resolveram fundar a instituição. Como forma de divulgação do que se passou em 1891, “as conferências sobre a liberdade são levadas a cabo, tal como a publicação de livros e a comemoração dos dias 5 de Outubro, e 25 de Abril”, explicou o presidente da associação. Com grande mágoa, José Fernandes constatou que a data para os cidadãos do Porto caiu um pouco no esquecimento, mas “temos um programa nas escolas na tentativa de incentivar esta comemoração junto dos mais jovens”, concluiu.

Uma Portuense,

th

28.1.05

Pensem!

Segundo estatísticas chegam aos nossos hospitais, todos os dias, 3 mulheres que fizeram aborto clandestinamente.
Em face disto o que é realmente preciso mudar?

27.1.05

Caldinhos

Desculpem lá...mas ouvir falar do aborto (que deveria ser sobre a despenalização do mesmo) a F.Louçã ou a P. Portas e pedir ao Santo Padre para dissertar sobre sexo e preservativos, a mim me parece o mesmo que pedir a uma galinha para fazer uma omeleta!

Memórias

Era a primeira vez que se iam encontrar depois do divórcio e apesar de tudo se ter resolvido da melhor maneira, mesmo assim, ainda estava apreensiva.
Tinha vindo a mentalizar-se de que a relação estava definitivamente arquivada e titulada.
Os meses passados tinham sido de férias, o Sol e a boa companhia tinham feito o milagre de sarar feridas e fazer despertar a alegria de viver em paz.
Sentia-se revigorada e pronta para um ano de trabalho que a ajudaria a ultrapassar os últimos degraus da mágoa por que tinha passado ao ver desfeito um casamento de dez anos.
Os filhos não vieram dar alegria ao casal, mas também não tinham constituído problema a quando da separação.
Antecipou a ida ao cabeleireiro para se sentir mais confortável e escolheu um fato que sabia de antemão o Pedro gostava e a blusa fazia realçar o azul dos olhos.
Olhou-se ao espelho e deu-se conta de repente que afinal ainda lhe era importante a opinião do marido...ex-marido.
A escritura estava marcada para dali a uma hora, pelo que ainda tinha tempo para passar uma última vista de olhos pelo contrato que ambos prometeram assinar.
................................................
-Mãe! Onde está o fato de treino que eu ontem comprei na feira?
-Foi para lavar, por quê?
-Preciso dele para amanhã, achas que seca a tempo?
-Seca, é fino e está calor.
-Mãe...a escrever de novo? Voltaste às tuas memórias
-Sim, quero pensar numa maneira de expressar o que penso em relação às pessoas, ao seu relacionamento; eu e o teu pai chegamos a estar divorciados, como sabes, e quando pensava que a relação estava acabada eis que uma chamazinha se acendeu, foi um olhar, uma cumplicidade, sei lá...
Afinal ainda tínhamos muito amor para dar ao outro, acho que o que sofremos com a separação nos fez crescer e ver que ainda valia a pena tentar de novo, estávamos mais tranquilos, menos expectantes, mais seguros de nós e a um passo de estarmos seguros do outro, serenamente.
O teu nascimento foi uma bênção, ver-te crescer foi a alegria maior que o teu pai teve, pena que não fosse por muito tempo...
Emocionada, sorriu para a filha, levantou-se e saiu para o jardim.
O fim de tarde estava ameno, havia flores e os cheiros eram suaves e a brisa calma. Pensar que estivera a um passo, pequeno, de vender aquela que seria a mansão do seu contentamento!

24.1.05

De ouvir dizer

Escutei numa esplanada:
...sim que eu não vou para a cama com qualquer uma, eu sou um homem sério!

As idades

Diz-se das idades e eu não entendo lá muito bem por quê e por isso me pus a pensar para achar uma explicação.
A “tenra” idade será aquela que ainda não é “dura”? e daí a expressão “ a vida é dura”, embora nunca tenha ouvido dizer que a vida é tenra…depois tenra idade faz-me lembrar um bife e conotações pouco católicas.
A seguir é a “idade do armário”, talvez porque se não usasse na minha juventude, não sei o que é, mas como deve derivar da palavra inglesa closet, deve ter a ver com a idade fechada, a dos segredos.
A “madura”, toda a gente sabe o que é…uma desgraça, depressa apodrece e como qualquer fruto pode ser saborosa ou não.
Depois vem a "meia-idade", que como o próprio nome o sugere, nunca está completa. E agora é ver as pessoas em passinhos curtos, que correr já é difícil, à procura da outra metade da idade, que está onde?..."avançada"
Mas a anteceder a idade "avançada" temos a 3ª idade, que não sei de que ordem saiu pois não há primeira nem segunda.
A par da idade avançada temos a “provecta”, que nos faz vislumbrar uma pessoa de cabelos brancos, olhos meigos de quem soube viver feliz e fez feliz alguém!
Mas cada vez mais as pessoas estão desfasadas em relação a estas classificações, ora vejamos:
A tenra idade é dura de roer…para os pais.
A do armário já não esconde nada… toda a gente vê.
A madura está cada vez mais verde…mais insegura.
A meia-idade anda a fingir que é jovem…com todos os artifícios possíveis.
A terceira recusa-se a aceitar-se e diz que o que conta é o espírito…e assim se vai enganando.
A provecta é a da sabedoria, se lá chegarmos alcançaremos a harmonia se formos capazes de deixar para trás todas as outras bem arrumadas.
Vivam bem cada uma delas!

16.1.05

Os baptizados!

Às vezes ao quererem ser "preciosos" os agentes caiem no ridículo ou compõem uma peça virada para o cómico e a farsa tem lugar de destaque na representação, ora vejam:
Meu marido (que ele pela Igreja continua a ser meu marido...) depois de nos divorciarmos "casou" mais duas vezes; o 2º filho da 2ª mulher foi baptizado no mesmo dia e na mesma cerimónia da minha neta, que é apenas mais nova 1 ano do que ele.
Assim se juntaram pais, avós, filhos, netos, sogros, madrasta, padrasto e enteados.
O padrasto do meu genro, sim, porque o pai, a mãe tinha deixado à espera no altar no dia do casamento, e eu éramos os padrinhos da minha neta, cujos pais não eram casados pela Igreja, como conviria, bom, mas aí ninguém precisava de saber.
Eu era divorciada do pai e avô dos anjinhos que iam a baptizar, que por sua vez era casado com a mãe do menino, disse ele, mas não era nada...
As diligências foram da autoria da madrasta da minha filha, mãe do menino, que fez gosto duma cerimónia bonita na capela do Palácio de Queluz, e assim foi...
Já todos tínhamos chegado, até aqueles familiares da mãe do bebé que não entendiam muito bem certos relacionamentos, mas também ninguém explicou nada, pelo que se mantiveram em silêncio quase todo o tempo, quando apareceu o Sr. Padre...muito nervoso, muito afobado, de batina e escapulário a esvoaçar, com papéis na mão a perguntar pela madrinha da menina, que era eu...
A senhora não pode ser madrinha! A senhora é divorciada!
Mas Sr. Padre..., balbuciei, eu até nem voltei a casar, vivo sozinha com o meu filho!
Ai sim...ai é...então...então, tá bem!...e o Sr....virou-se para o meu marido, de quem eu era divorciada, casado, segundo rezavam os papeis, com a mãe do bebé que ia a baptizar, mas não conseguiu dizer mais nada, olhando a assistência e sem compreender quem era quem no meio daquela família com o mesmo apelido estranho, deu início à cerimónia.
E assim se realizou o baptizado de tio e sobrinha, com a assistência de toda a família onde haviam divorciados, casados de mentirinha, sozinhos mas não tanto, mas todos gente de bem, que até hoje nenhuma instancia superior reclamou.

14.1.05

O IVA!

Depois de ter ouvido o nosso Ministro das Finanças falar sobre o IVA que incide sobre as fraldas que é de 5% e que as directrizes comunitárias obrigam a que se altere para 19%, quando o mesmo imposto sobre os preservativos é de apenas de 5%, fiquei a matutar e filosofando sempre vos digo que se comprardes muitos preservativos e os usardes, não precisareis de comprar fraldas.

Profundo!!!

Os remediados

Nasci, cresci e vivi no meio de uma família de remediados.
E essa “doutrina” acompanhou-me para o resto da vida, com algumas escapadelas que me deixam, ainda hoje, problemas de consciência.
"Se não há, remedeia-se", e lá se iam inventando soluções para suprir às vezes necessidades imediatas.
“No poupar é que está o ganho”, diziam à minha volta e como de pequenino é que se torce o pepino…hoje continuo uma mulher poupada, daí que não me sinta muito infeliz por não conseguir ter aquelas coisas que decididamente estão acima das minhas posses.
As minhas ambições são de outro caris, bem mais humanas.
Aprendi ao longo dos anos truques que levam os outros a pensar facilidades que não existem e a conseguir por meios bem mais modestos resultados satisfatórios.
Enfim, coloco sempre na balança, como qualquer praticante do remedeio, as minhas prioridades e não me tenho dado mal.
Claro que penso ás vezes que se tivesse arriscado um pouco talvez tivesse conseguido outras metas e hoje pudesse estar mais à vontade na vida, mas lutar um dia “per si” também nos faz sentir vivos.
E no fim de contas ser remediado não é ser indigente ou necessitado, é “remediar” com o que se pode ter e não ser infeliz por isso.

11.1.05

A decisão

Ia caminhando pensativamente ao longo do rio, ora olhando a calçada ora fixando a água ao longo da margem.
Tinha que resolver aquele conflito interior que lhe deixava o olhar distante e o peito aflito.
O murmúrio da água era apaziguador e propício à meditação, mas continuava sem saber que caminho tomar naquela encruzilhada de contornos enevoados, sem fim à vista.
A ela competia tomar decisão rápida e capaz, assunto que já teria tido resolução não fosse o caso de ter estado longe tanto tempo.
O Sol bateu-lhe de repente no rosto preocupado e fez-lhe piscar os olhos que, semi-cerrados, se baixaram de novo para o passeio de pedra portuguesa que se estendia a perder de vista, numa curva ao fundo onde o rio levava correnteza.
Entretanto, já um pouco fatigada, sentou-se num banco, no meio dum jardinzinho entre o passeio ribeirinho e a estrada.
Um cachorro passou farejando o chão e olhando de vez enquanto para trás para a dona que lhe segurava a trela solta, deixando-o livremente feliz.
Uma gaivota esvoaçou, planando, à procura de qualquer coisa na margem, resto decerto de algum peixe para comer.
Um barquito a motor passou ao longe formando ondas que vinham bater no paredão, criando ritmos ao sabor da ondulação.
Devia estar maré-cheia pois a brisa ainda trazia odores salgados a maresia.
Uma ambulância passeou a sirene pela estrada e a vida voltou, azeda e triste.
Sempre censurara as pessoas que arrumavam os seus velhos em asilos e lares, por muito recomendados que fossem e agora...a mãe com Alzheimer...uma boa carreira em Bruxelas...
A irmã fugida e o cunhado destroçado...que fazer com estas peças dum puzzles que não havia meio de encaixarem?
Levantou-se, o Sol começava a descer no horizonte e começavam a aparecer os transeuntes do fim da tarde em passeio cadenciado à procura de um pouco de ar puro.
Devagar, caminhou até ao carro, sentou-se ao volante e conduziu-se até ao sítio dos seus dilemas…

10.1.05

Mas não

Atiro com as primeiras palavras e espero que elas me devolvam algum calor.
Mas não.
Nelas encontro o mesmo frio, a mesma ausência.
E é então que me invade o cansaço, postura de braços caídos.
E de repente vejo que o caminho tem sido amiúde sombreado...
Que é feito da raiva? Da revolta das palavras e dos sentimentos?
Para onde foi a força que mantém os "anima" à tona, sem grande sofrimento?
Os Reis já partiram para seus reinos e costumam levar consigo aquela inquietação própria dos tempos.
Mas não.
Está frio dentro e fora de mim e eu tento não desistir!
Olho para mim e tudo em mim resvala para uma apatia desoladora.
Onde está essa outra que caminha tendo beleza no olhar, leveza nas passadas...
Virei minha pele do avesso e não vejo ofensa ou mal dizer, mas as palavras, essas, continuam frias e distantes, anjos caídos...
Há fragilidades escondidas, um mundo de contradições a ultrapassar...
Mas não.

Pantera

Já escolhi...

acho que o branco me fica bem...

Se puder vou ver o Mar, mas o da minha terra, graças à generosidade do Sr. Gil, o dono das mágicas palavras.

7.1.05

seis

Fui amada de várias maneiras,
amei como pude.

Dedilhando

A dimensão universal das coisas torna-nos angustiados.
Quando saímos do nosso bairro e começamos a olhar para o mundo para além das paredes do fim da rua, verificamos que tudo se tornou gigantescamente fora do nosso controle. É então que nos sentimos impotentes para estender o braço e puxar para lugar seguro aqueles que por ventura estão à beira do abismo.
Para quem quiser e puder aventurar-se pelos meandros de outras vidas vai-se sentir pequeno e sem esperança de poder modificar seja o que seja. Há no entanto pessoas capazes de fazer a diferença, de serem um ponto de referência para uma vida inteira, são as mulheres e os homens que com o seu exemplo e os seus actos nos marcam desde logo e para sempre.
Pena é que às vezes não sejam as mais amadas e fiquem distantes dos nossos afectos.
Neste mundo já não podemos viver sós, orgulhosamente ou não, neste mundo global o nosso respirar é o sopro que mantém viva a essência de uma outra existência, dum outro respirar.
Debaixo do mesmo Sol e Lua mas não da mesma bênção!

4.1.05

As Fitas

Quando, por volta de 1949, tendo eu então os meus 16/17 anos, resolvi ir ao cinema sozinha, foi como se tivesse conquistado um troféu, o de rapariga emancipada!
Lembro-me de ter pedido à arrumadora para me dar um lugar ao lado de uma senhora, como convinha, pedido que ela satisfez, com um certo alívio, penso eu agora.
Passava no Cinema Rivoli, no Porto, um filme italiano que eu tinha muito interesse em ver.
Recordo ainda passagens do argumento: jovens candidatas a qualquer coisa ocupam toda uma escadaria, que acaba por desabar, e são as histórias de algumas que nos são narradas, em pinceladas dramáticas, sendo a mais dramática de todas a de uma jovem que, tendo-se drogado, acaba por morrer.
Em geral as sessões tinham dois intervalos, e era na 1ª parte que sempre se exibiam as notícias e os documentários. Alguns cinemas, no intervalo tinham música ao vivo. O fosso da orquestra levantava e os músicos apareciam vindo, como por milagre, das profundezas.
Foi a época da nouvelle vague e do neo realismo italiano, cinema de culto duma juventude virada para os simples divertimentos e os inocentes "jogos", dos bailes com suas valsas, tangos e fox-trotes e dos amores castos.